Programação reúne filmes brasileiros que apresentam criaturas reais e fantásticas
Publicado em 06/07/2020
Atualizado às 14:55 de 05/01/2023
De 11 a 30 de julho o Itaú Cultural apresenta uma nova mostra on-line com curtas e longas-metragens. Inspirada no conceito de bestiário, a mostra Álbum Animado de Bestiários reúne filmes que apresentam diferentes criaturas – de animais reais a fantásticos – em um breve percurso pela animação brasileira.
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Os animais sempre estiveram presentes – como protagonistas ou coadjuvantes – em filmes para todos os públicos, trazendo o realismo como fonte de inspiração e o universo fantástico como metáfora para a experiência humana.
Na seleção, filmes considerados marcos para a construção da história da animação brasileira se mesclam a outros mais recentes, que beberam dessas referências.
Álbum Animado de Bestiários – mostra on-line
sábado 11 a quinta 30 de julho de 2020
[os links serão disponibilizados a partir de sábado 11]
Veja a programação abaixo.
Almofada de Penas (Joseph Specker Nys, 2018, 12min)
Alice contrai uma doença inexplicável, enquanto seu marido, Jordão, presencia tudo de modo indiferente. Algo oculto a enlouquece e a enfermidade faz a mulher mesclar realidade a alucinações monstruosas.
Esta adaptação do conto “El Almohadón de Plumas”, do escritor uruguaio Horacio Quiroga (1878-1937), apresenta a criatura como metáfora do sentimento humano ao contar a história de Alicia e Jordão. O curta-metragem de Joseph Specker, selecionado no Rumos 2013-2014, foi elaborado com a técnica stop motion, mas utilizou uma tecnologia específica, criada pela equipe do filme.
[classificação indicativa: 12 anos]
Boi Aruá (Chico Liberato, 1985, 60min)
Inspirada no imaginário nordestino, a animação conta a história de um fazendeiro arrogante e egoísta obcecado pela figura misteriosa de um enorme boi negro que, além de zombar dele, parece desafiá-lo. Inúmeras vezes o fazendeiro tenta capturá-lo, mas falha, o que o leva a se sentir cada vez mais humilhado.
Boi Aruá, primeiro longa-metragem do cineasta e artista visual Chico Liberato, é considerado um dos filmes pioneiros da animação da região Nordeste do país. O personagem-título é um animal encantado que pode assumir a forma que desejar. O longa-metragem dialoga com elementos da cultura brasileira e nordestina – como a xilogravura da literatura de cordel – e elabora uma nova estética e novas representações sobre o sertão.
[livre para todos os públicos]
Brasil Animado (Mariana Caltabiano, 2011, 80min)
Brasil Animado conta a história dos cães Stress & Relax: um empresário que só pensa em dinheiro e um diretor de cinema que vive insistindo para que este invista em seus projetos. Desta vez, o projeto é procurar a árvore mais antiga do país. Curiosidades, danças, músicas e comidas de dar água na boca fazem parte desta viagem que agrada adultos e crianças.
Primeiro longa-metragem de animação dirigido por uma mulher no país e o primeiro a utilizar a técnica da animação 3D. Os animais são antropomorfizados e fazem um passeio pelo território brasileiro, apresentando paisagens, fauna e flora, além de elementos culturais de cada região.
[livre para todos os públicos]
Castillo y El Armado (Pedro Harres, 2013, 13min)
Castillo, um jovem estivador, divide seu tempo entre os tapetes que tem de carregar, sua família e uma vara de pesca. Numa noite de ventania, ele encontra sua própria brutalidade na linha do anzol.
A obra é baseada numa história do animador uruguaio Ruben Castillo, também diretor de arte e protagonista do curta. A relação entre o estivador e a brutalidade com que conquista seu peixe pode remeter à obra O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway. O filme de Pedro Harres é uma produção do animador Otto Guerra e recebeu mais de 55 prêmios e menções e circulou em muitos festivais importantes, como Veneza e o Anima Mundi.
[livre para todos os públicos]
Giz (Cesar Cabral, 2015, 10min)
Um homem vive a rotina sem descanso numa imensa corporação. Incapaz de se relacionar com sua colega de trabalho, ele será questionado por um sonho hipnótico a ponto de não mais perceber se está realmente acordado.
Neste curta realizado com recurso de técnica de animação stop motion, ou seja, com fotografia quadro a quadro para criar o efeito de movimento, há uma confusão entre o real e o onírico. No filme, o sonho de um trabalhador da Avenida Paulista se mistura com galinhas que sonham com outras galinhas para elaborar uma crítica ao dia a dia nas cidades. O diretor Cesar Cabral brinca com as fronteiras entre o que é real e o que é ficcional a partir dos animais que se tornam humanos e humanos que se sentem como animais.
[livre para todos os públicos]
Meow! (Marcos Magalhães, 1981, 8min)
Um gato esfomeado fica sem leite e é convencido a tomar certo refrigerante. Será ele mais uma vítima da globalização? Terá ele salvação?
O curta é considerado um símbolo que levou a animação brasileira a importantes festivais do mundo, abrindo caminho para o reconhecimento conquistado na área desde então. Meow! faz uma crítica à globalização e aos padrões de consumo, com ironia e humor que podem divertir crianças e adultos ao oferecer diferentes profundidades de leitura.
[livre para todos os públicos]
Passo (Alê Abreu, 2007, 4min)
Um pássaro e sua gaiola.
O curta-metragem Passo é uma obra para adultos e crianças. Surgido de experimentos para outros projetos do cineasta Alê Abreu, ele acabou ganhando vida própria. Representa um exercício poético metalinguístico utilizado também em outras obras de animação brasileiras. No filme, ao mesmo tempo que o criador apresenta seu processo criativo e se coloca dentro da obra, a criatura, um pássaro, ganha formas e desejos de liberdade – ou será que são apenas as vontades de seu criador? Alê Abreu é um dos nomes mais reconhecidos da animação no mundo; seu mais recente filme, O Menino e o Mundo (2013), conquistou mais de 50 prêmios.
[livre para todos os públicos]
Poética de Barro (Giuliana Danza, 2019, 6min)
Bucólico, delicado e sensível, o curta-metragem é animado em stop motion com argilas do Vale das Viúvas de Maridos Vivos (Jequitinhonha). Baseada no trabalho de ceramistas mineiras e com trilha original composta por instrumentos de cerâmica, a obra retrata a saga de uma pequena criatura que precisa sobreviver às vicissitudes da vida. Se todas as barreiras serão transpostas, apenas vendo para descobrir.
O que menos importa neste curta-metragem é identificar a qual reino animal pertence a criatura deste filme realizado em stop motion, mas reconhecer o seu desejo e a sua luta pela sobrevivência. Sem diálogos, a narrativa é contada de forma poética, utilizando recursos naturais da região de origem da diretora mineira. Formada em artes visuais, Giuliana Danza é uma das representantes da animação mineira no grupo de Lideranças Femininas do Audiovisual, cofundadora do Coletivo Mineiro de Animação (Coma) e membro ativo da Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA).
[livre para todos os públicos]
Tito e os Pássaros (Gabriel Bitar, Gustavo Steinberg e André Catoto, 2019, 73min)
Um menino e seus dois amigos partem para encontrar a pesquisa perdida de seu pai sobre canções de pássaros, algo que pode salvar seu mundo de uma epidemia na qual o medo adoece as pessoas.
O longa-metragem, que levou oito anos para ser finalizado, utiliza-se de pássaros alegóricos para apresentar uma narrativa atual e crítica sobre uma espécie de epidemia de medo que assola o mundo. Com clima e assuntos bastante assustadores, o filme ganhou o Prêmio de Melhor Longa Infantil no Anima Mundi.
A linguagem dialoga diretamente com o movimento expressionista das artes visuais, especialmente com a obra de George Grosz (1893-1959) – expoente do movimento na Alemanha –, seja pelo traço que lembra pincelada, seja pelas cores usadas como recurso para promover variações de climas e sensações para o espectador. O filme teve destaque em grandes festivais, como o de Annecy, considerado o principal do gênero, e foi pré-indicado do Brasil ao Oscar de Melhor Animação de 2019.
[livre para todos os públicos]
Tyger (Guilherme Marcondes, 2006, 5min)
Um enorme tigre aparece misteriosamente numa grande cidade. Ele vai revelar a realidade escondida numa noite, que poderia ter sido como qualquer outra.
Com seu tigre, o diretor Guilherme Marcondes faz uma crítica ao modelo contemporâneo de vida e ao desenvolvimento humano das megalópoles e valoriza o triunfo das forças da natureza. Também é possível relacionar as questões apresentadas no filme com o atual contexto do mundo: em que medida não é o homem que está causando a sua própria destruição? O curta, realizado com a técnica de animação de recortes em 3D, recebeu mais de 30 prêmios e foi inspirado pelo poema “O Tigre” (1974), de William Blake.
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