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A frieira de Gisele

Olhei. Olhei discretamente mais uma vez e depois foi indiscreto meu olhar para a micose de Gisele...

Publicado em 26/11/2018

Atualizado às 19:32 de 23/11/2018

Por Um por Todos – Raquel Virginia e Um por Todos – Raquel Virginia

Olhei. Olhei discretamente mais uma vez e depois foi indiscreto meu olhar para a micose de Gisele. 

Como ela tinha frieira no pé? 

Ela era Gisele. O símbolo do impossível. O dream mais dream de todas as girls! A neo Garota de Ipanema. O outdoor humano de todas as boas marcas. 

Pois então era ali naquele corpo que habitavam esses monstrinhos que coçam.

Micose é uma desgraça gostosa e fedida. Que dá prazer e vergonha. A gente vira os olhos esfregando com sadismo. 

Gisele Bündchen recentemente lançou a autobiografia "Aprendizados" (imagem: Record/divulgação)

Mas o espanto era Gisele ter a maldita nos pés. Se me dissessem, eu não acreditaria. Meu olhar testemunhava o fato. A veracidade de que a perfeita Gisele tinha os pés com bicheira. 

Será que nunca ninguém viu? Nunquinha? 

Em mim, um gozo fatal. Era ótimo ver a micose de Gisele, ver que em tudo existe uma verdade genuína e que muitas vezes é banal como essa. 

Comecei a rir. Me deparar com o torpe de uma deusa moderna e contemporânea era anticristão.

Foram dias pensando naqueles pés que qualquer indústria de calçados, hidratantes, meias, alicates, cortadores de unhas, lixas, esmaltes, sabonetes pagaria milhões para anunciar. 

Semanas seguiram e tive a sensação de que estava vivendo uma obsessão. Noite sim e na outra também vinha a imagem icônica do pé valioso e com creca. 

Me dei a pesquisar a vida dela. Ver fotografias na internet que tivessem vestígio do pé de atleta que habitava e consumia o pé da uber. Nada. Nem nas imagens sem pretensão e sem retoques elas apareciam. 

Passei a me questionar. Serei louca? 

Não é possível! Aquela imagem ficou próxima a mim, pois mirei pelo tempo necessário – vi por tantos ângulos e ao vivo e a cores, e isso me dava o veredito final.

Decidi, então, contar o que estava acontecendo ao meu namorado. 

— Louca!

Ele gargalhou, me acusando de ter usado substâncias alucinógenas que nunca usei. Fui insistente na afirmação, usei toda a minha retórica, meus conhecimentos das técnicas de convencimento do convincente Padre Antônio Vieira, meu bom humor, meu mau humor, meu carisma, minha grosseria – sacudi a cabeça do meu companheiro e nada fazia com que ele acreditasse nas dermatofitoses de Gisele. 

Que fama incrível. Que unanimidade poderosa Gisele tem a seu favor. O corpo, a saúde e a beleza dela atingiram o lugar do irretocável e inquestionável. Um fenômeno unânime. Se a própria aparecesse e mostrasse suas micoses, a audiência por certo mudaria de assunto pois os cabelos loiros, lisos, perfeitamente hidratados e seus olhos cor verde europeu ofuscariam qualquer frieira. 

Chega! Era necessário que eu superasse as divagações que me levavam a esse assunto. Prometi nunca mais pensar nisso.

Certo dia acordei apressada porque atrasada. Me arrumei correndo, pedi um carro e voei para o aeroporto.

Quando cheguei para embarcar me deparei com uma imagem. Era ela. Era ela outra vez. Gisele se tornou garota propaganda de uma marca de calçados. Na foto ela estava de sandálias e no pé, óbvio, havia destaque. Fiquei olhando o pé, a dona do pé, o logo da marca, a sandália, o painel, o aeroporto, as pessoas. Olhei para o relógio que estava em cima da foto de Gisele. Ou entrava de vez ou perdia meu voo. Quando dei dois passos, ouvi: “Linda essa sandália da Gisele, quero comprar!”.

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