o último carro
Ele tinha defeitos, moço. O senhor não tem?
Ele era tão diverso do senhor, moço, e, no entanto, igual.
Ele ia para o trabalho de trem. E o senhor, moço, permita,
Como viaja?
De ônibus, carro, avião? Seu trem tem rumo?
Aonde o conduz?
À estação mais próxima? O senhor, moço, perdoe.
Qual é a estação mais próxima?
A mesma de ontem? A mesma de ontem?
A MESMA de ontem?
A MESMA DE ONTEM?
[O Último Carro, texto escrito por João em 1964]
Os Azeredos mais os Benevides
Ilka Zanoto: Sentinela contra os marginalizados
JN perambula pelo país tendo como bússola os quatro pontos cardeais e como alvo o protagonismo do povo brasileiro. Deslocando-se geograficamente – tendo o próprio corpo como local de experimentação –, traz à luz as vivências de índios do Acre, de trabalhadores dos trens suburbanos, de mulheres ofendidas em textos reivindicatórios (em parceria com Simone Hoffmann, que durante 15 anos o assessorou em realizações como Mural Mulher e Antígona), de torturados à morte nos porões da ditadura militar, de negros de Minas Gerais, de gentes do Vale do Jequitinhonha…
É nas congadas ou nas magias de Titane (nas palavras de João das Neves, seu marido, Titane é artista “dedicada à criação de espetáculos cênicos musicais em que um conjunto coral alcança uma performance próxima àquela dos folguedos populares”), com seu Campo das Vertentes, que o autor atinge a plenitude da beleza em espetáculos miríficos e eivados de sons e luzes encantatórios.
Recomendo enfaticamente o livro Titane e o Campo das Vertentes, no qual se casam as reflexões de João e de múltiplos e inspirados colaboradores e as fotografias que registram o trabalho da dupla que há tantos anos enfeitiça Minas, Brasil e o mundo. Mil palavras que eu escrevesse não resgatariam sequer uma página desse livro, que faz jus à nossa “Aquarela do Brasil”:
Brasil, meu Brasil brasileiro
Meu mulato inzoneiro
Vou cantar-te nos meus versos […]
Ô, abre a cortina do passado
Tira a mãe preta do cerrado
Bota o rei congo no congado
Brasil… Brasil…
Não nos esqueçamos jamais que, sem nunca perder a ternura, JN é sentinela intimorato dos malfeitos perpetrados contra os marginalizados, os humilhados e ofendidos de nosso país, resgatando-os através de sua arte maior.
Ilka Zanoto é crítica e pesquisadora de teatro. Durante as décadas de 1970 e 1980, foi voz ativa contra a repressão do período militar.
Pedro Páramo
Pedro Páramo
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Pedro Páramo
Narração do texto de Pedro Páramo (2001), adaptada e dirigida por João a partir do romance homônimo do escritor mexicano Juan Rulfo | imagem: Guto Muniz
Aos Nossos Filhos
Aos Nossos Filhos
txai
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Yuraiá: o teatro como espaço de convivência
Titane é cantora. Seu trabalho cria diálogos com a cultura popular – com destaque para o congado – a música e as artes cênicas. O show Titane e o Campo das Vertentes (2009) tem direção de João, seu marido.