Gênero, loucura, espaços públicos, refugiados, as vias de criação, comunidades nas bordas, identi...
Publicado em 28/12/2017
Atualizado às 14:55 de 21/09/2018
Gênero, loucura, espaços públicos, refugiados, as vias de criação, comunidades nas bordas, identidades, pessoas com deficiência, o cárcere no Brasil, a violência.
Entre dados e projetos artísticos, os encontros do programa Brechas Urbanas nos proporcionaram uma dedicação de muitas horas em 2017. Nós conversamos e aprendemos sobre o direito das mais diferentes pessoas às cidades brasileiras.
Foi necessário encarar informações que nos contam principalmente sobre as ameaças reais ou cada vez mais iminentes a esse direito: as barreiras legais e políticas para que um refugiado consiga se inserir de forma justa e humana em nossas sociedades, as dinâmicas de ocupação do espaço público que ainda encontram desafios para o desenho de arquiteturas verdadeiramente inclusivas, o perverso sistema carcerário que corrobora para um ciclo de criminalização da pobreza.
Acompanhando um movimento presente em todas as esferas culturais e artísticas do país – dos tantos cafundós aos grandes centros urbanos –, foi preciso escancarar as realidades que nos tornam hoje sensibilizados a (re)criar.
E algumas vezes essa sensação final das conversas pode ter sido de escassez: de fôlego, de caminhos, de saídas, de inspiração. Mas, ao mesmo tempo, os desafios das linguagens artísticas parecem hoje ser também sinônimos dos dilemas sociais, como se esses fossem dois caminhos de um mesmo rio, de um fluxo interessado em jorrar novamente fertilidade propositiva e criativa em nossos encontros urbanos.
Recuperando as falas em Brechas Urbanas no ano de 2017, algumas vezes pudemos também escutar outros sons: suspiros, gargalhadas, palmas, coros em concordância ou animação.
Respiros que foram possíveis tantas vezes após algum dos convidados apontar – no cotidiano, na ancestralidade, na simplicidade de um corpo que sabe que acreditar é colocar um pouco de energia em movimento – caminhos singelos de solução.
Lembro-me do trabalho do artista Ivan Grilo. De sua itinerância por vários endereços do país em busca de cristalizar com acabamento de arte ensinamentos sábios que vêm da escuta de mestres do cotidiano: quilombolas, pescadores, rezadeiras.
Falas e trabalhos que encantam porque nos fazem respirar, porque mostram direções para novas brechas potentes que ainda podemos visitar.
E penso que essas sensações colhidas em 2017, esse estado de gente que também precisa se nutrir de uma sabedoria corriqueira, vão nos dar o fôlego que precisaremos em 2018 para continuarmos a cantar, dançar, escrever, performar, costurar...