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Ainda há noite: Alejandro Chaskielberg e as pessoas como pixels de uma grande imagem global

Um dos fotógrafos presentes na coletiva Ainda Há Noite, em cartaz no Itaú Cultural, Alejandro Chaskielberg fala sobre a série criada para a exposição

Publicado em 29/07/2019

Atualizado às 11:45 de 17/08/2022

por Cassiano Viana

Durante três anos, Alejandro Chaskielberg morou nas ilhas do delta do Rio Paraná, na Argentina. Nesse tempo, fotografou os ilhéus – pescadores, marinheiros, lenhadores e suas famílias – à noite, recriando cenas diurnas e utilizando sobretudo a luz da lua cheia e uma exposição longa que forçava seus personagens a permanecer imóveis, às vezes por mais de dez minutos.

Essas imagens, um retrato poético do dia a dia das comunidades da região do segundo maior rio sul-americano, foram reunidas em 2011 no livro La Creciente. A publicação ganhou texto de apresentação de ninguém menos que Martin Parr, um dos grandes nomes da fotografia mundial e membro da Agência Magnum.

Parque de la Memoria, obra da série Píxeles, de Alejandro Chaskielberg (imagem: Alejandro Chaskielberg)

“O valor documental dessas imagens é um bônus. Se não soubéssemos quem são essas pessoas ou onde foram fotografadas, ainda assim essas imagens seriam um deleite para os olhos”, escreve o fotógrafo britânico.

A técnica utilizada em La Creciente é a gênese de Píxeles, série que faz parte da mostra coletiva Ainda Há Noite, em exibição até o dia 11 de agosto, no Itaú Cultural, em São Paulo (SP).

Em Píxeles, Chaskielberg evidencia a onipresença dos telefones celulares no mundo atual, em imagens de indivíduos com o rosto iluminado pelo visor dos aparelhos. Vistas de longe, nas fotografias, as pessoas parecem pixels de uma grande imagem global.

A obra Altas Cumbres também integra a série em que Chaskielberg evidencia a onipresença dos telefones celulares no mundo atual (imagem: Alejandro Chaskielberg)

A ideia surgiu durante workshops de fotografia. “Era uma aula noturna e essa foi a maneira que encontrei para iluminar as pessoas, pedindo que usassem seus telefones”, conta. “Pedi que cada pessoa escolhesse uma cor que melhor a representasse”, observa. “Quando vemos as imagens coletivas, tiradas em paisagens noturnas, percebemos que somos todos pontos multicores, dispersos e fragmentados, sobretudo em tempos de redes sociais”, observa. “Por outro lado, nas fotografias em primeiro plano, podemos perceber uma relação mais pessoal, íntima com o celular. Muitas vezes as pessoas parecem hipnotizadas e aprisionadas pelas telas”, afirma.

Chaskielberg acredita que exista hoje uma relação conflitante com o celular. “Há uma dissociação com o presente: estamos aqui, mas às vezes estamos muito mais em outro lugar. Creio que a relação com o celular está se tornando bastante penosa para algumas pessoas, mas prefiro que cada pessoa veja as fotos e tire duas próprias conclusões”, diz.

 

Cassiano Viana é editor do blog About Light.

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