Acessibilidade
Agenda

Fonte

A+A-
Alto ContrasteInverter CoresRedefinir
Agenda

"Acrópole", "Habitat" e "Módulo": as primeiras revistas de arquitetura do Brasil

Conheça a história de três grandes revistas de arte e cultura que, entre outros assuntos, retrataram a arquitetura

Publicado em 30/04/2020

Atualizado às 17:51 de 29/04/2020

por Cassiano Viana

O Brasil contou com pelo menos três importantes publicações sobre arquitetura: as revistas Acrópole, Habitat e Módulo. Publicada entre maio de 1938 e julho de 1971, como um periódico mensal, a Acrópole teve nada menos que 391 edições. Era uma revista comercial, voltada para a publicidade. Não foi uma publicação de vanguarda ou de tendências, como as outras duas.

"Quando ela surgiu, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, a arquitetura moderna ainda buscava sua (auto)afirmação em meio às múltiplas orientações que ainda dividiam a prática arquitetônica no mundo ocidental", escreve Hugo Segawa, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), no site que reúne todas as edições da revista.

Segundo ele, nas décadas de 1950 e 1960, não havia arquitetos ou estudantes de arquitetura efetivamente engajados nesse ofício que não consultassem ou colecionassem a revista. A primeira edição homenageava o engenheiro e arquiteto Ramos de Azevedo, segundo o editorial da revista, um dos "vultos mais destacados da engenharia nacional" e um símbolo da capacidade criadora brasileira. Entre os projetos de Azevedo destacados na edição estavam o Theatro Municipal de São Paulo, o Liceu de Artes e Ofícios – hoje Pinacoteca do Estado de São Paulo – e o Palácio das Indústrias.

Capa da primeira edição da revista Acrópole (maio de 1938) (imagem: divulgação)

O número 1 da Acrópole trazia ainda textos sobre as novas tendências da arquitetura monumental europeia e informações sobre projetos como Cine Metro – construído pela Companhia Construtora Nacional para a Metro Goldwyn Mayer (MGM), nos mesmos padrões das salas da MGM no mundo – e Edifício Esther, de Alvaro Vital Brasil e Adhemar Marinho.

A mais longeva das três revistas, publicada durante 33 anos, a Acrópole teve dois editores: Roberto A. Corrêa de Brito, que lançou a revista; e, a partir de 1953, Max M. Gruenwald, que a dirigiu até a última edição, em 1971.

Habitat, revista das artes

Criada por Lina Bo Bardi e Pietro Maria Bardi, a Habitat, revista das artes do Brasil, foi publicada pela primeira vez em 1951, como veículo oficial formador e de divulgação das aquisições e das atividades do recém-criado Museu de Arte de São Paulo (Masp), sinalizando, segundo a arquiteta inglesa Jane Hall, a ambição de seus editores de sintetizar o discurso cultural em um país que definia os termos de sua própria identidade moderna. A revista, que publicava matérias sobre arte, arquitetura, design, cinema, teatro, música, fotografia e outras temáticas, durou 25 números, até 1965, contribuindo imensamente para promover as artes no Brasil.

Capa da primeira edição da revista Habitat (1951) (imagem: divulgação)

Escreve Lina Bo no editorial da primeira edição da Habitat: "A história das artes no Brasil continua ainda em grande parte inédita: por enquanto não passa de uma crônica contemporânea que progride com surpreendente celeridade. Assim é que o passado tão rico em temas para a reevocação e efervescente atividade do presente não encontrem ainda uma documentação e uma informação adequada à realidade e a sua importância, embora dia a dia aumente o desejo de se conhecer o que se faz no país e fora dele em matéria de arte. Basta para tanto refletir sobre o extraordinário incremento da arquitetura moderna, o impulso dado à cultura pelos novos museus, as afirmações da pintura, o surto das artes industriais, para não falar da difusão da música e da sua divulgação para além das fronteiras, e do entusiasmo com que está sendo encarado o problema do teatro e do cinema", observa, acrescentando que a revista sairia a cada três meses em caráter experimental, traçando o conjunto dessas atividades.

Pelo envolvimento de seus editores com a arquitetura moderna brasileira, esse tema ocupava lugar especial na revista – o primeiro número da Habitat elege como personagem Vilanova Artigas e seus projetos de residências – arquiteto que já foi homenageado pelo programa Ocupação Itaú Cultural, em 2015.

Niemeyer cria a Módulo

Capa da primeira edição da revista Módulo (março de 1955) (imagem: divulgação)

Alguns anos depois do surgimento da Habitat, em 1955, Oscar Niemeyer fundou a Módulo, que circulou por dez anos, até 1965 – curiosamente, o mesmo ano da última edição da Habitat.

Em uma carta na qual lembra o momento em que conheceu Niemeyer, em 1946, antes de fundar a Habitat, Lina Bo chega a afirmar que a Módulo foi realmente o "primeiro esforço de revista de Arquitetura no Brasil". "Conheci Oscar Niemeyer em 1946 no IAB [Instituto de Arquitetos do Brasil] do Rio. De terno lilás. Seu ar profundamente melancólico escondia uma vontade de ferro de 'fazer'", escreve Lina Bo, comentando que existia a ideia de uma revista sobre arquitetura Rio-São Paulo, que não vingou. "Assim nasceram duas revistas: Habitat, feita por nós em São Paulo, e Módulo, feita por eles no Rio", conta.

Para Niemeyer, a Módulo – que trazia, entre outros nomes, Rubem Braga no seu conselho editorial – era uma revista de arte, cultura e luta política. A primeira edição foi lançada em março de 1955. "Não depende somente do arquiteto ou do urbanista a imensa tarefa de humanizar a vida moderna. Ele não pode, entretanto, esquecer sua parte da responsabilidade; no momento em que se debruça sobre a prancheta ele deve se lembrar de que o homem não é apenas uma fraca máquina a ser protegida e servida por outra mais sólida chamada casa; é um estranho bicho que tem alma e sentimento, e fome de justiça e de beleza, e que deve ser consolado e estimulado", escreve Niemeyer no editorial da primeira edição. "Módulo quer ser fiel a esta lembrança, e guardar, entre os prodígios da técnica e as fantasias da estética, a singela medida do humano", conclui o arquiteto.

Compartilhe