Maratona de Edição: "Todo fotógrafo quer publicar um livro", diz Claudia Jaguaribe

por Cassiano Viana*

O fotolivro não é nenhuma novidade. Para ficar na história recente, basta pensar nos seminais American Photographs, de Walker Evans (1938), e Os Americanos (The Americans, 1958), de Robert Frank.

No Brasil, temos A João Guimarães Rosa (1966), de Maureen Bisilliat, Viagem pelo Fantástico (1971), de Boris Kossoy, Amazônia (1978), de Claudia Andujar e George Love, Silent Book (1997), de Miguel Rio Branco, e Laroyè (2000), de Mario Cravo Neto. Todos considerados marcos na produção de fotolivros brasileiros.

Esse tipo de publicação ganhou impulso nos últimos anos com as facilidades do mundo digital, softwares de edição e design gráfico, impressoras caseiras e com o próprio interesse crescente de editores e colecionadores.

"Todo fotógrafo quer publicar um livro. Ter um livro sedimenta a obra e a faz acessível a um público maior", diz Claudia Jaguaribe, uma das coordenadoras da Maratona de Edição, atividade destinada a fotógrafos e artistas que desejam trabalhar com publicações impressas e que será realizada durante o V Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo, em junho, no Itaú Cultural.

Claudia observa que a produção do fotolivro se sofisticou muito nos últimos anos e tem atraído colecionadores que antes se dedicavam somente à fotografia. "Além disso, o fotolivro tem um enorme prestígio internacional, com coleções sendo organizadas por museus importantes, como Tate Modern, Moma e Victoria and Albert Museum", diz.

Para a fotógrafa, esse tipo de publicação tende a crescer nos próximos anos, em formatos diferentes, desde livros de tiragem mínima com processos artesanais até edições de luxo e edições baratas de grande alcance. "Vai depender para qual mercado está sendo produzido", avalia.

Novidade no Fórum

O propósito da Maratona de Edição é justamente analisar o crescimento exponencial da importância do fotolivro, além de compreender melhor o processo de produção, edição, venda e divulgação do formato.

Novidade nesta edição do Fórum, a Maratona de Edição vai reunir fotógrafos, críticos e editores com o objetivo de analisar especificamente projetos editoriais.

"O fotolivro é uma obra que nasce da interação do fotógrafo com o artista gráfico e o editor", pontua Iatã Cannabrava, com a experiência de quem já editou mais de 40 fotolivros, brasileiros e latino-americanos, em seis anos, através do seu Estúdio Madalena.

Diretora da Turma – plataforma de disseminação da cultura visual latino-americana –, a fotógrafa e editora argentina Julieta Escardó reforça que as infinitas possibilidades surgidas com as impressoras digitais desencadearam uma revolução em termos editoriais.

"Desde então podemos fazer tiragens limitadas e de excelente qualidade. Temos mais alternativas, hoje, para publicar ensaios fotográficos e compartilhar nossas histórias", lembra Escardó, que participará da Maratona de Edição como coordenadora, junto com Claudia Jaguaribe, a mexicana Ana Casas e o peruano Muzuk Nolte.

"Nos fotolivros encontramos não apenas a possibilidade de comunicação, mas também o privilégio de decidir ao longo de todo o processo editorial", avalia Escardó. "E creio que essa insistência em publicar livros tem a ver com um ato de resistência contra a tela mundial e o mundo líquido. É uma forma de retornar ao fetiche, ao objeto, à experiência física que os livros fornecem: toque, cheiro e, claro, a vista", conclui, acrescentando que, sem dúvida, será uma experiência muito positiva e enriquecedora participar da Maratona de Edição.

Na atividade serão avaliadas a qualidade e o conteúdo do projeto fotográfico, o projeto gráfico e a análise de formatos, além das formas de viabilizar economicamente a produção.

 

Veja aqui a lista de selecionados para a Maratona de Edição.

 

*Cassiano Viana é editor do site About Light.