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Entrevista com Marcelo Brodsky: "É cada vez mais difícil criar uma imagem original"

Fotógrafo, artista e ativista, Marcelo Brodsky estudou fotografia no Centro Internacional da Fotografia, em Barcelona (Espanha), onde...

Publicado em 10/05/2016

Atualizado às 17:46 de 07/08/2018

Por Cassiano Viana

Fotógrafo, artista e ativista, Marcelo Brodsky estudou fotografia no Centro Internacional da Fotografia, em Barcelona (Espanha), onde buscou exílio após o golpe militar na Argentina, na década de 1970. De volta a seu país natal em 1984, produziu Buena Memoria, ensaio visual sobre os anos de ditadura e que teve grande repercussão. Em 2014, Brodsky fundou a Visual Action, plataforma digital dedicada a incorporar a cultura visual em campanhas de direitos humanos.

Para ele, a fotografia tem se transformado em um meio de comunicação de massa, com um poder de difusão multiplicado geometricamente pelo volume de imagens enviadas à internet. Brodsky, que participa do IV Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo (realizado de 16 a 19 de junho), comenta que "é cada vez mais difícil criar uma imagem que tenha originalidade e capacidade para se destacar do resto".

[caption id="attachment_91409" align="aligncenter" width="520"]Fotografia de arquivo em branco e preto © Eduardo Martinelli, 1969. Intervenções com textos à mão por Marcelo Brodsky, 2014 

 

Fotografia de arquivo em branco e preto © Eduardo Martinelli, 1969. Intervenções com textos à mão por Marcelo Brodsky, 2014


"O fórum é um evento que já faz parte do calendário da produção visual na América Latina", afirma, acrescentando que essa iniciativa tem impulsionado muitos projetos importantes – como a produção e a edição de El Fotolibro Latinoamericano – e viabilizado intercâmbios, troca de experiências, conhecimento e articulação de eventos de rede em toda a região.

Qual é o papel da fotografia hoje, tendo em conta o cenário sociopolítico e econômico mundial e o acesso à informação pela internet, por exemplo?

A fotografia assumiu um papel central na comunicação entre as pessoas. A imagem tornou-se um fator-chave – mensagens sem imagens dificilmente são lidas. A circulação das imagens tem aumentado exponencialmente, colocando a fotografia em um lugar completamente diferente, na medida em que todos nós somos, cada vez mais, produtores e ao mesmo tempo consumidores de imagens. A fotografia é a linguagem, é o motor de emoção, é um referencial cotidiano. Isso não ocorreu paralelamente a uma educação visual, mas aconteceu de fato. A fotografia se tornou um meio de massas, e seu poder de comunicação se multiplicou geometricamente, tanto quanto o volume de imagens produzidas e enviadas à web.

O que isso representa para a fotografia como um meio? Seu poder aumenta. No entanto, é cada vez mais difícil criar uma imagem que tenha originalidade e capacidade para se destacar do resto. O meio se transformou em uma commodity e o valor da imagem, paradoxalmente, em termos econômicos, é reduzido. Enquanto uma pequena porção de fotógrafos que circulam no campo das artes visuais pode encontrar um caminho para galerias e feiras, aqueles que têm dedicado sua profissão ao jornalismo, à documentação/registro ou aos bancos de imagens estão passando por tempos difíceis, com a redução na quantidade de páginas impressas e um número cada vez menor de pedidos de propostas e orçamentos.

O papel da fotografia se ressignifica permanentemente em alta velocidade, mas os fotógrafos, estranhamente, não estão se beneficiando desse evento. O que é mais valioso é o conhecimento da linguagem visual, e não as imagens em si.

O tema do fórum neste ano é a fotografia como arquivo de pensamento e de imagem. Qual é a importância dos arquivos de imagens para a área fotográfica?

A linguagem visual e o conhecimento da humanidade estão e são preservados em grande parte nos arquivos de imagens. A história é abordada a partir de um lugar diferente ao lidar com suas imagens. Milhares de detalhes que não aparecem em textos e crônicas podem ser recuperados nesses arquivos. A riqueza que se esconde em cada imagem de registro, documental, jornalística ou artística é potencialmente enorme. É possível escolher nesse mar de imagens aquelas que contêm elementos diferentes e ordenar uma proposta de narrativa. A narração com imagens difere de uma narrativa com palavras, tanto quanto sua interpretação é aberta – cada pessoa pode abordá-la, percebê-la a partir da sua própria experiência e da forma como se relaciona com elas, as imagens.

As imagens preservadas nos arquivos permitem abordar um tema e interpretá-lo, aprofundar os seus detalhes e descobrir aspectos ocultos ou nunca colocados. As imagens contêm segredos infinitos, que podem ser revelados ao criador e ao espectador. A narração virtual é emocional – passa necessariamente pelo racional, mas vai diretamente para o campo dos sentimentos. A imagem produz identificação ou rejeição, provoca pensamento e reflexão, estabelece uma tensão com a linguagem literária e verbal, de complementaridade, de desafio, e torna mais complexas as interpretações. A narrativa puramente visual com base em arquivos de imagens tem um tremendo potencial para o desenvolvimento e a diversificação de gêneros, estilos, propostas etc.

Na sua opinião, qual é o papel do Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo?

O fórum é um evento que já faz parte do calendário da produção visual na América Latina. É um espaço de debate, de contatos, é uma oportunidade para se colocar em dia com o que está acontecendo na região. A fotografia latino-americana sempre perguntou por sua especificidade e, no fórum, pode comprovar que ela – essa especificidade – existe e está em permanente transformação. Há algo que caracteriza os autores da América Latina, do realismo fantástico à documentação criativa a partir da mistura de realidade e ficção, ao compromisso social.

O fórum aproximou o Brasil da região a que pertence. O evento deu ao Brasil um papel de liderança na fotografia latino-americana e projetou a produção do país, na medida em que ele estava mais voltado para si mesmo ou para as referências europeias e americanas. O fórum tem impulsionado muitas iniciativas importantes, como a produção e a edição de El Fotolibro Latinoamericano, em 2007 e 2011, além de ter viabilizado intercâmbios, troca de experiências, conhecimento e articulação de eventos de rede em toda a região.

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