Aracy Amaral realizou inúmeras exposições, tanto na Pinacoteca de São Paulo e no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), onde foi diretora, quanto em outros centros culturais, entre eles o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) e o próprio Itaú Cultural.
Alguns de seus maiores interesses – de um lado, a investigação sobre a vida e a obra de artistas do período modernista brasileiro; de outro, a arte contemporânea produzida no país – ganharam relevo em exposições como Tarsila – 50 Anos de Pintura, em 1969, e Alfredo Volpi: Pinturas 1914-1972, em 1972, ambas no MAM/RJ, ExpoProjeção 73, em 1973 na sede do Grupo de Realizadores Independentes de Filmes Experimentais (Grife), e Ismael Nery – 50 Anos Depois, em 1984, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP). No Itaú Cultural, participou da curadoria das exposições Arte e Sociedade: uma Relação Polêmica (1930-2000), em 2003, Singularidades/Anotações: Rumos Artes Visuais 1998-2013, em 2014, e Ocupação Abraham Palatnik, em 2008.
Além disso, sempre com um olho no passado e outro no presente, Aracy conjugou esses dois tempos no panorama de 2015 – exposição de arte contemporânea apresentada a cada dois anos pelo MAM/SP –, intitulado 34º Panorama da Arte Brasileira da Pedra da Terra Daqui: convidou seis artistas para criar trabalhos em diálogo com os zoólitos, objetos milenares encontrados na costa do Brasil.
Seção de vídeo
Curadoria
Paulo Portella, artista visual e educador, Regina Teixeira de Barros, curadora e professora, Rejane Cintrão, curadora e produtora, e Ana Maria Belluzzo, professora e curadora, falam sobre as características do trabalho que Aracy Amaral realiza como curadora de exposições, marcado por cuidado, rigor e intuição.
"Essa relação de respeito pelos profissionais foi uma das características mais importantes do trabalho com ela."
Rejane Cintrão
ExpoProjeção 73
O início da década de 1970 foi marcado artisticamente pelo uso de mídias como os slides e o super-8. A mostra ExpoProjeção 73 – que teve curadoria de Aracy Amaral e organização do Grupo de Realizadores Independentes de Filmes Experimentais (Grife) – foi um retrato desse momento: reuniu trabalhos em áudio, super-8, 16mm e audiovisual com slides, reconhecendo a importância dessa produção. Sua relevância histórica se dá também por ter sido realizada durante o período da ditadura militar brasileira, momento político marcado pela restrição da liberdade de expressão. Foram exibidos cerca de cem trabalhos de 45 artistas, entre eles Anna Bella Geiger, Cildo Meireles, Décio Pignatari, Hélio Oiticica, Iole de Freitas, Julio Abe Wakahara, Lygia Pape e Mario Cravo Neto. O catálogo da exposição contou com Julio Abe Wakahara como designer gráfico e pode ser acessado aqui.
ExpoProjeção 73 em esboços
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Texto datilografado "Algumas ideias em torno à ExpoProjeção 73", Aracy Amaral | arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB/USP) – Fundo Aracy Abreu Amaral, código do documento: AAA-PROJ73-008
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Estudos do projeto ExpoProjeção 73 | arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB/USP) – Fundo Aracy Abreu Amaral, código do documento: AAA-PROJ73-009
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Esboço do projeto ExpoProjeção 73 | arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB/USP) – Fundo Aracy Abreu Amaral, código do documento: AAA-PROJ73-012
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Cópia mimeografada de projeto gráfico de cartaz da exposição ExpoProjeção 73 | arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB/USP) – Fundo Aracy Amaral, código do documento: AAA-PROJ73-010
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Cópia mimeografada de estudos de logos para a exposição ExpoProjeção 73 | arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB/USP) – Fundo Aracy Abreu Amaral, código do documento: AAA-PROJ73-010
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Carta de Aracy Amaral para o artista Raymundo Colares, datada de 6 de fevereiro de 1973, falando sobre o projeto ExpoProjeção 73 e convidando-o a participar | arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB/USP) – Fundo Aracy Abreu Amaral, código do documento: AAA-PROJ73-001
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Panorama da Arte Brasileira
Sabemos tão pouco das sociedades que viveram no território que hoje denominamos Brasil – como é o caso das cerâmicas, pinturas, gravuras rupestres do Norte, Centro-Oeste e Nordeste do país, assim como sobre os excepcionais geoglifos1 descobertos há poucas décadas na região do Acre que, pensamos sempre, a História de nosso território ainda é, para nós, um enigma que levará décadas a ser decifrado. Assim como um desafio candente para arqueólogos. É de pouca importância que essas manifestações sejam, ou não, denominadas “arte”, pois o fundamental é que sejam manifestações do homem, sua cultura, e de suas relações com o meio ambiente e seus contemporâneos. […] Em contrapartida, quando vemos, hoje, o conceito de arte se dissolvendo, se esgarçando a ponto de esfarelamento total, em comparação aos séculos anteriores, este não deixa de ser um tempo em que nos indagamos muito frequentemente “O que afinal vem a ser arte?”
[…] Esta exposição que hoje apresenta cerca de sessenta peças é um projeto muito antigo, gestado há mais de vinte anos. Em inícios de 1981, pude visitar um por um os museus que abrigam essas esculturas em pedra, que me fascinaram por sua beleza (Paranaguá, Joinville, Florianópolis, depois, Rio de Janeiro e MAE USP, além de, posteriormente, ter conhecido as peças de museus do Rio Grande do Sul e Montevidéu). […] Mas a ideia surgida para esta ocasião foi outra: os zoólitos (esculturas em pedra desses povos) atuariam como núcleo condutor da exposição, e seis artistas contemporâneos de vários pontos de nosso país seriam interlocutores dessa ancestralidade da terra, da pedra e daqui, através de suas criações.
– Trecho de texto de Aracy Amaral publicado no catálogo do 34º Panorama da Arte Brasileira da Pedra da Terra Daqui, realizado no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), em 2015. Acesse a publicação completa aqui.
"Esse trabalho de levantamento é uma coisa que a Aracy produz muito bem, compila muito bem e entrega para o mundo."
Regina Teixeira de Barros