"Risco #32", desenvolvida pelo artista Michel Groisman, apresenta um maquinário interativo em projeto apoiado pelo Rumos Itaú Cultural
Publicado em 24/07/2019
Atualizado às 16:49 de 15/08/2019
por Marina Lahr
Quais os limites entre o sucesso individual e as conquistas coletivas? É possível reunir pessoas desconhecidas na busca por um único objetivo em comum? Como despertar reflexões dinâmicas sobre a cooperação e os impasses das relações sociais?
Foi a partir de questionamentos como esses que Michel Groisman – artista brasileiro conhecido internacionalmente por suas performances de controle corporal – decidiu direcionar sua carreira e suas atividades criativas para a concepção de equipamentos que pudessem ser utilizados com o corpo em performances, jogos e ações interativas com o público.
Como parte de seus experimentos colaborativos, Michel desenvolveu – entre 2014 e 2015 – um grande maquinário para 16 pessoas desenharem juntas, de forma simultânea. A instalação Risco foi contemplada com o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna 2014 e apresentada nas Cavalariças da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV/RJ) em junho de 2017. Ao longo dos três fins de semana de ativação da obra, o artista vislumbrou as potencialidades técnicas de expansão da proposta, em uma reformulação que pudesse contemplar 32 participantes a cada vez.
Desse modo, Michel Groisman mergulhou no desenvolvimento do projeto Risco #32 – contemplado pelo edital do Rumos Itaú Cultural 2017-2018. O artista explica que o fato de possuir uma base processual ancorada em pesquisas que vêm sendo realizadas há alguns anos confere confiabilidade de execução a uma iniciativa tão ambiciosa.
A proposta atual engloba a criação e a ativação da obra participativa expandida e propõe uma investigação lúdica sobre relação, sucesso individual, liberdade, expectativa, autoria, coletividade, simbiose, cooperação, controle e descontrole, fluxo, consciência, inclusão e imprevisibilidade. A máquina, como descreve Michel, “tem o propósito funcional de permitir que cada um dos participantes possa imprimir o seu movimento, influenciando de algum modo o desenho do carvão sobre o papel”.
Se um participante, por exemplo, puxar o maquinário em demasia em uma direção contrária, afastando-se ou se aproximando demais dos outros, o mecanismo suspende o carvão e interrompe o traçado, indicando ao grupo, assim, a necessidade de uma consciência inclusiva.
“A ideia é que a experimentação seja feita sem que a pessoa fique falando ou indicando o que quer que o outro faça. Dessa forma podemos estimular questões como: “se não posso controlar os outros, como o grupo poderá ser bem-sucedido?”. Ou “posso me engajar sem antecipar o resultado?”, reflete Michel.
O planejamento prevê que o equipamento seja composto de 32 carrinhos de madeira, um para cada participante se sentar e se mover. Os carrinhos serão todos conectados por hastes e cordas, formando uma enorme estrutura modular que permite adaptações para grupos menores, assim como a realização de diferentes experimentos – como gerar um único desenho conjunto ou gerar uma série de desenhos conjuntos.
Realizado em parceria com a produtora Patrícia Ceschi, Risco #32 aborda temáticas pertinentes à atualidade. Michel Groisman esclarece que três pilares norteiam o processo criativo do projeto. A integração busca aproximar linguagens, campos e públicos e conectar artes visuais, dança, ecologia, engenharia, física quântica, arte-educação, teoria da comunicação e jogo. A mudança de paradigma traz a desconstrução prática do modelo de uma individualidade conquistadora e bem-sucedida e demonstra de modo recreativo que é possível fluir em vez de conquistar, integrar em vez de predominar. E, por fim, a relativização do ponto de vista evidencia como o experimento pode auxiliar cada um a lembrar que as próprias opiniões e a leitura de mundo não indicam uma realidade objetiva, mas, sim, uma interpretação individual.
“Por ser pessoal, os pontos de vista falam tanto dos observadores quanto do mundo. Risco #32 pode ajudar cada um no seu processo de autoinvestigação e abertura à diferença”, finaliza o artista.