Acessibilidade
Agenda

Fonte

A+A-
Alto ContrasteInverter CoresRedefinir
Agenda

Entrevista | Héctor Shargorodsky

Diretor do Observatório Cultural da Universidade de Buenos Aires (UBA), o ator e diretor de teatro fala sobre o atual cenário das...

Publicado em 08/07/2015

Atualizado às 21:11 de 02/08/2018

O ator e diretor de teatro argentino Héctor Shargorodsky, atualmente focado no universo da gestão cultural, comenta, entre outras questões, o atual cenário das políticas culturais na Argentina e fala como a sua carreira artística o ajudou na sua trajetória como gestor.

Diretor do Observatório Cultural da Universidade de Buenos Aires (UBA), ele foi um dos participantes do seminário Políticas e Gestão Cultural na América Latina no Século XXI: Diálogos e Reflexões, ocorrido no Itaú Cultural entre os dias 19 e 22 de março de 2015. Com o objetivo de promover o intercâmbio de experiências ligadas às políticas e à gestão culturais no contexto latino-americano, o evento reuniu especialistas de diferentes países: Brasil, Argentina, Porto Rico, Colômbia, México e Chile.

OBS: No que diz respeito a financiamento e leis de incentivo, como você avalia a situação das políticas culturais na Argentina?

HS: Creio que o século XXI tem nos mostrado uma mudança notória nas políticas públicas – tanto em nível nacional quanto em nível provincial – e, de certa maneira, também é possível observar algumas melhorias em certos municípios. A Argentina tem construído um modelo próprio, sem se ajustar a modelos prévios. Não seguimos os chamados modelos francês ou anglo-saxão: temos construído um híbrido de políticas públicas que nutre o setor. Talvez não seja tão eficiente, mas é eficaz. Existem políticas mais antigas, como as relacionadas ao cinema, que permitem à Argentina ter uma produção e uma indústria cinematográficas estáveis. Há, claro, defeitos e problemáticas de gestão, mas essas políticas fazem com que o país tenha um cinema próprio. Algo interessante também ocorre no campo do teatro – há um instituto nacional que dá suporte ao teatro alternativo e independente por todo o país. E, embora haja pouco fundo para cada um, existe fácil acesso para todos, então há uma vida teatral apoiada pelo Estado. Temos muito o que fazer, mas também temos muita coisa feita.

Você abordou os processos avaliativos em sua fala no Seminário de Gestão e Políticas Culturais na América Latina. Qual seria a importância desses processos para o gestor cultural na elaboração de estratégias?

A avaliação é uma etapa indispensável do processo, porque serve à tomada de decisões, permite corrigir falhas ou desvios e facilita o planejamento de novos projetos. Pular essa etapa é empobrecer a gestão. O que ocorre é que é preciso saber avaliar, e avaliar não é fácil. Além disso, deve existir o apoio governamental. Na Argentina, as etapas de planejamento, distribuição de recursos e execução de projetos já estão desenvolvidas e profissionalizadas a ponto de fazermos avaliações que sejam de fato efetivas e deem suporte aos processos administrativos. No setor da cultura, esse é um processo embrionário e existem poucas avaliações feitas, porque as pessoas não dão o devido valor a essa etapa. Mas, mais cedo ou mais tarde, isso virá à tona. Está surgindo uma geração de novos gestores que compreendem a importância dos processos avaliativos. Esses gestores estarão mais bem preparados.

De que maneira sua carreira no teatro – tanto como intérprete quanto como diretor – influenciou sua atuação como gestor cultural?

Posso dizer, a princípio, que a carreira de ator serviu para eu superar a timidez e a dificuldade de comunicação com o público. Mas, mais do que isso, para mim está claro que o gestor cultural tem de conhecer seu campo de atuação. E é verdade que, ao longo de 15 anos trabalhando como ator e diretor de espetáculos teatrais, pude adquirir conhecimento sobre os artistas, sobre como trabalhar com eles, e pude entender quais são as necessidades do campo da cultura. Isso me ajudou muito. Sempre digo aos meus alunos: “Se querem administrar e gerir um teatro, precisam ir ao teatro”. Não é possível administrar aquilo que não se conhece.

Fale um pouco sobre o Observatório Cultural da Universidade de Buenos Aires – sua história, sua atuação, as pesquisas que o órgão vem desenvolvendo atualmente...

O observatório foi criado no fim de 1997. Durante alguns anos, principalmente nos primeiros – e em especial por causa da crise de 2001 –, nossa intenção era olhar criticamente a realidade. Com base nisso, desenvolvíamos pesquisas sobre políticas culturais, mas logo, com a crise econômica de 2001 e 2002, passamos por dificuldades e tivemos de modificar um pouco nossa atuação. Em vez das pesquisas, passamos a nos dedicar a realizar eventos para difundir a economia da cultura e a gestão profissional do setor cultural, e disso surgiram cursos de mestrado e pós-graduação. Ampliamos nosso campo também com publicações – tratamos de lançar uma bibliografia sobre gestão cultural em castelhano, algo que era inexistente. Recentemente, coisa de dois anos para cá, retomamos as pesquisas e começamos a trabalhar com um mapeamento da gestão cultural argentina na esfera municipal e a desenvolver uma análise do mercado de trabalho para as artes cênicas. Essas são as pesquisas que estamos conduzindo atualmente.

Compartilhe