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Teatralidade circense

Pode-se definir o circo-teatro como a produção da teatralidade nos espetáculos circenses, algo que sempre permeou a organização e a produção dos artistas circenses – desde a consolidação do circo como categoria profissional no final do século XVIII. O gênero, no entanto, ganhou força e fama entre o final do século XIX e meados do século XX, tendo um importante papel na democratização do acesso ao teatro popular uma vez que as companhias teatrais se restringiam aos centros urbanos. O circo, por sua inerente característica itinerante, viajava de cidade a cidade apresentando as mais variadas formas de expressão artísticas.

Benjamim de Oliveira é reconhecido como um dos importantes artistas e empreendedores a consolidar o circo-teatro nacional. A partir dos anos 1900, foi autor, adaptador, parodista e diretor de textos e músicas de diversos espetáculos: pantomimas, peças de costumes, revistas, operetas, farsas e mais.

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O circo-teatro e o artista nato

Erminia Silva, Maurício Tizumba e Wildson França comentam o circo-teatro e a formação de Benjamim, que tinha um conhecimento geral de artes e desempenhava diferentes tarefas: escrevia, compunha músicas, atuava, era protagonista. Tizumba e França falam ainda do racismo estrutural com que Benjamim convivia e ainda hoje convive – por um apagamento de sua história.

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“O circo nasceu circo-teatro, música, acrobacias e saltos, enfim [...] Benjamim deu a visibilidade do quanto o teatro já era constituído nos processos formativos. E ele vai passar por famílias muito significativas que já realizavam circo-teatro há muito tempo.”

Erminia Silva em entrevista à "Ocupação Benjamim de Oliveira"

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Cena da pantomima "D. Antônio e os Guaranys", com Benjamim de Oliveira como Pery e Ignez Cruzet como Ceci, em 1902, quando estreou em São Paulo, no Circo Spinelli. A mise-en-scène ficou a cargo de Benjamim e do palhaço Mr. Cruzet, e parodiou o romance "O Guarani", de José de Alencar (Fonte: SILVA, Daniel Marques da. Do moleque beijo ao mestre de gerações. Repertório – teatro & dança, São Paulo, ano 13, n. 15, p. 131-136, 2010. Acervos Erminia Silva/Família de Benjamim de Oliveira)

Cena da pantomima D. Antônio e os Guaranys (episódio da história do Brasil), com Benjamim de Oliveira como Pery e Ignez Cruzet como Ceci, em 1902, quando estreou em São Paulo, no Circo Spinelli. A mise-en-scène ficou a cargo de Benjamim e do palhaço Mr. Cruzet, e parodiou o romance O Guarani, de José de Alencar (Fonte: SILVA, Daniel Marques da. Do moleque beijo ao mestre de gerações. Repertório – teatro & dança, São Paulo, ano 13, n. 15, p. 131-136, 2010. Acervos Erminia Silva/Família de Benjamim de Oliveira)

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Benjamim de Oliveira representando Pery em uma cena da pantomima "D. Antônio e os Guaranys (episódio da história do Brasil)", em 1902. Todo o figurino de Pery foi produzido pelo próprio artista (Fonte: SILVA, Erminia. Circo-teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil, 2009, p. 212. Acervos Erminia Silva/Família de Benjamim de Oliveira)

Benjamim de Oliveira representando Pery em uma cena da pantomima D. Antônio e os Guaranys (episódio da história do Brasil), em 1902. Todo o figurino de Pery foi produzido pelo próprio artista (Fonte: SILVA, Erminia. Circo-teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil, 2009, p. 212. Acervos Erminia Silva/Família de Benjamim de Oliveira)

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“Teatro na porta de casa. O Rio é muito grande e o povo quer teatro na porta de casa. Teatro fixo poderá satisfazer uma parte, mas não todos. Para que, de modo geral, fiquem satisfeitos é necessário que o pavilhão vá a todos os lugares, em toda a parte. Daí a nossa instabilidade. Organizar companhia para um subúrbio apenas, não resolveria de modo algum o problema de divulgação da arte cênica.”

Benjamim de Oliveira, 1940

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Autor, diretor, precursor e empreendedor das artes

Erminia Silva, pesquisadora e autora do livro “Circo-teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil”, comenta a multiplicidade de Benjamim na produção de montagens e sua atuação como diretor. Ela cita ainda algumas de suas peças e inovações, como o uso de projeções elétricas e a abolição do ponto. O ator, produtor e palhaço Wildon França ressalta a importância da atuação de Benjamim como empreendedor e produtor e o reconhecimento por sua atuação nessas e em tantas áreas.

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Divulgação de Benjamim de Oliveira e Cândida Leme na peça "A filha do campo". Anunciada como “farsa-fantástica-dramática” e escrita por Benjamim de Oliveira, era composta de três quadros e ornada com 17 números de música, que teriam sido escritos por Irineu de Almeida (Acervo Carlos Alberto Roque)

Divulgação de Benjamim de Oliveira e Cândida Leme na peça A filha do campo. Anunciada como “farsa-fantástica-dramática” e escrita por Benjamim de Oliveira, era composta de três quadros e ornada com 17 números de música, que teriam sido escritos por Irineu de Almeida (Acervo Carlos Alberto Roque)

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Circo Spinelli

Entre seus parceiros mais duradouros está o Circo Spinelli, do artista e empresário Affonso Spinelli. Com esse circo, a partir de 1900, Benjamim circulou por Minas Gerais e São Paulo e, em 1905, fixou residência no Rio de Janeiro. Ambos se mantiveram juntos até 1920.

Um dos primeiros trabalhos adaptados por Benjamim de Oliveira foi a pantomima D. Antônio e os Guaranys, inspirada em O Guarani, romance de José de Alencar. Benjamim representou Pery. O espetáculo foi um dos principais atrativos do Circo Spinelli naquela década.

Poucos anos depois, Benjamim assumiu a função de diretor artístico do Circo Spinelli, dirigindo equipes de artistas, ensaiando espetáculos e escrevendo seus próprios textos – entre eles, O diabo e o Chico, O negro do frade, A filha do campo, O colar perdido, Tudo pega, A viúva alegre, Os pescadores, Greve num convento, Os irmãos jogadores e À procura de uma noiva.

A teatralidade de Benjamim de Oliveira chamou a atenção da crítica especializada, que centralizou em sua figura um dos principais nomes do circo-teatro no Brasil. O crítico e dramaturgo Arthur de Azevedo publicaria em 23 de fevereiro de 1907 uma crônica que convidava todos os intelectuais a descobrir essa nova produção que emergia dos espetáculos circenses.

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Crítica com fotografias da opereta "A viúva alegre", encenada no picadeiro do Circo Spinelli por sua companhia de artistas em 1910. Destaque para a equilibrista circense Lili Cardona como a personagem principal, Anna Glavari (Fonte: revista Fon fon, Rio de Janeiro, ano IV, n. 13, 26 mar. 1910, p. 10)

Crítica com fotografias da opereta A viúva alegre, encenada no picadeiro do Circo Spinelli por sua companhia de artistas em 1910. Destaque para a equilibrista circense Lili Cardona como a personagem principal, Anna Glavari (Fonte: revista Fon fon, Rio de Janeiro, ano IV, n. 13, 26 mar. 1910, p. 10)

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Circo Teatro Dorby

Depois de romper com Spinelli, Benjamim ainda passou por algumas poucas companhias até o Circo Teatro Dorby, do qual foi sócio. O circo teve direção-geral do ator Euclydes Monteiro e de Clotilde Dorby, sua esposa e atriz; e direção teatral de Benjamim de Oliveira.

Disse ele: “Com Euclydes Monteiro, na companhia Dorby trabalho desde 1931-32, época em que a fundamos. Compramos o circo fiado por 16 contos de réis de João França. Sua senhora, Clotilde Dorby, que dá nome à companhia, foi estrela do Democrata Circo durante 10 anos”.

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Benjamim de Oliveira em frente ao Circo Teatro Dorby, do qual era sócio e diretor teatral, na década de 1940
Benjamim de Oliveira em frente ao Circo Teatro Dorby, do qual era sócio e diretor teatral, na década de 1940 (Fonte: revista Comoedia, Rio de Janeiro, ano II, n. 5, mar. 1947, p. 80. Acervos Erminia Silva/Família de Benjamim de Oliveira)

Benjamim de Oliveira em frente ao Circo Teatro Dorby, do qual era sócio e diretor teatral, na década de 1940 (Fonte: revista Comoedia, Rio de Janeiro, ano II, n. 5, mar. 1947, p. 80. Acervos Erminia Silva/Família de Benjamim de Oliveira)

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