Sobre
Em “A bibliocasa de Haroldo de Campos”, a curadora e professora Gênese Andrade afirma:
“As marcas de leitura que Haroldo inscreveu em seus livros, com raras exceções, não constituem reflexões nem sequer frases. Trata-se de grifos com canetas coloridas, sem que se possa identificar um critério no uso das cores, e da anotação de palavras, às vezes abreviadas, nas margens dos textos.”
Ainda segundo ela, “às vezes, há remissões a outros textos ou autores, nas margens ou no rodapé. Nesse “escrever sobre escrever”, temos ao mesmo tempo um recurso minimalista e barroco, pois as palavras soltas sintetizam o texto, mas são às vezes excessivas, tal como os grifos. Assim, converte as páginas em um mosaico, curioso processo de reflexão e criação que ainda merece ser estudado”.
Nessa seção, acompanhe o diálogo de Haroldo de Campos com outros escritores da literatura brasileira e internacional.
Ezra Pound
É com base em Ezra Pound que os poetas concretos adotam a palavra grega paideuma para designar “o elenco de autores cujas ideias servem para renovar a tradição”, selecionando inicialmente quatro poetas estrangeiros: Stéphane Mallarmé, James Joyce, e.e. cummings e o próprio Pound. É também dele que vem o vocábulo noigandres, resgatado de Arnaut Daniel, escolhido para designar o grupo e sua publicação pioneira. Haroldo e Augusto de Campos começam a se corresponder com Pound em 1953. Em 1957, quando este se encontrava já havia alguns anos internado no St. Elizabeth Hospital, em Washington, considerado louco, iniciam um movimento por sua libertação, tentando, junto às autoridades locais, um convite para que ele viesse lecionar literatura no Brasil. Em 1959, quando realiza sua primeira viagem à Europa, Haroldo visita-o em Rapallo. Inúmeros exemplares de sua obra com anotações atestam a leitura exaustiva tanto dos Cantos, que virá a traduzir, quanto de seus ensaios.
Anotações (1)
Anotações (2)
Anotações (3)
Anotações (4)
Anotações (5)
Anotações (6)
Datiloscrito (1)
Datiloscrito (2)
Octavio Paz
Haroldo começa a se corresponder com Octavio Paz em 1968. Além de leitor de seus ensaios e interlocutor constante, Haroldo passa a ser o pioneiro tradutor de sua poesia no Brasil, publicando-a, acompanhada de ensaios, em Constelação e Os signos em rotação, de 1972, e Transblanco, edições de 1986 e 1994. Seu poema Blanco dialoga com Galáxias, ambos herdeiros de Mallarmé, iniciados paralelamente, mas quando os dois poetas ainda não se conheciam, assim como os Discos visuales flertam com a poesia concreta. As inúmeras dedicatórias de Paz a Haroldo e as anotações deste nos livros atestam o intenso diálogo que travaram por cerca de 30 anos.
Anotações (7)
Anotações (8)
Anotações (9)
Anotações (10)
Anotações (11)
Anotações (12)
James Joyce
James Joyce é um dos autores fundamentais para os poetas concretos, os quais têm especial interesse em sua obra Finnegans Wake. Em 1962, publica-se Panaroma do Finnegans Wake, tradução de fragmentos desse livro realizada por Haroldo e Augusto de Campos. Haroldo participou da fundação da Sociedade Brasileira de Estudos Irlandeses e de todas as edições do Bloomsday, evento realizado em São Paulo desde 1988, como ficou registrado no caderno organizado por Carmen de Arruda Campos.
Finnegans Wehg: Kainnäh ÜbelSätzZung des Wehrkess fun Schämes Scheuss (1)
Finnegans Wehg: Kainnäh ÜbelSätzZung des Wehrkess fun Schämes Scheuss (2)
Finnegans Wehg: Kainnäh ÜbelSätzZung des Wehrkess fun Schämes Scheuss (3)
Item exposto na instalação H LÁXIA, na sede do Itaú Cultural
Roman Jakobson
Haroldo conhece Roman Jakobson na Califórnia, em 1966. Quando o linguista vem ao Brasil, em 1968, ele o saúda nas páginas do Correio da Manhã, com o texto “O poeta da linguística”, no qual faz um apanhado de sua obra para o público brasileiro. Suas ideias são fundamentais para as reflexões de Haroldo, especialmente quanto à dialética entre o som e o sentido, à função poética da linguagem, aos polos da linguagem (a metáfora e a metonímia) e à complementaridade dos conceitos de sincronia e diacronia.
Anotações (13)
Anotações (14)
Anotações (15)
Anotações (16)
Datiloscrito (3)
Datiloscrito (4)
Max Bense
Em 1959, Haroldo entra em contato com Max Bense e encontra-se com ele em Stuttgart. Assim se inicia um importante diálogo, que culminará com a divulgação da poesia concreta na Alemanha por meio de exposições e publicações realizadas por Bense, e com a circulação de ensaios dele no Brasil, traduzidos por Haroldo. As ideias do filósofo alemão foram fundamentais para as reflexões do brasileiro sobre teoria da poesia e da tradução. Bense referia-se a Haroldo como “locomotiva de São Paulo”, enquanto Haroldo dizia que Stuttgart era Max Bense, assim como São Paulo era Oswald de Andrade.
Anotações (17)
Anotações (18)
Anotações (19)
Anotações (20)
Anotações (21)
Umberto Eco
Em 1955, Haroldo de Campos publica, no Diário de S. Paulo, o artigo “A obra de arte aberta”, no qual aborda obras de estrutura aberta e sintaxe estrutural com perspectivas revolucionárias, precedendo em seis anos a apresentação de ideia semelhante por Umberto Eco em Opera aperta. Ao tomar conhecimento do artigo de Haroldo, Eco aproxima-se dele espantado e ambos se tornam amigos. É na dedicatória de Lo strano caso della Hanau 1609, de 1989, entre as várias que se encontram nos livros da biblioteca de Haroldo, que fica expressa essa “afinidade eletiva” de forma concisa: “A Haroldo plagiário profético”, datada de Milão, 1991.