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E debaixo da lona, o circo

Para existir o multiartista Benjamim de Oliveira, antes precisou existir o circo.

A história do circo se caracteriza por uma excepcional junção de linguagens e expressões artísticas. Um espetáculo circense é feito por artistas multifacetados, formados a partir de uma série de habilidades e técnicas, de originalidade e experimentação – faz lembrar de alguém? Palhaçaria, dramaturgia, teatro, pantomima, música, acrobacia, ginástica e muitas outras linguagens, tudo é apresentado na centralidade do mesmo palco-picadeiro.

Desde o começo do século XIX, a América Latina fez parte da rota de turnês de circos europeus. Muitos desses circenses e saltimbancos não retornavam aos seus países e, assim, começaram a desenvolver o circo no Brasil, adaptando-se às realidades culturais e sociais locais.

Durante todo o século XIX até a primeira metade do século XX, o circo se tornou um dos mais importantes pontos de produção, divulgação e difusão de arte no Brasil. Era o principal palco para os mais variados artistas, tendo estabelecido um intercâmbio cultural contínuo entre capitais e interior.

Muitas vezes a única atração das cidades, o circo tinha o poder de transformar e agitar a vida do local e de seus habitantes. As relações culturais e coletivas estabelecidas configuraram-se como a base para a produção e transmissão de saberes e práticas do circo. Tudo transmitido de geração a geração, em um rico processo de aprendizagem e envolvimento que mantém viva a arte circense.

"Não se pode estudar a história do teatro, da música, da indústria do disco, do cinema e das festas populares no Brasil sem considerar que o circo foi um dos importantes veículos de produção, divulgação e difusão dos mais variados empreendimentos culturais.

Os circenses atuavam num campo ousado de originalidade e experimentação. Divulgavam e mesclavam os vários ritmos musicais e os textos teatrais, estabelecendo um trânsito cultural contínuo das capitais para o interior e vice-versa. É possível até mesmo afirmar que o espetáculo circense era a forma de expressão artística que maior público mobilizava durante todo o século XIX até meados do XX."

Trecho do livro "Circo-teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil", de Erminia Silva

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A história do circo no Brasil

Especialistas relatam as venturas e as desventuras das primeiras companhias circenses no país

por André Bernardo

Benjamim de Oliveira escreveu um capítulo importante da história do circo no Brasil. Mas a história mesmo começou a ser escrita lá atrás, entre outubro e novembro de 1818, quando a primeira companhia circense chegou ao país. Era o circo de cavalinhos da família Southby, formada por Guilherme William Southby e sua mulher, Maria. O casal e sua trupe chegaram ao Rio de Janeiro vindos de Buenos Aires. E montaram seu circo, ainda sem lona, no Campo de Santana, atual Praça da República. Do Rio, seguiram para outras cidades, como Sabará, em Minas Gerais. “Saltimbancos e mambembes por natureza, as companhias percorriam as cidades, no lombo de burros ou em carros de bois. Houve até um circo, o Grande Oceano, de Spalding e Rogers, que, em 1862, percorreu nosso litoral, a bordo de um navio”, explica Daniel Lopes, doutor em educação pela Universidade de São Paulo (USP). “Uma das principais características do circo é a de incorporar elementos sociais, políticos e culturais das cidades que visita. A isso, damos o nome de contemporaneidade do fazer circense.” No Brasil, muitas atrações de circo foram, por assim dizer, “tropicalizadas”. Quem afirma isso é o escritor Antônio Torres, no livro O circo no Brasil (1998). E, para corroborar sua tese, dá o exemplo do palhaço – os primeiros enchiam suas fantasias de palha (do italiano paglia) para não se machucar quando levassem estabaco.

Se o palhaço europeu dominava a técnica da mímica e, por essa razão, falava pouco ou quase nada no picadeiro, o brasileiro, ao contrário, era do tipo falastrão. “O nosso palhaço sempre foi muito conquistador e malandro. Seresteiro, tocava violão e cantava músicas de duplo sentido, como ‘A galinha quando é preta / é da cor do urubu / mas o ovo fica branco / quando passa pelo… pescoço’. O humor brasileiro é cheio de picardia”, explica Torres, no livro. E, por falar em palhaço, outro que ficou famoso foi Picolino, interpretado por Roger Avanzi (1922-2018). Se o palhaço é a alma do circo, como afirma Antônio Torres, Picolino era a alma do Nerino, o circo fundado por seu pai, o artista italiano Nerino Avanzi, o primeiro Picolino. “Avanzi é um personagem fundamental na história do circo no Brasil. Não só pela sua versatilidade como artista (ator, músico, diretor, acrobata, equilibrista e jóquei), mas também como professor das primeiras escolas de circo do Brasil, a Academia Piolin de Artes Circenses e a Escola Picadeiro”, garante a pesquisadora Verônica Tamaoki, diretora do Centro de Memória do Circo, em São Paulo, e ex-aluna do palhaço Picolino.

Mas, voltando ao circo da família Southby, a primeira companhia a se apresentar no Brasil, seu fundador, Guilherme, era um cavaleiro inglês, assim como Philip Astley (1742-1814). Foi ele, Astley, quem deu ao circo, por volta de 1770, a cara que ele tem hoje. A base do espetáculo era uma apresentação equestre, em que os cavalos giravam em torno do picadeiro com os respectivos cavaleiros, de pé, sobre a sela. Não à toa, o número ganhou o nome de carrossel – derivado do italiano carosello, batizou, décadas depois, um brinquedo de parque de diversões. Aos poucos, o “pai do circo moderno”, como Astley ficou conhecido, passou a incorporar outras atrações ao espetáculo: adestradores de animais, engolidores de fogo e de espada, mágicos ilusionistas, equilibristas sobre a corda bamba etc. Nascia, assim, o Anfiteatro Real de Astley (ou Astley’s Royal Amphitheatre of Arts, no original), em Londres, que recebia o público ao som do rufar de tambores. “O primeiro artista a usar o nome ‘circo’ foi Charles Hughes, ex-companheiro de trupe de Astley”, revela Erminia Silva, doutora em história da cultura pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autora dos livros Circo-teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil (2007) e Respeitável público… O circo em cena (2009). “Em 1780, ele montou sua própria companhia e deu a ela o nome de Royal Circus, numa referência ao circo romano.”

Nessa época, os circos ainda não cobravam ingressos. Nem eram cobertos por lona. Muitos eram feitos de tábuas de madeira ou de chapas de metal e abrigados por toldos dos mais diferentes tecidos, como algodão. No Brasil, a arquitetura de alguns circos ganhou apelidos curiosos, como “tapa-beco”, “pau a pique” e “pau fincado”. “O circo de tapa-beco consiste num terreno baldio, que recebe uma cortina na frente e outra no fundo. As cortinas separavam a área que recebia o público daquela destinada à realização do espetáculo”, esclarece Elisângela Carvalho Ilkiu, mestre em história e teoria da arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “No meio do terreno, um círculo feito com corda delimitava o espaço onde artistas e animais faziam sua apresentação.” As hipóteses sobre a origem do circo são as mais variadas e incluem, entre outros países, China, Egito e Grécia. Em comum, o caráter familiar, coletivo e itinerante das primeiras companhias. Sozinhos ou em trupes, os artistas se apresentavam nas ruas, nas praças, nos teatros… “No Brasil, muitos teatros tiveram dificuldade para abrigar animais de grande porte ou montar números aéreos, com corda, arame e trapézio”, conta Lara Rocho, mestre em história pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O circo de cavalinhos da família Southby entrou no Brasil pelo Rio de Janeiro. Mas havia outras “portas de entrada”, como os portos de Santos (SP), do Recife (PE) e de Salvador (BA) ou, ainda, a cidade de Porto Alegre (RS). No entanto, as companhias que chegavam ao Brasil não eram todas inglesas, como a de Guilherme Southby. Havia também companhias portuguesas, como a de Albano Pereira (1839-1903), que desembarcou no país em 1833, e italianas, como a de Giuseppe Chiarini, que chegou um ano depois. Assim como os donos de circo começaram a incorporar artistas de rua ao espetáculo, o picadeiro logo tornou-se pequeno demais para o maior espetáculo da Terra. O circo migrou para outras expressões artísticas e inspirou músicas, como “Piruetas” (1981), versão de Chico Buarque; livros, como O piano e a orquestra (1996), de Carlos Heitor Cony (1926-2018), e filmes, como O palhaço (2011), de Selton Mello. “Onde houver lona para cobrir um território, mínimo e esmolambado que seja, haverá circo”, escreveu Cony.

Mas, passados mais de dois séculos desde a chegada de Southby e seus cavalos ao Centro do Rio, como um especialista no assunto explicaria para uma criança do século XXI, que cresceu assistindo TV, interagindo nas redes sociais ou jogando videogame, o que é um espetáculo circense? Com a palavra, Lara Rocho, da UFRGS. “Não explicaria. Em vez disso, levaria a criança para assistir a um espetáculo de verdade”, responde a historiadora. “O circo segue vivo – vivíssimo, eu diria! –, dentro e fora da lona, reinventando seu fazer e suas relações com o público.” O circo de hoje não é o mesmo de tempos atrás. Por lei, muitos deixaram de ter animais, como tigres, leões e elefantes. Em compensação, escolas de circo ensinam os mais variados números para quem não nasceu numa família circense. Ao ser indagado sobre se o circo continua vivo e soube se reinventar ou, ao contrário, está com os dias contados e prestes a desaparecer, o educador Daniel Lopes, da USP, não hesita em responder: “O circo não morreu. Nem está morrendo. Está em permanente transformação, como, aliás, sempre esteve. Com resistência e criatividade, teremos circo por muito tempo ainda”, garante. Então, quando alguém lhe perguntar: “Hoje tem espetáculo?”, pode responder, com toda a certeza: “Tem, sim, senhor!”.

André Bernardo é jornalista. Formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), produziu conteúdo para mais de 80 jornais, como Zero Hora, Correio Braziliense e Diário de Pernambuco. Atualmente, colabora para sites, como BBC Brasil, Veja Saúde e Galileu, e revistas, como Superinteressante, Monet e Seleções Reader’s Digest. É autor do livro A seguir, cenas do próximo capítulo, da Panda Books, sobre teledramaturgia brasileira.

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Saberes e transformações do circo

O circo é a casa dos sonhos e do imaginário. O palco central que reúne as culturas populares e eruditas em uma linguagem híbrida, sempre dialogando com a contemporaneidade de seu tempo e as transformações culturais, tecnológicas, sociais, políticas que acompanham o fazer circense. Neste vídeo, o artista Wilson França e os pesquisadores Verônica Tamaoki e Daniel de Carvalho Lopes falam sobre os saberes oriundos do circo e as mudanças pelas quais passou ao longo dos anos.

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“O circo é um lugar de educação. Tinha gente que não sabia ler, escrever, mas que ali dentro aprendia de tudo. Geografia, física, química, literatura, porque o circo é uma escola. Quando você vê um camarada fazendo um trabalho de malabares, aquilo é ciência pura!”

Maurício Tizumba em entrevista para a "Ocupação Benjamim de Oliveira"

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Alguns dos famosos circos brasileiros

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O trabalho de polinização cultural que o circo promove

Quando o circo chegou à América Latina, veio carregado de referências europeias; seus artistas, porém, logo se adaptaram ao novo espaço. Conforme se movimentava no Brasil, o circo promovia um intercâmbio entre o campo e a cidade, entre os vários brasis não conhecidos.

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Modalidades circenses no Brasil do século XIX e início do XX

por Daniel de Carvalho Lopes

A heterogeneidade presente nas expressões artísticas dos circenses comportava dança, teatro, mímica, música, exibições acrobáticas, malabarismos, adestramento de animais, equilibrismos, pirofagia, magia e muitas outras ações espetaculares. Seus saberes e suas práticas eram múltiplos e transmitidos oralmente de geração a geração, e constituíam-se em permanente diálogo com os elementos estéticos, sociais, políticos e econômicos dos lugares e períodos que atravessavam. O aprendizado permanente de seus fazeres artísticos garantia a continuidade das produções desses artistas, moduladas por misturas, transformações e reconfigurações constantes, nas quais seus saberes e suas práticas eram continuamente reelaborados e transmitidos no próprio fazer diário de suas apresentações.

O próprio modo de organização do trabalho desses grupos artísticos operava na lógica de acessar e agradar aos mais diversos públicos e, em razão disso, suas produções eram compostas de atrações que fossem originais e fantásticas e que se aproximavam e se distanciavam dos padrões estéticos impostos e regulamentados, ou seja, tinham a mistura e a constante inventividade como elementos essenciais.

Fontes

LOPES, Daniel de Carvalho; SILVA, Erminia. Um Brasil de circos: a produção da linguagem circense do século XIX aos anos de 1930. Prêmio Funarte de Estímulo ao Circo 2019/Circonteudo, 2022. No prelo.

SILVA, Erminia. Circo-teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil. São Paulo: Altana, 2007.

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Acrobacias

Fosse no céu ou na terra, entre arcos, no trapézio ou sobre cavalos, as acrobacias apareciam na maioria dos números circenses. Saltos acrobáticos para a frente ou para trás sobre pontas de espadas – como realizou Chiarini em 1835 – ou em meio a uma dança equilibrando-se sobre uma corda ou mesmo por entre um arco em chamas – como fizeram os artistas do Circo Bartheaux em 1865 – geravam temor e encantamento nas multidões que assistiam aos espetáculos de circo. Assim, o corpo acrobático dos artistas expressava-se com destreza, seja durante uma exibição de malabares, uma representação teatral ou em equilíbrio sobre uma enorme escada, pois as modalidades circenses sempre se misturavam e se atravessavam, e com as múltiplas e arriscadas acrobacias não foi diferente.

Malabarismo

Tão diversos quanto os objetos usados pelos malabaristas são os próprios números de malabarismo. Realizada por homens, mulheres e crianças, sobre cavalos, escadas e trapézios e muitas vezes saltando, dançando ou de pernas para o ar, essa modalidade vai muito além de simplesmente lançar e pegar objetos. Exemplos disso foram o circense Sr. Rhigas, que, em 1827, cantava e manipulava pratos e bolas, ou a Sra. Chiarini, que, em 1837, equilibrando-se numa corda, lançava punhais, arcos, copos, garrafas e munições, e mesmo Luiz Casali, que, em 1875, com seu circo no Rio de Janeiro, manipulava bolas e bacias sobre um cavalo a galope. Com os pés, as mãos ou a cabeça, os atos continham toda a diversidade e mistura que caracterizavam os próprios espetáculos na época.

Equilibrismo

Eram inúmeras as exibições que envolviam o equilíbrio de e sobre objetos, também conhecidas como funambulismo. Equilibrando-se sobre superfícies como cordas, cavalos, escadas ou esferas, os circenses equilibravam taças, espadas e pianos de forma complexa em suas funções. “A ascensão da bola em espiral”, exibida no Circo Olímpico da Guarda Velha em 1861, consistia em subir caminhando sobre uma bola por uma íngreme rampa em espiral. Também, Maria Spelterini e Blondin fascinaram a capital do Império em 1877 com arriscadas travessias sobre corda no teatro-circo da Rua do Lavradio. Spelterini realizou até travessias dançando, de olhos vendados e com cestos atados aos pés e, ainda, cruzou pela corda de ponta a ponta do circo com um espectador sobre suas costas.

Mágica/ilusionismo

Surpreendentes números de magia e ilusionismo desafiavam os mais céticos. No Circo Americano de Walter Waterman, no Rio de Janeiro em 1872, o prestidigitador com suas ligeirezas de mãos fazia desaparecer objetos entre os dedos à vista de todos; o Homem Mosca, em 1862, andou sobre uma prancha lisa no alto do Circo New York de cabeça para baixo e sem nenhum tipo de gancho em seus sapatos; em 1876, a Companhia de Fenômenos do Sr. Schumann apresentou, no Circo Olímpico da Rua da Guarda Velha, um extraordinário ato de teletransporte. Essas misteriosas atrações faziam parte de várias companhias no Brasil no início do século XIX, e muitos mágicos, ilusionistas e prestidigitadores autônomos frequentemente eram contratados para os espetáculos de circo.

Arte equestre

Além das multifacetadas apresentações equestres, os circenses foram mestres de equitação de homens e mulheres e difusores de raças equestres no país. A família Guillaume oferecia aulas de arte de cavalaria a senhoras dentro do próprio circo em 1849 e vendeu em leilão cerca de oito raças de cavalos estrangeiros. Das exibições, destacam-se as marchas, os saltos, as montarias e as acrobacias realizadas sobre o animal e os exercícios de alta escola, na qual, com elegância, precisão e sincronia, cavalo e cavaleiro executavam movimentos como se fossem um só. Em busca do extraordinário, tudo podia ser feito sobre os cavalos, considerados também artistas. O protagonismo desses animais justificava o termo circos de cavalinhos.

Adestramento

O adestramento de animais selvagens era comum em muitas companhias circenses. Em 1877, o Mr. Barnabó exibia o manejo de urso, porco-espinho, hiena, macacos africanos e cachorros; Carlos Farirrigton, em 1859, adestrava cavalos e burros do subúrbio do Rio de Janeiro no picadeiro do Circo Olímpico da Guarda Velha e diante do público; o Sr. Loyal e sua trupe apresentavam papagaios, gatos e macacos sábios; e João Miguel de Faria, diretor do Circo União, comprava cobras capturadas na corte e as adestrava aos olhos atônitos da assistência. Os circenses, conhecedores e criadores de técnicas de adestramento, atuaram de diferentes formas nesse ofício, como Giuseppe Chiarini, que foi membro do Jockey Clube Fluminense e adestrou um cavalo para o Conde d’Eu, esposo da Princesa Isabel.

Música

A música permeava todo o espetáculo circense – tocada pela banda do circo ou por bandas militares e civis contratadas, ou apresentada em um número de equilibrismo no qual a artista soprava uma flauta de cabeça para baixo, ou mesmo executada pelos palhaços-excêntricos-musicais. Era comum os circenses tocarem e cantarem. Os artistas sempre incorporavam os ritmos e instrumentos tradicionais dos países que visitavam e os levavam ao longo de suas viagens, tornando-se grandes divulgadores das mais diversas produções musicais. Pelo rufar dos tambores, por um serrote tocado com arco ou pela canção lírica cantada em uma pantomima circense, a música dava o tom dos espetáculos e sempre foi uma de suas expressões fundamentais.

Teatro

As representações teatrais sempre compuseram os espetáculos que seriam denominados de circo em fins do século XVIII, pois os artistas que passaram a atuar nesse modo de produção eram herdeiros de múltiplas expressões, entre elas a encenação teatral. No circo, qualquer apresentação, dos números acrobáticos às hilaridades do palhaço, das pantomimas e dos hipodramas ao voo no trapézio, é expressão da teatralidade circense, pois mobiliza gestos, coreografia, figurino, música, iluminação e comunicação com o público. Assim, mesmo sendo comum a exibição de melodramas, farsas, operetas, comédias, leituras dramáticas, pantomimas equestres e diversos outros gêneros, a teatralidade circense é uma junção complexa de expressões, práticas e saberes, que vai além de uma peça teatral.

Dança

Entre acrobacias, equilíbrios, ritmos diversos e muitas misturas, as danças agitaram a programação dos circos. O ator, equilibrista e acrobata José Chiarini, em 1835, no Rio de Janeiro, dançou sobre a corda à moda camponesa com dois balaios nos pés e também uma marcha asiática equilibrando uma criança; em 1852, a companhia de Berthaux e Maurin dançou a polca brasileira, e a família Fouraux um lundu brasileiro sobre pernas de pau; os acrobatas Cesar e Vicente Casali dançaram o jocoso can-can caricato em 1870; e, como não poderia faltar, o palhaço dançou a chula cantando e tocando viola em 1861 no Circo da Guarda Velha. Sobre cordas ou cavalos, cantando, tocando ou saltando, com seriedade ou jocosidade, os circenses incorporaram, misturaram e transformaram os mais diversos estilos de dança e ritmos.

Ginástica

Nas escolas, nos clubes, quartéis e circos, as variadas práticas ginásticas eram muitas e misturadas. Desenvolvidas por médicos, militares, educadores e atletas, eram praticadas por homens, mulheres e crianças. Os circenses foram importantes difusores e influenciadores dessas práticas no Brasil, afirmando-se como detentores de múltiplos saberes sobre o corpo significativos para a construção de uma educação do corpo no período. Definir o que era a ginástica no circo e fora dele é difícil por causa da multiplicidade de práticas que abarcava, de sujeitos envolvidos com seu ensino e de espaços que a promoviam. Dentro e fora do circo, a definição de ginástica ia do trapézio aos equilibrismos. Mesmo o ato de fazer um número de trapézio preso ao cesto de um balão em pleno voo era chamado de ascensão ginástica aerostática, conforme ocorreu no Rio de Janeiro em 1862.

Variedades

A diversidade circense exibiu sempre as mais variadas atrações. No Brasil, os circos apresentaram desde números de fogos de artifício até o homem sem braços, que fazia a barba, tocava violino, jogava pião e montava um cavalo; desde exibições de Hércules levantando incríveis pesos até disputas de lutas romanas, boxe, capoeira e mesmo jiu-jitsu. As variedades exibidas pelos artistas no Brasil comportavam inclusive o homem/a mulher projétil, lançados por um canhão até um trapézio fixado no alto do circo, e ainda o engolidor de espadas, que deglutiu a bengala de um espectador. Entre mulheres que jejuavam por dias vigiadas pelo olhar atento do público e artistas que imitavam instrumentos musicais com a voz, além de outras tantas atrações, os circos levavam o extraordinário de forma criativa em suas transformações constantes.

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Propagandas

As peças gráficas de divulgação do circo carregam uma identidade única no uso da linguagem e na diagramação do texto. Veja abaixo os cartazes de algumas das peças de que Benjamim participou.

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