Micheliny Verunschk, poeta pernambucana, marcou sua estreia no gênero romance com Nossa Teresa –Vida e Morte de uma Santa Suicida . A...
Publicado em 09/12/2015
Atualizado às 10:18 de 03/08/2018
Por Amanda Rigamonti
Micheliny Verunschk, poeta pernambucana, marcou sua estreia no gênero romance com Nossa Teresa –Vida e Morte de uma Santa Suicida. A obra, que gira em torno de temas como suicídio, herança familiar e crenças populares, rendeu à escritora o Prêmio São Paulo de Literatura 2015 na categoria Autor Estreante com Mais de 40 Anos.
Conhecida por Geografia Íntima do Deserto, com o qual concorreu ao Prêmio Portugal Telecom em 2004, Micheliny tem trabalhos publicados em diferentes países, como França, Portugal, Espanha, Canadá e Estados Unidos. A escritora foi também colaboradora do Itaú Cultural de 2004 a 2007 e ainda hoje produz textos para o instituto.
Em conversa com o Fala com Arte, Micheliny conta um pouco de seu novo trabalho, da experiência de ser escritora mulher acima dos 40 anos e do Prêmio São Paulo de Literatura.
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Você pode falar um pouco sobre Nossa Teresa – Vida e Morte de uma Santa Suicida e sobre o Prêmio São Paulo de Literatura?
Escrevi Nossa Teresa pensando em alguns suicídios próximos – de amigos, de conhecidos. Para além do tabu. É um grande tema este, o da morte escolhida. A ideia central surgiu quando uma amiga me contou que a tia dela, suicida, havia sido enterrada vestida de santa. Pensei nessa imagem como forte o suficiente para contar uma história. Ao escolher um velho como narrador, imaginei aquele pessimismo do Saramago e a arrogância de Dom Casmurro narrando Capitu. Então brinco que, arrogantemente, quis compor esse narrador como alguém que em certa medida se acha maior que Deus ou o próprio Deus.
Não esperava ganhar o Prêmio São Paulo, embora por estar entre os finalistas houvesse uma chance em sete. Não esperava porque não costumo criar expectativa em torno de premiações – tenho um trabalho de anos como poeta e sei como é árduo o caminho do tal “reconhecimento”. E o que é reconhecimento? Estar nas páginas de cultura e receber prêmios? Também, mas não apenas. Nem isso é o mais importante. Reconhecimento é ser lido, e isso eu acredito que sou – tanto no meu trabalho poético como no recém-inaugurado trabalho em prosa. Nossa Teresa teve e tem um retorno de resenhas e de leitores muito bacana.
Você sente dificuldade na área por causa da sua idade?
Acho que a idade não é um fator de dificuldade nessa senda. Em 2004, quando meu primeiro livro de poesia foi finalista do Portugal Telecom junto com nomes como Manoel de Barros e [Décio] Pignatari, senti-me bastante honrada e vitoriosa por ser tão jovem e estar entre monstros sagrados. Acredito que é mais difícil ser jovem em literatura, porque, ao que parece, você está o tempo todo sendo posto à prova. No fim tudo é uma grande bobagem, [Arthur] Rimbaud que o diga.
E quanto a ser mulher? No Portugal Telecom, você foi a única mulher finalista. Isso pesou de alguma maneira?
Sim, sempre pesa. As mulheres sempre foram preteridas em mesas, premiações e outros eventos. Ter uma única mulher numa mesa, numa programação de literatura ou numa premiação é uma exceção ruim a meu ver. Deve ser motivo de reflexão. Mas, veja bem, não estou pedindo “cotas”. Quero mais mulheres nesses cenários como reconhecimento de um bom trabalho, e não por serem mulheres apenas.
Você foi colaboradora do Itaú Cultural. Pode falar um pouco do seu trabalho no instituto?
Fui funcionária da casa de 2004 a 2007. O Itaú Cultural é um lugar pelo qual tenho grande carinho, que me acolheu quando cheguei a São Paulo e com o qual mantenho importantes vínculos de afeto e mesmo de trabalho. Ali trabalhei com o A(u)tores em Cena, o Encontros de Interrogação e outras ações.
Veja alguns dos trabalhos de Micheliny no instituto:
A escritora contribuiu ainda com textos para o site da Ocupação Elomar.