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Afastamento e aproximação: o universo em expansão de Juliano Gauche

Ao lado de Daniel Lima (contrabaixo), Gustavo Souza (bateria e percussão), João Leão (teclado) e ...

Publicado em 21/05/2018

Atualizado às 18:59 de 09/02/2023

Por Zema Ribeiro

Ao lado de Daniel Lima (contrabaixo), Gustavo Souza (bateria e percussão), João Leão (teclado) e Kaneo Ramos (guitarra) – banda que o acompanha há algum tempo –, além da participação de Edson Van Gogh (guitarra, Jonata Doll e os Garotos Solventes) e Fernando Catatau (guitarra, Cidadão Instigado), Juliano Gauche gravou Afastamento (EAEO Records, 2018) distanciando-se de qualquer possibilidade de rótulo. A cada disco que passa, fica mais difícil colocá-lo numa estante, numa prateleira, sem ter a sensação de que ele deveria estar (também) em outra.

Capixaba radicado em São Paulo, o artista é discípulo natural de Sérgio Sampaio, a cujo repertório chegou a dedicar um disco inteiro acompanhado do Duo Zebedeu (Hoje Não, 2009), entre a Solana Solana, banda de que foi vocalista, e sua estreia solo, com Juliano Gauche (2013).

foto: Haroldo Saboia

Aguardado sucessor de Nas Estâncias de Dzyan (2016), Afastamento abre com “Silmar Saraiva”, que homenageia e toma emprestado o nome de uma figura marcante para Juliano, ainda viva em Ecoporanga, sua cidade natal. “Ele, Seliomar Lobão, Adalberto Albino, Kim Kaveira... Foram esses caras que fizeram minha cabeça, em Ecoporanga. Eles são meus ídolos, meus santos. E a música fala disto: de indivíduos que se machucam atrás de experiências transformadoras, das respostas difíceis, da verdade, da liberdade e de um povo mecanizado, repetitivo, frio, guiado por sistemas de falsas seguranças”, revela.

O título engana, ler Juliano Gauche nunca é tão simples. O artista se afasta de artificialidades, daquilo que critica. Pode viver em um mundo paralelo, inventado por ele – para suportar a barra pesada que é o cotidiano. Sua relação com a esposa/produtora Sil Ramalhete é traduzida em “Pra Festejar em Silêncio”, com a lupa rosiana de Grande Sertão: Veredas. De algum modo é uma música sobre aproximação, o que parece contradizer o título do álbum. Mas ele adverte: “O afastamento está em todas as músicas do disco. Principalmente o afastamento do indivíduo do seu meio. Como também o afastamento do indivíduo de si mesmo”.

“Afastamentos trazem frieza, vazios; mas também alívios, ar, outras forças. Foi isso que mapeou o disco”, continua. Afastamento é também um deslocamento: quem se afasta de algo se aproxima de outro algo. No caso de Juliano Gauche, uma busca incessante de verdade, de personalidade. “Comecei este trabalho [solo] muito subdividido. Era membro de uma banda. Era intérprete das coisas do Sampaio. Trabalhos com personalidades diferentes. E em nenhum deles eu me expressava plenamente. É isso que estou buscando desde o primeiro disco. Talvez por isso tanto deslocamento. Pra me achar. E acho que estou conseguindo”, aposta.

Capa do disco Afastamento | divulgação

Se após três discos já é possível falar em tradição, Juliano repete a de trazer uma parceria em meio a um repertório completamente autoral. No novo álbum ela se dá na música “Tem Dia que é Demais”, composta com Gustavo Macacko, de quem o cantor produziu o disco de estreia. “Dos Cachorros Sisudos”, que fecha Afastamento, é a mais diretamente relacionada ao triste momento pelo qual passa o Brasil. Indagado se é possível se manter alienado, o músico é taxativo: “Só se for um artista conservador, de boas com o sistema. Maconheiros como eu, que não gostam de igreja nem de televisão, e principalmente de ordens militares, vão ter um pouquinho de problema pra ficar quietinhos alienados”.

Afastamento está disponível para audição nas plataformas digitais de música e para download no site do artista, além do disco físico, lançado num show no dia 10 de maio, no Centro Cultural São Paulo (CCSP), na capital paulista, e à venda nas melhores casas do ramo – as que ainda restam. Sobre o consumo gratuito de música na internet, Juliano finaliza: “Quando a pessoa se conecta à minha música, ela agrega valor ao meu trabalho como um todo. Continua tudo refém dos números. As moedas é que agora são outras”.

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