por Gabriela Mellão
De personificação de objeto manipulável a símbolo de liberdade e autonomia – esse é o percurso empreendido pelo personagem central de Casa de Boneca, clássico de 1879 do dramaturgo Henrik Ibsen. A obra é a representação maior do primeiro sopro de feminismo dos palcos modernos. Nela, a protagonista Nora Helmer abandona marido e filhos na busca por sua identidade. Também pratica ilicitudes, conduzida por uma moral bastante singular.
A recusa de Nora em viver uma vida de subordinação, juntamente com sua ética particular e a força com que a personagem desvela a hipocrisia social de seu tempo, fez de Casa de Boneca o primeiro sucesso internacional do autor norueguês.
A independência de Nora escandalizou, em escala global, o conservadorismo dos séculos XIX e XX. No Brasil, o papel foi imortalizado por Laura Cardoso. A atriz misturou realidade e ficção ao encarnar a personagem no programa Grande Teatro Tupi, da TV Tupi, em 1958, defendendo a independência dessa mulher ao lado do marido, Fernando Balleroni, que interpretou Torvald Helmer.
Na releitura apresentada na Ocupação Laura Cardoso, a abertura dramatúrgica deixada por Ibsen serve-me de auxílio para tornar Casa de Boneca uma obra essencialmente contemporânea. Apoiada na ambiguidade de Nora e no compromisso de manter-me fiel ao original, procuro revitalizar o clássico inserindo em sua leitura valores determinantes da sociedade atual.