Pesquisadora do Observatório da Diversidade Cultural, Katia Costa comenta os desafios da atuação de gestores culturais no Brasil.
Publicado em 22/02/2017
Atualizado às 10:43 de 03/08/2018
Katia Costa – ex-aluna do Curso de Especialização em Gestão e Políticas Culturais – comenta os desafios da atuação dos gestores culturais, além das políticas culturais propostas para sua região.
Pesquisadora do Observatório da Diversidade Cultural, Katia Costa também é mestranda do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (IHAC/UFBA) e especialista em gestão cultural pelo Itaú Cultural/Universidade de Girona. Atua no Projeto Planos Municipais de Cultura em Ambiente de Aprendizagem a Distância, iniciativa do MinC e coordenação da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (UFBA), desde 2012.
(Foto: Divulgação)
Qual a importância de compartilhar com outros gestores suas experiências na área cultural? Como você vê essa troca?
Considero como um das possibilidades mais importantes para o desenvolvimento de competências na área da gestão cultural a troca entre os profissionais que atuam no campo da cultura. Aprendemos e oferecemos possibilidade de cruzamento de experiências, bem como ampliamos a rede de comunicação entre esses profissionais, fazendo com que o campo se fortaleça e ganhe robustez.
Quais os desafios ou qual o maior desafio que um gestor/produtor cultural enfrenta hoje no Brasil?
Acredito que um dos grandes desafios seja ainda a falta de formação e de capacitações adequadas para lidar com o campo da cultura. Além desse, podemos citar a falta de estrutura física e tecnológica dos órgãos de cultura e a falta de financiamento para o desenvolvimento cultural. Poderia citar inúmeros, mas considero que esses prejudicam o trabalho dos gestores e mantêm a gestão cultural ainda tímida em relação aos demais setores.
Em que consiste o trabalho do gestor/produtor cultural? Quais as habilidades e competências necessárias para que um gestor/produtor cultural tenha êxito em sua atuação?
Os gestores culturais são novos profissionais que surgem para atuar num campo em que as práticas tradicionais de gestão não se aplicam, exatamente pela complexidade com que esse campo se constitui. De qualquer forma, os gestores culturais devem antes de tudo ter conhecimento amplo sobre o conceito de cultura e de toda sua diversidade, entendendo-o como pressupostos condicionais para a compreensão da complexidade do campo. Como assinala Alfons Sempere Martinell, em Nuevas Competencias en la Formacion de Gestores Culturales ante el Reto de la Internacionalizacion, o gestor cultural deve aportar conhecimentos amplos “nivel de comprensión de los procesos culturales y tendencias que se desarrollan en el mundo de la cultura y el arte y los nuevos enfoques de los estudios culturales en el ámbito internacional” (Martinell, 2003).
Associaria ao comentário de Martinell o enfoque aos estudos locais. Esses conhecimentos devem primar pela compreensão das dinâmicas culturais locais e sua relação com o mundo globalizado. Associar sensibilidade com capacidade de gestão, para que nunca se esqueça que ao lidarmos com a cultura estamos lidando com pessoas criativas. Essas competências devem congregar habilidades como lideranças nos processos, mediação, realização de projetos e comunicação com os artistas e a sociedade.
Como você avalia as políticas culturais praticadas em sua cidade?
Em Salvador as políticas culturais ainda parecem tímidas, alguns movimentos estão sendo alavancados, mas não observamos um compromisso público com a instalação delas como fatores decisivos para o desenvolvimento cultural e humano da cidade. Ela é uma cidade propositiva culturalmente, mas com grandes marcas colonizadoras.