Há quem queira parar o tempo, mas o tempo não tem parada. E é Alceu Valença quem mergulha na dimensão das horas: com poesia e música, ele constrói um túnel sem começo nem fim, que atravessa o solo agreste, as ladeiras, as ribeiras e as ruas das cidades. A 48ª Ocupação Itaú Cultural celebra esse artista e seus múltiplos tempos – aquele dos versos e rimas, da embolada, do frevo e do baião, aquele dos mistérios da vida.
Ao som de aboios e toadas, em São Bento do Una (PE), nasceu o quarto filho de Décio e Adelma. Através do rádio, da feira e dos saraus promovidos por seu avô na fazenda Riachão, ele apurou a musicalidade. No baú de referências, juntam-se o cordel, o circo e a canção brasileira, cruzamentos que se ampliaram em suas andanças por Garanhuns, Recife e Olinda.
Diante de plateias grandes, o cantor e compositor revelou-se, de fato, nos festivais: na década de 1970, e, dali à frente, como um para-raios ao luar, nunca abandonou sua essência – sertaneja, brincante, domadora de palcos e de corações bobos. Tal qual o tempo, ele é tantos em um: poeta da madrugada, diretor de cinema, regente do Carnaval e conhecedor de sussurros de anjos e sinos de catedrais. Cada Alceu existente está nesta mostra, que busca proporcionar ao público a oportunidade de desvendar os muitos mundos do músico inquieto.
Além de fotografias, objetos e produções literárias, surpresas em conteúdos digitais, como uma experiência imersiva, narram histórias do homenageado. No site itaucultural.org.br/ocupacao, materiais inéditos, em textos e vídeos, também estão disponíveis, fora o acervo da série Ocupação Itaú Cultural, dedicada a artistas essenciais que fazem parte da arte e da cultura brasileiras. O tempo não tem parada – porém, ele mesmo se amansa, esparramado, para observar Alceu passar.