Marina Lima e Viniele Lopes falam sobre o short film Goma, disponível ao público no Festival Arte como Respiro
Publicado em 08/10/2020
Atualizado às 11:25 de 27/12/2021
Levar até o fim. Ou parar muitas vezes durante o processo. Descascar pode dizer muito sobre a personalidade de alguém. É o que atestam Marina Lima e Viniele Lopes em Goma (2020), short film de 40 segundos sobre a relação entre ações habituais – como o descasque de um alimento – e o entendimento da vida. “Eu descasco com cuidado e devagar. Sempre evitando deixar marcas no objeto descascado, apesar de ansiar pela finalidade”, conta Viniele, responsável pela atuação, pela narração e pelo texto do curta.
De acordo com a dupla, o projeto surgiu logo nos primeiros meses do período de quarentena imposto pela pandemia. Notando nos momentos de ócio oportunidades para uma autorreflexão, Marina, que dirige a obra, se debruçou sobre textos produzidos anteriormente por Viniele. “Escolhemos um dos textos, debatemos sobre e gravamos em casa. Acho que ele [Goma] nasceu dessa vontade incessante de produzir algo que nos toca de alguma maneira, poder mostrar nossas perspectivas. Aproveitando o espaço que tínhamos, exclusivamente nosso, procuramos ressignificá-lo como novos cenários”, explica a produtora audiovisual, que assina também a direção de fotografia, a captação de áudio e a edição do curta.
“Saber medir intensidades. Tirar a camada de proteção, sem perfurar. Mas, independentemente de como, ultrapassar a superfície.”
Morando na mesma casa e produzindo “mesmo com desânimo”, Marina e Viniele, que é atriz, têm procurado observar mais as pequenas coisas, indo além das incertezas e das ansiedades que já suscitam o futuro. “Goma se relaciona diretamente [com este contexto] pelo fato de ter sido todo produzido na quarentena. E, com isso, ele propõe esse incentivo de se arriscar a produzir algo em um momento de aflição como este.”
Segundo a autora do texto, o isolamento, da mesma maneira que lhe deu mais tempo para a reflexão, a desmotivou a conferir o caos lá fora. “Com esforço e inspiração, consegui quebrar esta barreira entre o pensar e o fazer”, diz.
Em entrevista para o Itaú Cultural (IC), Viniele respondeu algumas curtas e ligeiras perguntas.
Você acredita que para “ultrapassar a superfície” vale qualquer coisa?
Acho que depende de como se entende “superfície”. Superfície como barreira, margem e limite, eu acredito que sim. É preciso conhecer o outro lado.
Quais são suas fontes de inspiração no dia a dia?
Depende do dia e do momento. Qualquer coisa pode me inspirar se eu puder olhá-la com mais tempo e de mais maneiras. Um livro, uma comida, um lugar.
Como você descasca?
Eu descasco com cuidado e devagar. Sempre evitando deixar marcas no objeto descascado, apesar de ansiar pela finalidade.
Temos uma coluna no site do IC na qual perguntamos a artistas: como você se imagina amanhã? Aproveito nosso papo para fazer o mesmo questionamento a você.
É uma pergunta que tem me causado angústia ultimamente. Com a velocidade do tempo e a aceleração da informação, confesso ter medo do futuro. Imagino que possamos ter avançado muito tecnologicamente, mas receio uma degradação dos modos de vivência mais reais e menos virtuais. Eu me imagino mantendo uma relação com a arte como resistência. E esse medo do futuro traz uma sensação de peso e ansiedade para todos. Porém sigamos positivos quanto a tudo.