Eu e um ator gravávamos uma série para TV. Uma cena longa, cheia de detalhes, filmada sob vários ...
Publicado em 19/02/2018
Atualizado às 14:55 de 21/09/2018
Eu e um ator gravávamos uma série para TV. Uma cena longa, cheia de detalhes, filmada sob vários ângulos. Em pouco tempo ela passará por um processo de montagem, edição e finalização. Então será exibida e o público nos verá ali.
Não verá a camareira, a assistente de fotografia, a produtora de locação, o cozinheiro, a figurinista, o maquiador, a diretora, o microfonista… São muitas pessoas trabalhando com arte e entretenimento do outro lado da câmera. Eu nunca tinha visto tanta gente em torno de uma cena. Aquela imagem foi forte.
Onde vivem essas pessoas? Ora, no Brasil! No corre, na vida loka. Todos artistas, por definição. O dicionário diz que artista é quem tem “habilidade ou vocação artística” ou “é envolvido na produção de arte, no fazer artístico coletivo”. Portanto, todo mundo que estava lá.
Não construímos sozinhos aquela cena. Uma imagem dela já existia na cabeça de um roteirista, diretor ou produtor. E para chegarmos até o set de filmagem muita gente já havia preparado aquele terreno, profissionais que nem sequer conhecemos. Porque a arte está onde ninguém imagina. É ingênuo pensar que ela seja feita por pessoas iluminadas, que nasceram para aquilo... Se elas existem mesmo, não me interessam muito.
A equipe, sim, me enlouquece. Uma história pode levar anos para ser colocada em cena. Sair do imaginário e virar ficção real envolve um número gigantesco de pessoas. Uma pequena multidão em volta de uma garrafa térmica, construindo um mundo a partir de cabos, tintas, textos, ideias, cadeiras, risadas, problemas e mais café.
E tudo que o espectador percebe é arte. O transporte do cenário ou o beijo na boca têm o mesmo efeito na ficção. O público jamais saberá que viu alguém carregando aquele sofá, mas viu. Porque ele estará ali na hora do beijo.
Toda cena é feita por alguém que vemos e por uma centena de pessoas que jamais veremos. Essas pessoas, que trabalham na surdina, são o que chamam por aí de “magia do teatro”, “ilusão do cinema” ou “milagre da televisão”. Que nada! É tudo gente. É tudo artista.