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Rumos 2015-2016: Retrato Falado

No Rio de Janeiro, o projeto Retrato Falado leva a narrativa e a produção fotográficas e as questões de identidade para jovens em...

Publicado em 21/06/2017

Atualizado às 10:54 de 03/08/2018

Por Cassiano Viana

No Rio de Janeiro, o projeto Retrato Falado leva a narrativa e a produção fotográficas e as questões de identidade para jovens em conflito com a lei, internos em unidades do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase) do estado. Entre as ações do projeto, contemplado pelo programa Rumos Itaú Cultural, estão a realização de oficina de fotografia artesanal pinhole, a produção de autorretratos e a gravação em áudio de narrativas sobre as imagens produzidas.

A oficina de fotografia artesanal começou em janeiro de 2017. São realizadas duas aulas semanais, às segundas e quartas.

As aulas foram iniciadas com as meninas internas no Centro de Socioeducação Professor Antonio Carlos Gomes da Costa (CENSE PACGC), na Ilha do Governador. Participam atualmente da oficina 12 meninas. "No início eram 15, mas algumas saíram pois cumpriram a medida socioeducativa", conta Tatiana Altberg, designer e fotógrafa.

"Na primeira etapa tivemos a construção, junto com as meninas participantes da oficina, das câmeras de visualização e das câmeras artesanais pinhole, feitas com latas de alumínio", conta.

A segunda etapa foi a da experiência de fotografar com a lata. "Começamos a testar as câmeras para ver se estavam funcionando. Esse foi também o primeiro contato das meninas com este processo artesanal de fotografia: entrar no laboratório para carregar a câmera com o papel sensível à luz, ficar muitos segundos fotografando (expondo o papel à luz, por meio do buraco de agulha da câmera) e finalmente relevar o negativo no laboratório", lembra.

Às terças, são realizadas sessões individuais de escuta em que as meninas participantes da oficina relatam imagens que por algum motivo marcaram suas vidas. Os relatos são gravados em áudio e, em outra etapa do projeto, serão utilizados em uma instalação sonora.

"As sessões são bem intensas. Sinto nas meninas uma grande necessidade de falar sobre suas vidas, suas histórias, as relações familiares e sociais", conta Tatiana. "Creio que este ambiente de escuta que proponho seja para elas um modo de sair pelo menos por um momento do enclausuramento, tanto físico quanto emocional. Me parece que há uma grande necessidade de serem escutadas", avalia.

O projeto também está fomentando a leitura do grupo. "Nos surpreendemos com a voracidade com que elas têm lido os livros que emprestamos. E trocam umas com as outras depois que terminam", comemora.

Além da leitura, o projeto vem estimulando a escrita. "A ideia da escrita é que funcione como uma espécie de diário, um interlocutor para lidarem com o cotidiano. Como não podem levar as câmeras para dentro da unidade do PACGC, propusemos que usem a escrita como uma forma de fotografar imagens que veem e vivem durante os dias que passam ali", explica.

A próxima oficina do projeto será realizada na unidade de internação masculina Educandário Santo Expedito (ESE), em Bangu, para outros 12 jovens.

Tatiana conta que este processo todo gera bastante curiosidade e empolgação. Depois das primeiras fotografias, são escaneados os negativos digitalmente e passadas as imagens para o positivo. "Estamos propondo exercícios fotográficos de autorrepresentação", avalia.

"A proposta do projeto Retrato Falado é revelar as imagens veladas desses meninos e dessas meninas. Usamos essa ideia do retrato falado – em que alguém descreve verbalmente um indivíduo para constituir uma imagem – para discutir questões acerca das construções preconceituosas das imagens desses jovens", diz.

Ela diz que instigar os adolescentes internos no Degase a produzir imagens de si, de suas vidas, e a narrar eles mesmos suas histórias é uma forma de questionar e desconstruir os estereótipos. "Criar outras imagens e outras narrativas, sair do círculo da descriminação e do medo é um modo de revelar a beleza e a potência desses jovens", reforça.

As imagens produzidas pelos participantes do projeto serão exibidas em uma publicação virtual no segundo semestre de 2017. As outras imagens relatadas verbalmente, os retratos falados, serão exibidas em uma instalação sonora, também no segundo semestre. A instalação deverá acontecer em alguns lugares na cidade do Rio de Janeiro ainda a serem definidos.

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