Das majestades que o bloco desperta, tem uma que é divindade: a Deusa do Ébano. Eleita durante a Noite da Beleza Negra, festa que ocorre há 39 anos e idealizada por um dos frequentadores do bloco, Sérgio Roberto dos Santos, a partir dos concursos de rainhas do Carnaval. Nos anos anteriores, de 1976 a 1978, antes de a festa ter nome, o concurso elegeu três rainhas.
A primeira escolhida, em 1976, foi Mirinha (Maria de Lourdes Cruz – Salvador, 1958); a mais recente, de 2018, é Jéssica Nascimento (Salvador, 1998).
A festa subverte a proposta dos concursos de beleza tradicionais, como tudo o que se faz no Ilê Aiyê, tornando-se um evento de celebração da raça negra. Em sua dimensão política e plástica, o concurso é um exercício de autovalorização e de decomposição dos discursos racistas. Em cada candidata, reconhecem-se diversas gerações de mulheres negras e a valorização do corpo negro se dissemina, se transformando na valorização do corpo social.
O espetáculo ocorre antes do Carnaval. É aberto por um cortejo coreografado, com figurinos e adereços da diretora artística e estilista do bloco, Dete Lima. Desse cortejo, em 1985, nasceu o Grupo de Dança do Ilê Aiyê.
A programação da noite segue com a apresentação das candidatas – com roupas do Ilê e fantasias individuais. É escolhida a vencedora e ocorre a passagem do manto da deusa eleita no ano anterior. Não se usam os padrões de idade ou de medidas para definir a vencedora. O que faz valer a vitória é a força da deusa em envolver a plateia e os jurados com sua simpatia e performance.
A eleita é destaque nas saídas do bloco no Carnaval e participa de todas as suas atividades durante o ano. É consenso que o concurso tem como resultado a consciência de pertencimento étnico-racial e suas reverberações no campo político. São mulheres conscientes de sua dimensão social.