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Novos nomes da fotografia no Brasil – Bruna Dias – Pombal, Paraíba

A série apresenta os novos nomes e caminhos da produção fotográfica brasileira, de Norte a Sul do país

Publicado em 13/11/2020

Atualizado às 19:12 de 16/08/2022

por Cassiano Viana*

Bruna Dias nasceu em Pombal, sertão da Paraíba, em 1989. Mora em João Pessoa (PB) desde 2010.

Ela conta que a fotografia tem um marco inicial em sua vida ainda na infância, quando, através de fotos e memórias, pôde conhecer e amar a irmã, que faleceu antes de ela nascer.

“Lembro das visitas que sempre fazíamos aos álbuns de família, das narrativas da minha mãe, e como aquelas imagens estáticas somadas as histórias que ela contava me permitiam viajar no tempo e criar um universo paralelo, onde novas imagens e filmes surgiam dentro da minha mente”, recorda. “Hoje, consigo analisar que essa possibilidade que a fotografia me trouxe foi de uma importância sem tamanho, e eu sou grata à existência desses registros e momentos, e a todo esse afeto e poder de criação que eles significaram para mim.”

Só a partir de 2018, Bruna começou, de fato, a trabalhar com a fotografia artística, que atividade que nasceu, segundo ela, principalmente de seu incômodo com a área artística e imagética em geral: “Por perceber o quão colonizado era o nosso olhar, e como as referências de belo estavam sempre relacionadas ao padrão branco”, conta.

“Com isso, comecei a pesquisar e a conhecer o trabalho de outros artistas negros, e a partir disso me sentir parte de algo e entender todo o adoecimento e situações de violência e silenciamento aos quais estamos expostos neste país, e como a arte pode ser um caminho político e de libertação para nós e para os nossos.”

Com a palavra, Bruna Dias:

“Eu tenho muito para falar. Sinto isso desde sempre e entendi, depois de muito tempo, que a estrutura racista e machista da nossa sociedade silenciou a minha fala de diversas maneiras. Então, para mim, a fotografia é mais do que simplesmente eternizar o tempo através de imagens. É uma ferramenta de autoconhecimento, autorreflexão e autorrepresentação. É a minha maneira de poder tirar de dentro e jogar para o mundo tudo o que eu sinto, vejo, acredito, sangro, defendo, mesmo quando eu não consigo falar.

Da série Passagem (imagem: Bruna Dias)

A fotografia me permite olhar para o espelho, para o meu povo e para as minhas origens, e sentir/mostrar com orgulho as nossas lutas, nossos atravessamentos e belezas, reconstruindo nossas histórias e lembrando sempre que podemos fazê-lo em primeira pessoa, sem precisar que outros – que não possuem vivências como as nossas – falem por nós. E é também uma forma de exigir respostas, de gritar por respeito, de fazer denúncias, de não mais calar.

Da série Repito Coisas Que Não Lembro (imagem: Bruna Dias)
Da série Repito Coisas Que Não Lembro (imagem: Bruna Dias)

Eu gosto de registrar sentimentos. Minha poética se construiu em cima disso. Eles podem aparecer por meio de pessoas, objetos, movimento, poesia, bordados, nuvens, enfim. Em foto, vídeo ou palavra. Eu registro o que sinto e o que imagino que pode despertar sentimentos nos outros também através da minha arte. Hoje entendo meu trabalho como um respiro, um movimento artístico, poético, mas também político.

Da série Das Despedidas Que Não Pudemos Ter (imagem: Bruna Dias)
Da série Das Despedidas Que Não Pudemos Ter (imagem: Bruna Dias)

Quero poder contar e criar histórias, mas acima de tudo estimular outras pessoas negras a fazer o mesmo, a olhar para dentro e para fora, acolher o que existe, lutar contra opressões, retomar suas narrativas, ver beleza em si e nos seus. Descolonizarmos nossos olhares e nos aprofundarmos em nossas subjetividades e existências.”

Cassiano Viana (@vianacassiano) é editor do site About Light.

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