“O mundo é cheio de pequenos gatilhos que desmontam nossa guarda e nos permitem por alguns instantes simplesmente sentir”, diz o fotógrafo
Publicado em 15/07/2021
Atualizado às 18:44 de 16/08/2022
Qual é a história de sua maior saudade?
Tenho saudade dos domingos no sítio do meu avô. De acordar cedo para fazer a feira com meu pai, comer pastel e ir para a cantareira no sítio do meu avô. Todo domingo era igual e sempre era diferente. Talvez a história da minha maior saudade seja a saudade da infância. Saudade do menino que fui e que agora trabalho para resgatar dentro de mim.
O que o emociona em seu dia a dia?
Pequenos acontecimentos, um cheiro, uma frase, um livro, o jeito que a luz ou o vento desenham o espaço, um gesto. O mundo é cheio de pequenos gatilhos que desmontam nossa guarda e nos permitem por alguns instantes simplesmente sentir. Vivo em um constante exercício para impedir que esses poros se fechem e para que eu siga sendo afetado, vamos envelhecendo e o mundo nos impõe certo embrutecimento. Tá aí um campo de resistência fundamental do indivíduo imerso no mundo contemporâneo.
Como você se imagina no amanhã?
Eu me imagino cercado de objetos de afeto em uma casa vivida, perto do mato ao lado de Lua.
Quem é Felipe Russo?
Um curioso que se formou biólogo, mas que gostaria de ter estudado história natural ou seguido um currículo ainda mais aberto e pouco “eficiente”. Na fotografia achei um espaço que me dá essa liberdade, de estudar e perceber livremente, seguir o desejo e a curiosidade. Na experiência mediada pela arte, pela ciência e pela espiritualidade, encontro um certo chão que me permite navegar a intensidade de estar no mundo hoje. Sou professor e tive momentos muito importantes na sala de aula. Sou pai de Olívia, uma menina de 8 anos que me coloca todo dia mais perto da história da minha saudade.
Um Certo Alguém
Em Um certo alguém, coluna mantida pela redação do Itaú Cultural (IC), artistas e agentes de diferentes áreas de expressão são convidados a compartilhar pensamentos e desejos sobre tempos passados, presentes e futuros.
Os textos dos entrevistados são autorais e não refletem as opiniões institucionais.