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Novos nomes da fotografia no Brasil – Gê Viana – São Luís, Maranhão

Com curadoria de Cassiano Viana, a série apresenta os novos nomes e caminhos da produção fotográfica brasileira, de Norte a Sul do país, começando com a maranhense Gê Viana

Publicado em 07/08/2020

Atualizado às 11:25 de 17/08/2022

por Cassiano Viana

Gê Viana (Santa Luzia, Maranhão, 1986). Vive e trabalha em São Luís (MA). Fotógrafa e artista visual, graduada em artes visuais pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Na busca por uma expressão artística não linear, usa a fotografia para a criação de fotomontagens, fotoperformances e experimentos de intervenção urbana e rural.

"Ouvi uma vez que, pra se achar, era preciso saber o local de nascimento de seus entes mais velhos", diz Gê Viana (de camisa azul) (imagem: Gê Viana)

Descendente de indígenas, nascida no interior do Maranhão, negra e moradora da periferia de São Luís, capital maranhense, Gê vê seus trabalhos como uma forma de empoderamento e resistência de diversos segmentos sociais marginalizados e invisibilizados: indígenas, negros, mulheres, gays e lésbicas.

Descendente de indígenas, nascida no interior do Maranhão, negra e moradora da periferia de São Luís, capital maranhense, Gê vê seus trabalhos como uma forma de empoderamento e resistência de diversos segmentos sociais marginalizados e invisibilizados (imagem: Gê Viana)

Com a palavra, Gê Viana.

Apontei o juízo pra uma lembrança. Era fim de tarde, nossa mãe queria nossas imagens, dois retratos. O pano de fundo era a frente da casa de barro, com vestígios de várias escritas dos amigos, a outra era uma cena montada com lençol azul atrás de nós. Lá estávamos, meu irmão meio torto, minha irmã mais velha repousando o braço na cintura, enquanto eu, num gesto de desconfiança com aquele instrumento na minha frente, segurava o braço dela fortemente.

Gê Viana (Santa Luzia, Maranhão, 1986), autora desta foto, vive e trabalha em São Luís (MA) (imagem: Gê Viana)

Ouvi uma vez que, pra se achar, era preciso saber o local de nascimento de seus entes mais velhos. É bem difícil você montar sua história quando sua bisavó já não tá mais entre os outros... José Vitorino Ferreira Viana, o pai Zeca, e minha bisavó Torcata Francisca Viana, a mãe negra. Ambos nasceram na beira do Rio Parnaíba, na cidade de Buriti. Ao lado está a cidade Brejo, estamos no Maranhão, nesse território existiram os Anapurus, um povo denominado originalmente como Muypurás. Eles habitavam toda aquela região, alguns documentos mostram que foi uma terra “dada”. Denominados como extintos. NÃO, ESTAMOS VIVOS! Repito a pergunta: se tua tataravó foi indígena, o que te legítima também a ser? A história de extermínio se repete entre vários povos. Hoje na cidade de Brejo só restam documentos e uma pedra onde se lê escrito na língua dos Muypurás: “índios”. Mais um levante se aproxima, está acontecendo com os Muypurás!

Chão de terra batida, o mundo anda pedindo trégua. Me vi usando esse tempo pra buscar mais de mim. Sempre me interessei por saber do lado matriarcal. Esqueci completamente da parte de meus bisavós, até ver muito de mim neles. A mãe me disse: “Meu avô era bonito, cabelo bem arrumado, gengiva e dedos marrons, morreu que nem um passarinho, não deu trabalho a ninguém, quietinho na rede”.

Na busca por uma expressão artística não linear, Gê Viana usa a fotografia para a criação de fotomontagens, fotoperformances e experimentos de intervenção urbana e rural (imagem: Gê Viana)

Aquela fotopintura congelada com meus irmãos, o lençol azul atrás da gente, essa memória me fez pedir esse retrato nesse mesmo quintal/terreiro pra minha tia com mãezinha... Foi uma visão!

Cassiano Viana (@vianacassiano) é editor do site About Light.

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