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A música como ferramenta da memória

A música como ferramenta da memória   O estado do Ceará, assim como tantos outros no Brasil, so...

Publicado em 26/06/2018

Atualizado às 11:49 de 03/08/2018

O estado do Ceará, assim como tantos outros no Brasil, sofreu forte influência das culturas africanas quando a escravidão era a principal ferramenta para a manutenção das atividades de cultivo do café e da cana-de-açúcar no período colonial. Com ações abolicionistas de parte da elite e de algumas camadas médias da população, o Ceará recebeu o apelido de Terra da Luz e se tornou a principal província na luta pelo fim da escravidão.

Vale lembrar que as comunidades escravas naquele período formavam irmandades que reproduziam em diversas localidades suas tradições culturais e musicais, criando o que ficou conhecido como a gênese das congadas e dos maracatus naquela província. São várias as manifestações culturais que se desenvolveram em cidades do Ceará, como Sobral, Aracati, Içó e principalmente Fortaleza. Foi a partir desse referencial histórico que Inês Mapurunga, pesquisadora, cantora, compositora e produtora cultural, iniciou um trabalho de revalorização dessa tradição cultural, atuando por anos no Carnaval, em parceria com o artista plástico, carnavalesco e mestre de maracatu Descartes Gadelha.

Todos esses anos de atividade propiciaram a Inês um entendimento mais aprofundado dessas tradições. “No convívio com essa musicalidade de herança africana busquei conhecer mais nossa cultura ancestral. Dessa forma, fui compreendendo sua grandiosidade e sua riqueza”, diz ela. “Assim, são 21 anos nessa parceria com Descartes Gadelha em prol de nossa cultura afro-brasileira, aqui no Ceará, criando e compondo para várias agremiações de maracatus, afoxés, escolas de samba etc.”

O trabalho de Inês e Descartes tem importância fundamental para o resgate da memória e do patrimônio cultural do Ceará, pois a revalorização das culturas afro-brasileiras a partir dos ritmos musicais auxilia no entendimento da própria identidade do povo cearense e evidencia a influência das comunidades negras na formação cultural do estado. Inês nos conta que foi a partir dessa parceria de anos que surgiu a ideia de “registrar essa produção artística, realizada nos últimos 21 anos para os desfiles de dez agremiações de maracatus e de um grupo de afoxé da cidade de Fortaleza e alguns outros batuques, para servir de acervo musical e contribuir para a memória do maracatu cearense”.

Nasceu, então, a iniciativa Maracatus, Afoxés, Coroações, Rezas e Outros Batuques, que resultou em um livro e três CDs com diversas músicas da tradição afro-brasileira. Trata-se, portanto, de um projeto de memória que tem na música negra o cerne da pesquisa. Inês participou da criação das 48 faixas, da realização da pesquisa, organização, produção editorial, execução, direção artístico-musical e projeto gráfico do livro-CD. Descartes gravou todos os instrumentos percussivos nas 48 faixas.

A tiragem de livros-CDs foi de mil exemplares, e promoveu-se um show de lançamento no Cineteatro São Luiz, no dia 15 de janeiro de 2017, com duração de duas horas, para a apresentação de 23 cantigas que constam no material. As cantigas selecionadas para o espetáculo mostraram os 11 ritmos trabalhados no projeto e foram apresentadas de maneira a recontar a história desde a diáspora negra até a pomposa alegria da coroação da rainha, vivenciada no maracatu. Uma experiência de tradição, história, identidade e muita musicalidade.

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