No início do século XX, começaram a surgir as primeiras iniciativas de criação de arquivos históricos empresariais. A Siemens e a Krupp...
Publicado em 28/08/2014
Atualizado às 09:28 de 26/12/2018
por Rafael Francisco Bensi
No início do século XX, começaram a surgir as primeiras iniciativas de criação de arquivos históricos empresariais. A Siemens e a Krupp são empresas alemãs pioneiras no assunto. Com o passar dos anos, outras iniciativas foram surgindo, principalmente após a criação da Business Historical Society, nos Estados Unidos, que tinha o objetivo de estudar a biografia de empresários e a evolução de suas empresas a partir de seus próprios arquivos.
Nos anos 1930, a Inglaterra criou o Business Archives Council, que visava difundir a ideia de preservação de arquivos empresariais para pesquisas futuras. Nos anos que se seguiram, países como França e Itália, influenciados pelas inciativas estadunidense e inglesa, criaram instituições semelhantes com objetivos parecidos.
Com a criação de novos projetos e o avanço do entendimento sobre o conceito de memória empresarial, o tema começa a ser discutido no âmbito acadêmico com mais frequência. O estudo do professor de Harvard Alfred Chandler intitulado Management Decentralization: an Historical Analysis, publicado em 1956, foi um marco para a consolidação do tema. O trabalho utilizou biografias de empresários, relatórios anuais, livros comemorativos e revistas corporativas para tentar sistematizar modelos de evolução organizacional.
Detalhe da exposição Unindo Histórias que ficou em cartaz no Espaço Memória
de 2008 à 2009 por ocasião da fusão entre Itaú e Unibanco.
(Acervo Itaú Cultural - Espaço Memória / foto: Christina Rufatto)
A partir dos anos 1960, é possível verificar fases de evolução nos estudos relacionados à memória empresarial. Não me prenderei a essas fases por se tratar de tarefa digna de um artigo, mas é importante ressaltar que nos anos 1970 a consolidação na Nova História – movimento que redefiniu conceitos e fugiu da ortodoxia das análises econômicas – trouxe contribuições imprescindíveis para o entendimento de questões que envolvem o contexto cultural e social.
A partir da Nova História, surgem os conceitos de identidade e cultura organizacional, que ampliavam o entendimento sobre temas relacionados a competição tecnológica, cultura, desenvolvimento de processos, produtos, parcerias estratégicas e fusões. Esses temas passam a ser estudados por pesquisadores que dão um novo significado às empresas, não as tratando apenas como uma unidade de produção de bens e serviços, mas como algo mais complexo dentro da sociedade.
No Brasil, o tema se consolida nos anos 1970, com a publicação de alguns trabalhos e a criação de centros de memória por parte de algumas empresas.
Os trabalhos acadêmicos estavam voltados à compreensão de questões ligadas à ideologia e ao paternalismo presente nas empresas nacionais. Um dos trabalhos de referência nesse aspecto é de José de Souza Martins, intitulado Conde Matarazzo – O empresário e a empresa, publicado em 1976. Vale lembrar que o tema sempre foi abordado de maneira multidisciplinar, com trabalhos publicados em áreas como administração, economia, sociologia e história.
Nos anos 1980, com o processo de redemocratização do país, aliado às novas tecnologias e tendências do mercado internacional, algumas empresas brasileiras passam a administrar seus negócios visando o crescimento e a promoção de desenvolvimento, sem a perda de identidade. Nesse sentido, as empresas perceberam que a identidade estava ligada à questão da memória e que era necessário resgatar a sua própria história, explorando os processos do passado e a cultura profissional de seus funcionários. Esse esforço das empresas criou uma nova demanda, aproveitada por pesquisadores, que, a partir de expertises técnicas bem definidas, criaram empresas de consultoria especializadas em história, memória e arquivo.
Já a partir dos anos 1990 e, principalmente, nos anos 2000, é possível constatar que o tema memória empresarial passa a ser trabalhado pelas empresas como área colaboradora nos negócios, com o objetivo de transformar o trabalho com a memória em vantagem estratégica. Nesse sentido, as áreas de comunicação passam a explorar a memória com o intuito claro da valorização da marca a partir de referenciais históricos que transmitam solidez, tradição, inovação, competência, etc.
O texto disponível neste link foi uma tentativa de verificar como atua um centro de memória moderno neste contexto de globalização e competitividade. A monografia foi apresentada no primeiro semestre de 2014 como trabalho de conclusão do curso de especialização em História e Patrimônio Cultural da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
Rafael Francisco Bensi é historiador, graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e pós-graduado em Patrimônio Cultural pela mesma universidade. Possui também pós-graduação em Gestão Cultural pela Universidade de Girona, Espanha. Rafael tem uma trajetória profissional voltada a arquivos e centros de memória. Trabalhou no arquivo central do sistema de arquivos da Unicamp, na empresa Tempo & Memória Pesquisa Histórica Ltda. e hoje atua no Núcleo de Memória e Pesquisa do Instituto Itaú Cultural.