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Belém recebe recorte da mostra dos selecionados no Rumos Artes Visuais

De 18 de julho a 2 de setembro, Belém pode conferir O Fio do Abismo na Casa das Onze Janelas, um recorte da exposição Convite à Viagem -...

Publicado em 02/08/2012

Atualizado às 10:58 de 04/09/2017

De 18 de julho a 2 de setembro, o público de Belém pode conferir O Fio do Abismo na Casa das Onze Janelas (um dia antes, é realizado um coquetel de abertura para convidados). Trata-se de um recorte da exposição Convite à Viagem - Rumos Artes Visuais 2011/2013, realizada em São Paulo, sob curadoria de Agnaldo Farias, quando foram exibidos os 100 trabalhos feitos pelos 45 selecionados em todo o país no mais recente edital do programa no segmento. Na capital do Pará, a mostra traz 24 obras de 18 desses artistas e a curadora é Gabriela Motta que trabalhou com Farias e assina essa versão em cocuradoria com Luiza Proença e Alejandra Muñoz. Ainda no dia 18 (quarta-feira), às 19h, elas dão palestra no Auditório do Museu do Estado do Pará sobre os conceitos de sua linha curatorial.

Para definir o tema do recorte em Belém, Gabriela analisou o conjunto dos trabalhos e procurou unificá-los em torno da representação de situações limítrofes. Assim, ela selecionou obras que problematizam circunstâncias antagônicas, porém contíguas, como chão e vão, vida e morte, passado e presente, amor e ódio, belo e feio e as dividiu em três subtemas de leituras complementares.

Em um deles, lida com a ideia de permeabilidade entre opostos exibida, por exemplo, nas obras Tapete e Faqueiro, do paulista Adriano Costa e Expiração 04, do mineiro Pablo Lobato. O primeiro utiliza objetos retirados de meios sociais excluídos que os usam de forma improvisada, como panos de chão e facas, para lançar dúvidas sobre a quem eles pertencem, quais os seus usos e novos significados. O artista joga perguntas institucionais de como expô-los ou como armazená-los. A obra de Lobato representa um ser vivo que passa a morrer a partir do momento em que existe, propondo problemas de ordem estética.

Ainda lidando com o oposto, mas de forma mais delicada, a artista paraibana Iris Helena usa o jogo semântico para indicar paradoxos no trabalho Notas Públicas. A obra é composta por um painel de post-its que formam uma foto de um lugar qualquer. Ela tende a se desmanchar e a perder partes, mas a dissolução é consequência de um rigor e um controle absolutos.

O segundo subtema lida com a noção de vertigem e a mudança radical na passagem de um estado a outro. Cada uma a seu modo, as obras desse segmento são trabalhadas entre a performance e as inutilidades e pertinências do sujeito-imagem. A violência física e psicológica é mostrada pela carioca Gabriela Mureb no vídeo Sem Título (Ânsia), em que o corpo que coordena a cena vivencia um jogo de submissão e controle, onde a cumplicidade é fundamental.

O vídeo Miss Zebra, da amazonense Naia Melo Arruda, apresenta um registro cheio de sensações antagônicas. Ele é composto de 15 esquetes em que a artista protagoniza cenas vestida com um pijama zebrado, com humor, sarcasmo e perspicácia visual, sem encadeamento lógico nem narrativa. O pernambucano Cristiano Lenhardt cria uma neblina de história: Polvorosa faz parte de um projeto chamado Entredécada, em que duas frágeis estruturas de madeira e papel vegetal servem de suporte para projeções de imagens. Nos vídeos, os personagens protagonizam fusões entre sujeito e contexto e a partir do contato entre as figuras, os corpos contaminam-se por chuviscos, aquela quase esquecida imagem de dissintonia de um televisor.

O terceiro conceito da mostra abrange trabalhos autorreferentes, que contêm em si o tema da obra como uma metalinguagem. Fábio Magalhães, da Bahia, se utiliza do tradicional óleo sobre tela na Série Retratos Íntimos para gerar uma experiência sensorial em que técnica e poética são complementares, apresentando a pintura como possibilidade de enfrentar tabus da representação. Ainda assumindo a imagem como problema central, o paulista Luiz Roque coloca o espectador entre duas imagens, como se, em vez de olhar a paisagem, fosse ela que observasse e sufocasse o espectador. Rodado com uma câmera que alcança 2500 frames por segundo, Projeção 0 e 1 versa sobre a força da imagem e o poder de acreditarmos nela.

Diante de Morte Súbita, do mineiro João Castilho, há o fator surpresa pelo uso contundente de imagens violentas obtidas na internet. "São três minutos que parecem uma eternidade, em que se vê imagens turvas e distorcidas que antecipam a indesejada violência e a inevitável sincronia da morte. O que choca é o espelhamento que a obra é capaz de refletir e da avidez pelo trágico em nossa sociedade", completa Gabriela.

Rmos - seleção e difusão
A proposta do programa Rumos Artes Visuais é, com base na realidade de cada região, ao mesmo tempo viajar, diagnosticar e fomentar a criação visual do país. Assim, além de investigar o momento atual desta produção, detecta as direções e propicia aos selecionados oportunidades de difusão de seus trabalhos, intercâmbios e aprimoramento profissional por meio de ações de formação, como a concessão de bolsas de estudo e participação em palestras.

No total das anteriores quatro edições do Rumos Artes Visuais, foram selecionados, produzidos e divulgados os trabalhos de 275 artistas, de todas as regiões do país, escolhidos entre mais de 6 mil inscritos. Agora, a quinta edição do programa neste segmento recebeu 1.770 inscritos: 1.095 da região sudeste, 315 da Sul, 173 vieram do Nordeste, 117 do Centro-Oeste e 66 da região Norte. Destes, os selecionados são: 11 do Rio de Janeiro; oito de São Paulo, sete do Rio Grande do Sul, quatro de Minas Gerais, três do Distrito Federal. Do Pará e da Bahia foram contemplados dois e um do Acre, Amazonas, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Paraíba, Pernambuco e Santa Catarina.

O curador-geral desta mais recente edição é Agnaldo Farias, que conta com a cocuradoria de Ana Maria Maia, Felipe Scovino, Gabriela Motta e Paulo Miyada - e com os curadores viajantes Alejandra Muñoz, Franzoi, Julio Martins, Luiza Proença, Marcelo Campos, Matias Monteiro, Sanzia Pinheiro e Vânia Leal, que se dividiram pelo Brasil para conhecer o cenário e produção artística das regiões Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste visitando ateliês, realizando palestras e fazendo contato próximo com a produção de determinados locais. Diferentemente das edições anteriores, nesta, a pedido do curador geral, os 13 formaram a comissão autônoma de seleção dos trabalhos.

Convite à Viagem, a mostra que apresentou a totalidade desses trabalhos em São Paulo, manteve Agnaldo Farias como curador geral. Os recortes desta mostra ganham curadoria de cada equipe regional, a serem exibidos em formatos diferentes em quatro cidades.

A itinerância começou por Goiânia, com a exposição Volta ao Dia em 80 Mundos que jogou o foco na noção de lugar e contou com 27 obras de 16 artistas. Os demais recortes, depois de Belém, serão exibidos em Joinville (SC) e Recife (PE). Encerrando esse percurso, o Rio de Janeiro receberá a exposição integral.

Durante 2012 ocorreu, ainda, um seminário para os artistas selecionados e a seleção de quatro artistas para residências artísticas nacionais e internacionais, além de workshops, gratuitos e abertos ao público, de três dias, sobre arte contemporânea realizados pelos curadores viajantes em oito cidades brasileiras como Aracaju (SE), Cachoeira (BA), Araraquara (SP), Boa Vista (RR), Brasília (DF), Uberlândia (MG), Maringá (PR) e Macapá (AP).

SERVIÇO
O Fio do Abismo
Abertura com coquetel para convidados: 17 de julho de 2012 (terça-feira), às 20h
Em cartaz de 18 de julho a 2 de setembro de 2012
De terça-feira a sexta, das 10h às 18h
Sábados, domingos e feriados, das 9 às 14h
Ingressos: R$ 2,00
Entrada franca: crianças até 7 anos , adultos a partir dos 60 anos, portadores de necessidades especiais, grupos agendados e turmas da rede de ensino agendadas
Classificação indicativa: livre

Casa das Onze Janelas
Praça Dom Frei Caetano Brandão, s/ n, Cidade Velha
Tel.: (91) 4009-8825 / 4009-8823
Informações: onzejanelas@gmail.com

Palestra com curadoras e artistas da mostra
18 de julho (quarta-feira), às 19h
Entrada franca
Ingressos distribuídos por ordem de chegada
Vagas: 80

Auditório do Museu do Estado do Pará [MEP]
Praça Dom Pedro II, s/n, Cidade Velha

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