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Entrevista com André Penteado: "A fotografia vive o paradoxo de ser, ao mesmo tempo, muito importante e irrelevante"

Quanto tempo se olha para uma fotografia, tendo em conta o volume gigantesco, o fluxo contínuo e vertiginoso de imagens sendo produzido...

Publicado em 25/05/2016

Atualizado às 10:48 de 08/08/2018

Por Cassiano Viana

Quanto tempo se olha para uma fotografia, tendo em conta o volume gigantesco, o fluxo contínuo e vertiginoso de imagens sendo produzido hoje? A pergunta é do fotógrafo paulista André Penteado.

"A fotografia vive o paradoxo de ser, ao mesmo tempo, muito importante e irrelevante", diz André, que participa da programação do IV Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo, que será realizado no Itaú Cultural de 16 a 19 de junho.

André diz não ter a resposta para como lidar com esse paradoxo. "A real relevância de uma produção depende de muitos fatores que estão além de nosso controle. É muito difícil saber se o que se está fazendo é/será relevante. Esta questão, no final, não é exclusiva da fotografia, mas, sim, de todas as formas de arte", diz o autor de Cabanagem, de 2015 – livro que foi incluído na lista de melhores do ano dos sites Time LightBox e Photo-eye –, e que venceu, em 2013, o Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger.

[caption id="attachment_85993" align="aligncenter" width="358"]Autorretrato do artista André Penteado [/caption]

 

Qual o papel da fotografia hoje?

Tenho a sensação de que a fotografia vive o paradoxo de ser, ao mesmo tempo, muito importante e irrelevante. Ela é importante porque, com a revolução tecnológica e o consequente barateamento da produção de imagens, há, mais do que nunca, fotógrafos produzindo trabalhos muito bons. Não há mais impedimento econômico para a produção de imagens técnicas. Porém, o volume gigantesco de fotografias sendo produzido e nossa incapacidade de acompanhar/dar conta deste fluxo contínuo e vertiginoso fazem com que muito dessa produção se dilua, se perca. Quanto tempo se olha para uma fotografia? Não tenho resposta sobre como lidar com esse paradoxo e nem isso me impede de trabalhar e buscar formas de tornar meu trabalho visível. Agora, a real relevância de uma produção depende de muitos fatores que estão além de nosso controle. É muito difícil saber se o que se está fazendo é/será relevante. Esta questão, no final, não é exclusiva da fotografia, mas, sim, de todas as formas de arte.

[caption id="attachment_91384" align="aligncenter" width="566"]André Penteado passou dois meses e meio no Pará buscando, no presente, marcas reais e metafóricas do que foi a revolta social que aconteceu na região entre 1835 e 1840 [/caption]

 

O tema do fórum, neste ano, é a fotografia como pensamento, com a reflexão sobre o conceito de arquivo. Em sua opinião, as imagens de arquivo estão sendo mais acessadas ou trabalhadas/utilizadas hoje? A que se deve esse maior interesse por imagens de arquivo?

Sempre achei que a fotografia se aproxima muito da arte conceitual e que cada imagem que produzo é, na realidade, um pensamento. Sendo assim, o conjunto de imagens produzidas pela humanidade corresponde a um grande depósito de pensamentos. As fotografias acumuladas desde o século XIX podem ser vistas como uma ferramenta para pensar sobre a sociedade na qual vivemos e suas transformações. Com a evolução da tecnologia, o acesso a esses arquivos foi imensamente facilitado. Então é natural que ocorra um aumento de projetos que lidam com eles. Se olhar uma fotografia já é uma coisa incrível – eu acredito no poder da imagem fotográfica –, olhar os diversos grupos acumulados de fotografias pode propiciar uma nova e complexa forma de reflexão.

[caption id="attachment_91386" align="aligncenter" width="569"]Cabanagem, de André Penteado [/caption]

 

Em sua opinião, qual o papel/a importância de eventos como o Fórum Latino-Americano?

Acredito que o papel mais importante do fórum é o de integrar e colocar em contato direto fotógrafos e produtores culturais de todo o continente. Além das mesas de discussão, a exposição serve para ressaltar, ao mesmo tempo, as singularidades e convergências de nossa produção.

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