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Para começar a ouvir Nick Drake: pesquisador comenta os três discos do músico inglês

Idealizador do projeto Nick Drake: Lua Rosa, Eduardo Lemos traz suas impressões sobre a obra que pesquisa há quase uma década

Publicado em 18/04/2019

Atualizado às 16:37 de 18/04/2019

por Marcella Affonso

Hoje considerado ícone da música folk e influência para diversos outros artistas que o sucederam, o tímido músico e compositor britânico Nick Drake (1948-1974) morreu jovem, aos 26 anos, e desconhecido do grande público. Sem ter realizado ao menos uma dezena de shows, deixou três álbuns gravados em estúdio – os quais, apesar de terem tido pouca repercussão quando lançados, vêm sendo reconhecidos como alguns dos mais originais produzidos nas últimas décadas.

Para celebrar sua vida e sua obra, nos dias 27 e 28 de abril a Sala Itaú Cultural recebe o show Nick Drake: Lua Rosa, espetáculo gratuito que conta com a participação dos cantores Blubell e Gui Amabis – a apresentação integra o projeto homônimo, que se desdobra em outras ações inéditas em homenagem ao artista. “Pink Moon” é o nome de sua música mais conhecida e também do seu último disco produzido, lançado em 1972. Antes dele, gravou Five Leaves Left (1969) e Bryter Layter (1971).

Pensando naqueles que ainda não conhecem o trabalho de Drake, conversamos com o idealizador do projeto, o jornalista e pesquisador Eduardo Lemos, que comenta os aspectos técnicos e conceituais de cada um dos três álbuns lançados, além de dar suas impressões sobre eles. Há quase dez anos estudando a obra do artista, Eduardo sugere: “Acho que o melhor caminho é escutar os discos com atenção. [...] Pode ser uma boa perceber o violão primeiro, é realmente mágico ouvi-lo tocar qualquer uma delas. E recomendo fechar os olhos para ver se começa uma viagem, como foi comigo”.

Eduardo Lemos, em 2018, em visita ao local onde Nick Drake viveu e está enterrado (imagem: acervo pessoal)

Five Leaves Left (1969)

“Traz algumas das principais canções de sua obra: 'River Man', 'Cello Song', 'Day Is Done'. É a primeira colaboração dele com Joe Boyd, produtor que também trabalhou com Pink Floyd e [Jimi] Hendrix.  É preciso lembrar que ele está com 21 anos de idade, mas o dedilhado de seu violão já é impressionante; as letras mostram um letrista com domínio raro da língua (Nick foi estudante de literatura na universidade) e todas as canções carregam essa atmosfera muito própria, entre o violão e a orquestração, o que deixa tudo tão próximo do folk inglês quanto da música clássica. A crítica o recebeu de maneira um pouco desinteressada. Devia mesmo parecer um disco demodé para o ano de 1969, mas 50 anos depois ele faz mais sentido que muitos dos álbuns que respondiam apenas às inquietações da época.”

Músicas indicadas: “Cello Song” e “Saturday Sun”

Bryter Layter (1971)

“Numa resenha, a revista Rolling Stone chama este disco de o mais 'agradável' dos três. Eu tendo a concordar. Baixo e bateria são protagonistas aqui, resultado de uma tentativa de Boyd de tornar o som 'mais pop', como ele mesmo já disse. 'One of These Things First' e 'Hazey Jane II' são músicas alegres – dizem que o Belle & Sebastian não existiria se não fosse 'Hazey Jane II'. Outra de andamento mais feliz, 'Poor Boy' é a canção que nos faz ter certeza de que Nick escutou bossa nova (se conheceu a obra de João Gilberto não sabemos, mas há relatos de que ele ouvia discos de Astrud Gilberto na universidade). E há 'Northern Sky', possivelmente a segunda canção mais conhecida de sua obra, que volta e meia aparece em trilhas sonoras de filmes românticos. Devo acrescentar, do meu gosto pessoal, a faixa de abertura, 'Introduction', faixa instrumental que considero uma de suas peças mais bonitas."

Músicas indicadas: “Hazey Jane I” e “Northern Sky”

Pink Moon (1972)

“É o oposto dos primeiros álbuns. Foi gravado em apenas duas noites em fevereiro de 1972. São 11 músicas, que somam apenas 28 minutos. Quem mais consegue criar uma obra-prima em tão pouco tempo? As primeiras quatro canções ('Pink Moon', 'Place to Be', 'Road' e 'Which Will') são exemplos de complexidade no desenho harmônico e de simplicidade na execução. Sinto que suas letras estão mais diretas, e algumas soam como haicais (especialmente 'Road' e 'Know'). Sua depressão na época atingia o ápice, e é quando ele deixa Londres para retornar à casa dos pais. [...] Algumas pessoas já me disseram que é o disco mais triste dos três. De fato, esta é uma fase bem difícil pessoalmente, tanto que ele nos deixa dois anos depois do disco ser lançado. Mas, para mim, parece o encontro dele consigo mesmo, ao menos musicalmente. 'From the Morning', a última música deste que foi seu último disco, é uma canção solar e esperançosa, e gosto de pensar que essa é a sua mensagem final antes de partir.”

Músicas indicadas: “Pink Moon” e “Know”

[EXTRA]

Coletâneas

Eduardo fala ainda sobre as coletâneas gravadas em casa por Nick Drake. “Eu indico todas, mas especialmente uma, Family Tree, em que o encontramos cantando músicas em casa na companhia de sua mãe e de sua irmã. É um momento muito íntimo. Às vezes você escuta barulho de copos ou gente se movimentando. Como não há nenhum material em vídeo do Nick, vejo este disco como o mais próximo que chegaremos de sua intimidade.”

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