O show Negras Vozes em Travessia e a Orquestra de Tambores de Aço compõem o evento
Publicado em 07/08/2018
Atualizado às 16:47 de 16/04/2021
Uma fala que se une a outra fala que se une a outra fala que se une… Eis o caminho para que uma potência maior surja. Essa junção forte é o cerne do espetáculo Negras Vozes em Travessia, reunião de Juçara Marçal, Nega Duda e Dani Nega, cantoras que, unidas por tramas e palcos, intensificam seus discursos, suas obras e seus sentimentos. Para engrossar o coro musical, Luz Ribeiro, Mel Duarte e Vic Sales trazem suas palavras poéticas afiadas em prol de um debate, um evocar de expressões de artistas negras, o desejo de um organismo coletivo em que as demais vozes, hoje emudecidas, também ecoem e sejam ouvidas.
O show, dirigido pela atriz Naloana Lima e marcado para as 19h, é antecipado pela apresentação da Orquestra de Tambores de Aço, às 18h, no foyer. Parte do projeto Garoto Cidadão, da Fundação CSN, a banda, cujo começo remonta há 57 anos, busca congregar educação, assistência social e enaltecimento da cultura. Duas cenas distintas que, no âmago, se ligam a uma essência: colocar a margem no centro, democratizar o dizer. O cantar. O declamar. O tocar. O ser.
De espelho em espelho
Aos olhos de Naloana Lima, Estéticas das Periferias é “uma colheita vinda da Agenda da Periferia, revista mensal que dá visibilidade a artistas e promove pontes entre turmas periféricas da cidade de São Paulo”. E completa: “Acredito que é uma celebração de escolhas estéticas e conceituais semelhantes”. Participante dos grupos Clariô de Teatro e Clarianas de Música, a intérprete cênica crê no entrelaçamento de linguagens e pessoas e, por isso, sentiu-se honrada com o convite para ser curadora do evento.
Alicerçada no par raça e gênero, a diretora aprofundou-se nos trabalhos de mulheres negras que, cada uma por meio de valores próprios, se destacam pela palavra bem dita. “Trata-se de um espetáculo contemporâneo que não nega a sua ancestralidade. Essas vozes negras emergem do silêncio e ganham, no ao vivo, a dimensão histórica necessária a um país tardiamente em transição”, explica Naloana.
À luz da filósofa estadunidense Angela Davis, que defende a incumbência de “erguer-nos enquanto subimos”, a condutora da iniciativa é inundada por um arrebatamento em relação aos nomes que estrelam o show. Para a atriz, Juçara Marçal possui “um sopro sonoro que atravessa tempos e espaços”. Já Nega Duda é uma Rainha Quelé, aquela que mostra, em seu repertório, os “Cantos dos Escravos”, de Clementina de Jesus. Dani Nega põe-se à frente do agora, época sua, e tece “uma excelente reflexão sobre o lugar da mulher preta em nossa sociedade”. Pelas poetas, Naloana nutre admiração grande, sem meio-termo: “Luz, Mel e Vic, com falas emergenciais, abordam o presente”.
Tem-se uma apresentação na qual o protagonismo é, por direito, das Mulheres Negras. Com letras maiúsculas e tudo. A diretora, que é orquestradora e plateia concomitantemente, sente-se grata e representada pelas mulheres que são esperadas no Auditório Ibirapuera. Repleta de uma boa expectativa, Naloana sintetiza a robustez do encontro do dia 26 de agosto: “Negras somos, vozes temos e a travessia se faz necessária”. Um inevitável que, de espelho em espelho, constrói um mundo outro.
abertura do Encontro Estéticas das Periferias
domingo 26 de agosto de 2018
às 18h
Foyer do Auditório Ibirapuera | Orquestra de Tambores de Aço do projeto Garoto Cidadão, da Fundação CSN
[duração aproximada: 60 minutos]
Entrada gratuita [a apresentação será no foyer do Auditório Ibirapuera]
às 19h
Plateia interna | Show Negras Vozes em Travessia [com interpretação em Libras]
[duração aproximada: 90 minutos]
Entrada gratuita [distribuição de ingressos uma hora e meia antes do início do espetáculo (dois ingressos por pessoa. Sujeito à lotação da casa)]
[classificação indicativa: 12 anos]
abertura da casa: 90 minutos antes do espetáculo