Por Jullyanna Salles
A vida toda, Paula ouviu comentários sobre sua semelhança com a avó, Inezita Barroso. Quando mais nova, não gostava muito das comparações com uma mulher décadas mais velha; levava como ofensa, “coisa de adolescente”, brinca. Anos depois, acompanhada dos filhos ainda pequenos, assistiu a um filme estrelado pela cantora e lidou com a difícil tarefa de explicar aos garotos que a atriz na TV não era ela mesma. E foi assim que se deu conta de que carregava os traços familiares mais famosos.
Essa foi apenas uma das situações em que a semelhança com Inezita Barroso se manifestou na vida de Paula. “Turistando” em Paris (França), foi abordada por um estranho no ônibus: “Um cara me cutucou e falou ‘Vocês são brasileiros, né?’. Respondi que sim. ‘De São Paulo, né?’. Confirmei já achando bem esquisito. Daí ele terminou: ‘E você é a neta da Inezita Barroso, né?’ ”. Era uma pessoa que tinha trabalhado com a minha avó na TV Cultura”, conta rindo.
Tímida para os palcos, Paula também seguiu a carreira artística, mas distante do público. Artista plástica, destaca que a semelhança com a avó não se restringe ao físico: “Somos muito determinadas, sabe? Não interessa se alguém fala que não pode, se a gente encanar que é aquilo que quer fazer, não tem quem consiga fazer a gente mudar de ideia”.
Seja por sua carreira inserida em um meio predominantemente masculino, seja pelo divórcio quando esse processo ainda era um tabu ou pela viagem de jipe pelo Brasil estudando a cultura do país acompanhada apenas pelo cunhado e por um amigo, Inezita nunca seguiu o modelo esperado de mulher. Essa personalidade refletiu-se também na sua atuação junto da família.
Paula conta rindo de como Inezita fugia do tradicional papel de idosa comedida e pacata: “Lembro de uma vez quando meus filhos eram pequenos, 4 ou 5 anos, eu estava em São Paulo e liguei para ela, convidando para jantar. Ela escolheu ir num rodízio de churrasco. Uma senhora comendo rodízio no jantar durante a semana não é muito comum, mas era a minha avó, ela era assim mesmo. Minha surpresa veio com o horário: ‘Ah, venha me pegar umas 22h30, 23h’. Mudei os planos, né? Não levei meus filhos – que já estariam dormindo a essa hora. A resposta dela foi: ‘Sim, deixa as crianças em casa e vamos, temos mais tempo para conversar’. Isso foi há uns dez anos, ela já tinha seus 80 anos e não era nada do que se espera de uma avozinha”.
Em geral, o contato de Paula e seus filhos com Inezita era intenso. Viam-se toda semana, mas em vez do típico almoço de domingo eles se reuniam à noite na casa da neta para comer pizza. A avó chegava acompanhada do violão e cantava para os bisnetos a noite toda. A artista plástica ressalta que, apesar da morte, a figura de Inezita Barroso ainda é muito forte em sua família: “Meus filhos têm muitas memórias dela, já eram grandes quando ela faleceu. Um deles hoje toca guitarra (para desespero dela, eu imagino) e sempre fala coisas do tipo ‘Acho que a bisa é que me inspira a tocar’”.
A Ocupação Inezita Barroso, por coincidência, abre no dia do aniversário de Paula, 27 de setembro. Ao saber da data, a neta ri: “É minha avó mexendo os pauzinhos lá de cima”.