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Gestão e políticas culturais em Porto Rico

O porto-riquenho Javier Hernandez Acosta é pesquisador e músico. Em conversa com o Observatório durante o seminário Políticas e Gestão...

Publicado em 11/02/2016

Atualizado às 10:19 de 03/08/2018

O porto-riquenho Javier Hernandez Acosta é pesquisador e músico. Em conversa com o Observatório durante o seminário Políticas e Gestão Cultural na América Latina no Século XXI: Diálogos e Reflexões, ele comentou a situação das políticas culturais em Porto Rico e, entre outras questões, falou sobre o seu projeto voltado para empreendedores do setor criativo, o Inversão Cultural.

Na condição de artista e pesquisador, como você avalia a situação das instituições culturais em Porto Rico?

Porto Rico acaba de completar um importante exercício de desenho de políticas culturais. Tivemos a oportunidade de repensar a cultura a partir de outras dimensões, além daquelas às quais estávamos acostumados. Pensar a cultura como parte da infraestrutura do país, e não somente apenas como um componente adicional, é vital para avançar com o tema. Esse processo se deu a partir de uma metodologia participativa, algo de que o país também necessita. Desenvolvemos ainda um estudo a respeito dos sistemas de informação e sobre o consumo e a produção culturais como ferramentas para a tomada de decisões. O documento final contempla os processos para seguir atualizando as políticas culturais, as artes, os patrimônios material e imaterial, as indústrias culturais e criativas, a internacionalização, a educação e outros temas transversais, como o racismo e a equidade de gênero. Nosso objetivo agora é a implementação das políticas culturais. A crise econômica fez com que deixássemos de ser uma prioridade na agenda do governo. Temos que seguir insistindo na cultura como elemento central de desenvolvimento. Ainda nos resta muito a fazer.

Conte-nos um pouco sobre as experiências de gestão cultural compartilhada em Porto Rico. Como esse modo de trabalho no setor cultural pode funcionar?

Em Porto Rico temos uma experiência muito rica com o cooperativismo – ele é muito importante na sociedade e isso ocorre não só no setor cultural. Em 2001 tivemos a oportunidade de organizar uma cooperativa de artistas para tentar enfrentar as dificuldades da indústria cultural – que apresenta um alto nível de concentração e, consequentemente, uma forte polarização entre os conglomerados, que controlam grande parte do mercado, e os pequenos empreendedores.

Trabalhar com artistas não é o mesmo que trabalhar com outros setores produtivos: existem grandes dificuldades, mas temos que seguir atuando dessa maneira, propondo novas possibilidades de gestão, novas formas de trabalho. Um exemplo é uma cooperativa de músicos com a qual gravamos compilações e dividimos os custos e os impostos. Em vez de os músicos gravarem seus discos por conta própria, eles participam dessas compilações e, assim, já têm grande parte de seu material registrado caso queiram, posteriormente, lançar individualmente. Isso reduz os custos. E é uma prática que podemos expandir para outras áreas – o mercado editorial e o cinema vivem situações semelhantes.

As cooperativas e a tecnologia que temos hoje em dia servem como ferramentas para que músicos consigam fazer um trabalho independente e de qualidade. Mas como podemos combater o gargalo da distribuição, uma vez que ela continua na mão das grandes empresas?

Não existe outro caminho para as indústrias culturais e criativas, em especial a da música, que não parta da cooperação. Temos que nos mexer e criar marcas coletivas e cooperativas formais. E esse esforço tem que transcender o âmbito nacional. A América Latina é um mercado importantíssimo para Porto Rico. Muitas cenas independentes, como a do punk, têm desenvolvido espaços informais de cooperação. É importante aprender com eles e integrar essas experiências aos modelos de negócio.

Fale um pouco do projeto Inversão Cultural.

Depois disso, para dar apoio administrativo a projetos culturais, criei o Inversão Cultural. Com o passar do tempo nos convertemos em uma organização que oferecia serviço de contabilidade, serviços que dessem conta das burocracias governamentais, e isso acabou evoluindo e se tornando meu tema de pesquisa, que gerou dados a respeito do perfil da economia criativa em Porto Rico. Hoje temos uma espécie de incubadora que, indo além da consultoria, busca gerar novas empresas. Já capacitamos dois grupos de 20 empreendedores e estamos oferecendo uma oportunidade de residência para estudantes universitários. Somos cinco pessoas trabalhando nesse projeto, e a meta é chacoalhar a política cultural e fortalecer o setor criativo.

Muita gente pensa que as políticas culturais são um assunto só do Estado, mas todos os envolvidos no setor da cultura são responsáveis por elas.

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