“Há quem pense que nasci nos tempos dos amigos e das petecas, nos tempos da taba eletrônica que se espalhava pela cidade grande sob o olhar curioso de quem nem imaginava o que estava por vir, mas eles estão enganados. Eu venho de muito atrás, lá longe, lá da poeira do vento sob as rodas da carroça, da própria roça, das cordas da viola ditando o compasso dos passos, da lenha do fogão erguido no solo campesino. Matuto, caboclo, urbano, sertanejo. Brasileiro.”
“Amarra o teu arado a uma estrela”, título da composição de Gilberto Gil tema da abertura da novela O Salvador da Pátria (1989), é também o nome do roteiro da Ocupação Lima Duarte. Escrita por Daniel Veiga, a narrativa conduz o público pelo universo onipresente do ator, passeando por seis estações sensoriais, cada uma com a sua história: a origem de Lima em Desemboque (MG); a chegada à cidade e o entendimento da arte como ofício; a liberdade encontrada no cinema e no teatro; a paixão pelos livros e por Guimarães Rosa; os anos de televisão; e, por fim, a volta para onde tudo começou.
Lima, em off, diz: “Se, como ouvi dizer, onde tem gente tem baile e tem guerra, pude dar testemunho, ainda que num lampejo, da gente que fui e que ainda sou. E eu não ando só. Esse povaréu que se fez em mim nas tantas andanças, como lua e flor, essa imensidão da palavra que me levou a outras tantas paragens e paisagens, me juntou e ainda me junta à multidão de gente deste país tão grande, tão diverso e tão bonito. Essa gente é abrigo e fortaleza. A gente desta terra me atravessa na descoberta diária das cidades, dos rincões e dos sertões que, como Guimarães, continuam entrando pelos sete buracos de minha cabeça. Que privilégio ser parte deste mundo de encantamentos, deste solo de bem-amados e Zeca Diabos que faz o Brasil ser o que ele é. Assim, sou todos eles e sou o mesmo: Ariclenes e Lima, muito prazer, um brasileiro!”.