Era uma vez uma menina que, mesmo depois de crescida, continua a se encantar com o novo: Lydia Maria Hortélio Cordeiro de Almeida nasceu em 1932, na cidade de Salvador (BA), e, desde então, passou a exercer uma curiosidade irrestrita em relação ao seu entorno. Filha de José Cordeiro de Almeida, homem da dança e cantador de causos, e Lydia Hortélio da Silva, de quem herdou o nome, doces de banana e goiaba, além do gosto pela poesia. Cresceu em Serrinha, sertão baiano, e ali descobriu o modo do humano existir em sua completude: brincando – com voz solta, pulos, rodas, uma infinitude de jeitos de ser livre.
Desde pequena, dedicou-se à música. Graduada em Piano e Canto Orfeônico, na capital soteropolitana, foi para a Europa, estudar na Alemanha, em Portugal e na Suíça – até ser tocada pelo desejo de se debruçar nas cantigas que a embalaram e embalam as crianças do Brasil. Voltou para a Bahia e construiu uma vida e uma pesquisa que ultrapassa a esfera acadêmica e se conecta à terra. O seu trabalho enfatiza a importância daquilo que é lúdico e pertencente ao povo. Ao lado de mestres e mestras, registrou histórias de tantas manhãs, cantorias de belezas genuínas e um elemento essencial: o saber ver. Ver como um guardador de rebanhos: a alma das flores, dos rios, da vida ordinária. Ver e aprender com as culturas da infância.
Essa disponibilidade para sentir o outro, essa entrega ao que é simples e fascinante, essa junção natural de movimento, som e autonomia: tais características, tão presentes em Lydia, permeiam a 45ª Ocupação Itaú Cultural. Realizada em parceria com o Instituto Alana, a mostra reúne depoimentos em áudio e vídeo, fotos e exemplos de acalantos, brincos e brinquedos, tudo em um ambiente que busca realçar a memória e o afeto fortalecidos pela também educadora. A prática como professora, aliás, corrobora a sua convicção de que um mundo diferente surgirá por meio da revolução dos pequenos.
Essa homenagem estende-se por uma publicação (a qual conta, com lirismo de palavras e imagens, a trajetória da observadora da Fazenda de Grota Funda) e este site, que traz conteúdos exclusivos.
E agora, como quem senta no degrau da porta da casa, convide sua criança eterna e prepare-se para brincar com cinco pedrinhas e, entre uma jogada e a próxima, experimente o novo e desfrute de um conhecimento sensível que teve início assim: era uma vez uma menina…