A montagem conta com encenações teatrais, que introduzem as 16 coreografias do espetáculo
Publicado em 07/11/2018
Atualizado às 12:49 de 21/11/2018
O Ballet Paraisópolis, formado por 200 crianças e jovens – entre 8 e 17 anos de idade – da segunda maior comunidade de São Paulo, sobe ao palco com o espetáculo Marias, que conta com direção e concepção de Monica Tarragó.
Composta de 16 coreografias nas modalidades dança contemporânea, neoclássico, balé clássico e de repertórios, a montagem – a primeira na história do projeto a utilizar encenações teatrais – fala de diversas Marias que, em meio a inúmeras adversidades, seguem dispostas a lutar diariamente por aquilo com que sonham, superando preconceitos, medos e dificuldades sem perder a força e a coragem.
“Quis fazer um espetáculo que contemplasse coisas que normalmente não vemos nas apresentações tradicionais de balé”, explica Monica, também idealizadora, professora e coreógrafa do Ballet Paraisópolis. “Há algum tempo, começamos a trabalhar no projeto a parte teatral das crianças, muito necessária para a formação do bailarino, que tem de passar por uma série de áreas na arte para se tornar, de fato, um profissional da dança.”
Monica acrescenta que a ideia da montagem nasceu de seu olhar cotidiano para a comunidade e das histórias que ouviu – durante esses quase dez anos de trabalho em Paraisópolis – de diversas mulheres do local, de diferentes idades. Além disso, a diretora conta que as crianças ajudaram na construção das personagens, dando a cada uma das Marias que serão apresentadas características, personalidades e sentimentos que refletem a elas próprias e são comuns a todos nós.
“Comecei a ter várias conversas com as crianças, que também ajudaram a criar as diferentes Marias – a atrapalhada, a esquecida, a sonhadora, a batalhadora, a bailarina que não consegue fazer um coque – que serão representadas no palco. Até porque a minha brincadeira com essas crianças é que, quando eu esqueço o nome delas, eu as chamo de Maria. Eu falo: 'Maria, você está fazendo o passo errado'”, conta Monica. “No meio desse processo, algumas mães me procuraram para falar de outras questões, como a violência doméstica. Então, quis contar nesse espetáculo as histórias dessas Marias, mas também inseri nele outras de fora da comunidade, porque cada um de nós, cada pessoa, tem uma Maria dentro de si. Tanto é que eu tenho também os meninos que fazem parte do espetáculo.”
Marias tem ainda, em sua abertura, a participação especial de Antonio Ednaldo da Silva, o “Berbela”, artista de Paraisópolis conhecido por fazer a abertura da novela I Love Paraisópolis (TV Globo) e por trabalhar com ferro-velho para fazer suas obras. “Ele é um grande artista plástico e parceiro do projeto. Vive fazendo bailarinas com sucata em seu ateliê”, fala Monica. “Sempre quis inseri-lo no espetáculo, mas a logística era difícil. Neste ano, ele sai de Paraisópolis e chega ao Auditório em sua bicicleta – que é um objeto extraordinário, uma obra de arte.”
Com uma proposta que vai muito além da promoção da dança na comunidade e da formação artística de bailarinos, o Ballet Paraisópolis cria oportunidades, ajudando a transformar não só perspectivas de vida, mas sonhos em realidade. A diretora enfatiza que subir com os bailarinos ao palco do Auditório mais um ano, para mais um espetáculo – que tem audiodescrição e interpretação na Língua Brasileira de Sinais (Libras), o que o torna acessível para todos –, é uma grande alegria, já que a casa reflete muito daquilo que é trabalhado no projeto: que todos somos iguais.
“A plateia do Auditório Ibirapuera retrata muito bem o cenário de Marias. Nela, seja no nosso ou em qualquer espetáculo, você encontra tanto a Maria presidente do mundo quanto a Maria faxineira sentadas lado a lado. É uma plateia muito democrática. Então, todas as Marias estarão representadas nessa plateia”, diz Monica. “Tenho adoração pelo espaço por causa disso. Pelo quanto é democrático e consegue fazer uma plateia de Marias e com Marias, porque ali todos são iguais, porque as cadeiras são iguais para todos.”
Ballet Paraisópolis [com interpretação em Libras e audiodescrição]
sexta 23 de novembro de 2018
às 20h
[duração aproximada: 80 minutos]
Entrada gratuita [os ingressos serão distribuídos na bilheteria do Auditório, uma hora e meia antes da apresentação. Limite de dois ingressos por pessoa. Sujeito à lotação da casa].
[livre para todos os públicos]
abertura da casa: 90 minutos antes do espetáculo