Um crítico generoso
Antonio Candido publicou seu primeiro livro, Brigada Ligeira, em 1945. Na obra, o autor reuniu alguns dos textos que vinha produzindo desde 1943 para a coluna Notas de Crítica Literária, do jornal paulistano Folha da Manhã – foi nesse espaço que o crítico reconheceu o talento de nomes como Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto e João Guimarães Rosa, até então pouco conhecidos.
A consciência política e a atenção às questões sociais sempre estiveram mescladas à sensibilidade analítica do crítico literário. E isso se manifesta tanto no conteúdo quanto na forma dos textos assinados por Candido. Seja abordando os elos entre a produção literária e as realidades histórica e social – como fez nos ensaios reunidos em Literatura e Sociedade (1965) –, seja analisando a obra de um dos seus autores favoritos, Graciliano Ramos – tema dos artigos que compõem Ficção e Confissão (1956) –, o crítico sempre se expressou com uma generosidade semelhante àquela que demonstrava no trato pessoal. Sem se colocar acima dos leitores, expunha suas ideias – por mais complexas que fossem – de forma bastante clara e acessível, fazendo jus à noção de que a literatura deve ser entendida como um direito básico do ser humano – noção defendida no ensaio “O Direito à Literatura”, produzido em 1988 e posteriormente publicado em reedições do livro Vários Escritos (1970).