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Rumos 2013-2014: Livro-reportagem conta história e traz poemas inéditos de Orides Fontela

Selecionado: Gustavo de Castro e Silva É 2009. O poeta, escritor, professor e jornalista cultural Gustavo de Castro e Silva acorda...

Publicado em 06/04/2015

Atualizado às 21:07 de 02/08/2018

Obra: O Enigma Orides
Selecionado: Gustavo de Castro e Silva

É 2009. O poeta, escritor, professor e jornalista cultural Gustavo de Castro e Silva acorda assustado. No sonho com ares de pesadelo, a poeta paulista Orides Fontela aparece apontando o dedo e gritando para ele: “Encontre os meus poemas perdidos”. Agora em 2015, ele não apenas publica 23 textos inéditos da autora, como vai além. Gustavo lança o livro-reportagem O Enigma Orides.

 

Tudo começa em 2004, quando o escritor é apresentado à obra da poeta pelo professor Lunde Braghini. “Fiquei encantado com a poesia dela. Ela era uma poeta que flertava com o nada, com o caos. Isso me interessou e comecei a ler as suas obras”, conta.

Nascida em São João da Boa Vista, no estado de São Paulo, em 1940, Orides começou a escrever aos 7 anos e teve os seus primeiros poemas publicados no jornal O Município, periódico da sua terra natal. Aos 27 anos, ela se mudou para São Paulo e cursou filosofia na Universidade de São Paulo (USP). Em 1969, lançou o seu primeiro livro, Transposição.

Ao todo, Orides teve sete livros publicados e ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia em 1983, por Alba. Na visão de Gustavo, porém, ela ainda não tem o reconhecimento devido. A poeta enfrentou uma série de dificuldades financeiras e morreu na miséria em 1998, vítima de tuberculose, em um sanatório em Campos do Jordão.

No fim da vida, despejada do seu apartamento no centro de São Paulo, Orides viveu com a amiga Gerda Schoeder na Casa do Estudante, um velho prédio na Avenida São João.

É ali que Gustavo encontrou grande parte do material que compõe a sua pesquisa, inclusive muitos dos 23 poemas inéditos. Vasculhando livros que ela lia, ele encontrou o material. A poeta tinha o hábito de, depois da leitura, anotar versos na contracapa. Gustavo também encontrou escritos de Orides em folhas de papel soltas entregues a amigos e no acervo dela.

Ele passou dois anos pesquisando e entrevistando pessoas que tiveram ligação com a poeta, entre as quais a já citada Gerda, Renata Curzel, uma das suas melhores amigas, e os professores Antônio Candido e Davi Arrigucci Jr., ambos da USP. Depois, foram outros dois anos escrevendo a obra, que transita pelo jornalismo literário e flerta com a ficção, embora seja baseada em histórias reais. “É um experimento, um romance-reportagem. Há passagens e recriações imaginárias dentro de acontecimentos que se sucederam de fato.”

Gustavo explica que o título O Enigma Orides se deve justamente por não conseguir decifrar “a alquimia existente entre vida e obra” da escritora. Ela era, segundo conta, uma pessoa de difícil convivência, “irritadiça” e que acabou brigando com grandes amigos. “Que mistério havia na poeta para que ela conseguisse, mesmo tendo uma vida atribulada em todos os sentidos, produzir poemas límpidos, equilibrados e transparentes? Os 32 capítulos do livro visam elucidar um pouco essa questão. Cada um começa com frases presentes nos seus poemas”, relata.

O Enigma Orides será lançado neste ano pela Editora Hedra e conta com o apoio do Rumos.

Trajetória

Nascido em Natal, no Rio Grande do Norte, professor de estética na Universidade de Brasília (UnB) e morando atualmente em Paris, onde toca um projeto de pesquisa que envolve a passagem do escritor João Guimarães Rosa pela Cidade Luz, Gustavo é apaixonado por poesia desde a infância, quando conheceu a obra de Fernando Pessoa.

“Conhecer Fernando Pessoa na escola fez toda a diferença na minha vida. Sentir a emoção das palavras, a força da palavra. É um desses mestres que abrem portas. No meu caso, abriu muitas portas”, conta.

Gustavo relata que faz tempo que não escreve poesia. “Para que haja um fenômeno poético, a poesia precisa procurar a gente. Eu flerto com ela, e às vezes ela flerta comigo”, sublinha. Agora, ele está se arriscando nos romances.

O escritor também tem um grande interesse pela filosofia. Para escrever Enigma Orides, ele partiu da proposta de jornalismo literário presente em três livros que escreveu/organizou: Jornalismo e Literatura – a Sedução da Palavra (2002), Jornalismo Literário – uma Introdução (2010) e A Cabeça do Futebol (2009).

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