O ser humano completo

“O homem só é inteiro quando brinca, e é só quando brinca que ele existe na completa acepção da palavra homem.” Lydia Hortélio costuma citar essa fala do ensaísta e poeta alemão Friedrich Schiller quando se refere ao papel fundamental do brincar na vida de uma pessoa. É brincando que a criança – ou o adulto que não chegou a abandonar sua porção infantil – evidencia seu estado de abertura para o mundo, sua irrestrita e contínua curiosidade e a naturalidade com que funde o pensar e o agir.

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Um novo mundo

Regina Machado, estudiosa das histórias de tradição oral, fala sobre a natureza genuína, disponível e curiosa das crianças. Stela Barbieri, artista plástica e consultora nas áreas de educação e artes, comenta essa abertura infantil a fazer as perguntas mais essenciais da existência humana, enquanto Gandhy Piorski, também pesquisador no campo da educação, apresenta as diferentes formas de as crianças e os adultos enxergarem o mundo. E o artista Adelsin, por sua vez, explica a importância da cultura da criança para a formação de adultos com capacidades criadoras e de aprendizado preservadas.

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acervo Lydia Hortélio

Trecho da estrofe VIII do poema “O Guardador de Rebanhos”, de Alberto Caeiro – um dos heterônimos de Fernando Pessoa –, transcrito por Lydia Hortélio.

Na obra, bastante citada pela pesquisadora, o poeta narra um encontro que teve, em sonho, com o menino Jesus. Escapado do céu – onde “tinha que estar sempre sério”, onde vivia morrendo na cruz, o tempo todo com a coroa de espinhos na cabeça e com os pés trespassados de pregos –, o rapaz passa a viver na aldeia do eu lírico, interagindo, se encantando e se divertindo com as coisas e os seres da natureza – e dividindo essas experiências todas com o narrador.

Em outro trecho, o poeta define o menino nestes termos:

“Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.”