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História da construção da nova sede do Instituto Itaú Cultural

No ano de 2017, o Itaú Cultural completou 30 anos de existência, mas essa história começa antes m...

Publicado em 19/12/2017

Atualizado às 12:01 de 03/08/2018

No ano de 2017, o Itaú Cultural completou 30 anos de existência, mas essa história começa antes mesmo da construção do instituto. A paixão de Olavo Setubal por arte e cultura brasileiras foi decisiva para a constituição de um importante acervo privado, que hoje possui mais de 3.600 obras. O Itaú Cultural assumiu, desde o seu início, a gestão do conjunto de obras de arte e a coleção de moedas do Banco Itaú, bem como o programa Itaugaleria, espaço aberto em determinadas agências para exposições de novos artistas.

O contexto eram os anos 1980, e o Brasil via seu primeiro governo civil desde 1964, ainda que eleito de forma indireta. O presidente José Sarney assumiu o cargo em 1985, em substituição ao presidente Tancredo Neves, falecido pouco antes da posse. O governo Sarney, ainda em 1985, criou o Ministério da Cultura (MinC), e este assumiu as atividades que estavam, até então, sob a responsabilidade do Ministério da Educação. Percebendo a necessidade de criar um projeto interno para pensar a gestão, a produção e a disseminação de arte e cultura no país, o Grupo Itaú iniciou estudos internos para avaliar as perspectivas de atuação de suas empresas. Antonio Jacinto Matias, na época responsável pela área de marketing do Banco Itaú, entregou a Olavo Setubal uma proposta na qual constavam duas alternativas: fazer investimentos em cada empresa para a realização de projetos culturais ou criar um projeto próprio do Grupo Itaú.

Assim, no final de 1986, Olavo Setubal convidou um antigo colega dos tempos de faculdade, o arquiteto e urbanista Ernest Robert de Carvalho Mange, para ser o primeiro diretor-superintendente do novo projeto do conglomerado, na época chamado de Instituto Cultural Itaú (ICI). O instituto foi criado no dia 23 de fevereiro de 1987, e a primeira área destinada a ele foi o 15o andar do Edifício Sul-Americano, no número 1938 da Avenida Paulista. O crescimento das atividades levou à gradativa ampliação dos espaços, até que em 1990 a instituição já ocupava o 14o e o 15o andares. Ali funcionavam as áreas de pesquisa cultural e informática, a biblioteca e a equipe responsável pelo projeto-executivo do edifício da nova sede do instituto.

As mudanças no cenário econômico do país em 1990, reflexos do Plano Collor, exigiram modificações no espaço cultural. A readequação do projeto foi desenvolvida em 1991 pela equipe de arquitetura do instituto, chefiada por Ernest Mange. Em seguida houve uma concorrência fechada para o gerenciamento e a construção do edifício, com a escolha da empresa Itaú Planejamento e Engenharia Ltda. – Itauplan. A conclusão do Edifício Itaú Cultural, em 1995, foi um marco não apenas para aqueles que se empenharam em sua realização, mas também para o cenário cultural de São Paulo e de todo o Brasil.

Uma das características mais marcantes do novo edifício do instituto – agora localizado no número 149 da Avenida Paulista, com entrada pela rua ao lado, a Leôncio de Carvalho – era a sua arquitetura inovadora. Revistas especializadas documentaram a construção da nova sede, enfatizando a importância do uso de aço no prédio, que foi construído em uma área de 11.075 metros quadrados, dos quais 4.535 foram estruturados com o material. Segundo o arquiteto Vlamir Tadeu Saturni, membro da equipe responsável, esse uso foi definido por “uma questão formal e vem ao encontro das vantagens do material, que alia rapidez na fabricação e precisão na execução”. A revista Construção de novembro de 1993 descreve a nova sede do Itaú Cultural como “um dos mais arrojados projetos arquitetônicos do País”.

O prédio tem 57,25 metros de altura e recuo para a Avenida Paulista, deixando um importante espaço livre à frente, o que imprime leveza e elegância à construção. Segundo a revista O Empreiteiro, o prédio estava estruturado da seguinte forma:

No andar térreo [...] estão localizados um banco de dados informatizado e a videoteca do ICI. A construção é encimada por uma torre suporte com luminoso e antena de telecomunicações com 60m de altura. No andar térreo principal, os grandes vãos livres da estrutura de aço aparente possibilitaram a definição de um átrio com pé direito elevado e fechamento transparente, abrindo espaço para a realização de atividades culturais. 

A configuração dos espaços tem papel importante como elemento de integração da instituição com o público. Por isso, novas propostas de atuação e atividades resultaram em algumas intervenções no projeto original. A primeira aconteceu em 1998, três anos após sua inauguração, com um projeto da arquiteta Anne Marie Summer que levou à extinção das escadas centrais e do elevador panorâmico e à sua substituição por escadas laterais, além da adequação do auditório para múltiplo uso. Outra mudança importante ocorrida no mesmo ano veio com a chegada do arquiteto e artista plástico Ricardo Ribenboim, sucessor de Ernest Mange como diretor-superintendente. Para Alfredo Egydio Setubal, filho de Olavo Setubal, a decisão de convidar Ribenboim foi de grande importância para o instituto:

Meu pai era muito aberto e, por isso, contratou um artista para ser o diretor-superintendente do Itaú Cultural no lugar do Mange, que era engenheiro: oposto completo [...] E o Ribenboim fez uma grande revolução no Itaú Cultural. Ele criou todos aqueles fundos que existem hoje: artes plásticas, cinema, teatro, dança, entre outros. Isto tudo foi o Ricardo que criou e manteve o projeto do banco de dados informatizado, dando o nome de Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. Mudou até o nome do instituto. Chamava-se Instituto Cultural Itaú, e o Ricardo mudou para Instituto Itaú Cultural. É uma diferença que parece sutil, mas é relevante, pois demonstra uma nova forma de ver e comunicar a missão do instituto.

Em 2001, quando Milú Villela assumiu o já Itaú Cultural, o principal objetivo traçado por ela e sua equipe foi aprofundar a relação da instituição com a sociedade. Para ampliar o diálogo do prédio com a Avenida Paulista, a mais importante da cidade de São Paulo, foi necessário apostar em outra reforma, que mudaria a entrada para a Paulista, aproveitando melhor o recuo do prédio e facilitando o acesso do enorme público que passa pela avenida todos os dias.  

“[...] o que estamos fazendo é tornar o Itaú Cultural acessível a todos os gostos, a todas as artes, a todos os segmentos sociais. E com a referência do metrô, abrindo espaço para toda a Paulista, fazendo com que ninguém tenha medo de entrar, é um espaço público, tudo aqui é grátis.”

Cerca de dez anos mais tarde, o instituto ganhou – no 4o e no 5o andares do edifício, onde antes funcionavam escritórios – uma área expositiva permanente, o Espaço Olavo Setubal, em homenagem ao fundador do Itaú Cultural. O museu, aberto ao público em dezembro de 2014, após quatro anos de reforma, foi pensado para receber a Coleção Brasiliana, com obras referentes a cinco séculos de produção artística no Brasil, e peças da Coleção Itaú Numismática.

A adequação da área de 514 metros quadrados teve como principal desafio a questão da conservação dos originais. Os responsáveis pelo projeto expográfico – a cenógrafa Daniella Thomas e o arquiteto Felipe Tassara – precisaram, por exemplo, evitar que o calor da fachada de vidro e aço do prédio danificasse as obras. A solução para a questão do isolamento térmico foi importar da Alemanha um vidro especial que não distorce a cor do papel e é antirreflexo. Outra intervenção, agora na estrutura, foi a retirada de uma laje para a instalação da escada em caracol entre os dois andares do espaço. As paredes do vão dessa escada foram definidas para receber gravuras que retratam a fauna e a flora brasileiras entre os séculos XVII e XXI. O curador da exposição, Pedro Corrêa do Lago, destacou que essas obras apresentadas “em molduras de acrílico transparente parecem que estão flutuando”.

 

Referências

Relatório de Pesquisa Histórica – Tempo e Memória, Centro de Memória Itaú Cultural

Revista O Empreiteiro, p. 39-41 – ago. 1995

Revista Construção, n. 2389 – nov. 1993

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