por Diana Migliorini
Participar da Ocupação Machado de Assis foi uma experiência desafiadora e que revelou conexões profundas entre a obra do escritor e a minha vivência pessoal. A minha participação nesse projeto ganhou vida nas aulas ministradas por Alcides Villaça, professor da Universidade de São Paulo (USP), cujo conhecimento ampliou o meu horizonte.
No início da minha trajetória leitora, o meu contato predominante com filmes e livros estrangeiros gerou um pequeno preconceito em relação à literatura brasileira. Na escola, as lições que envolviam autores nacionais nunca pareciam tão cativantes quanto as obras internacionais que já me fascinavam. Foi somente por meio da participação na aula sobre o Bruxo do Cosme Velho que percebi a riqueza e a relevância da literatura brasileira. A profundidade das análises construídas deixou evidente a capacidade de nossos autores (Machado e outros) em abordar questões universais e complexas. Essa experiência não apenas quebrou o meu preconceito inicial, como também me mostrou que a nossa ficção pode enriquecer o nosso entendimento do cotidiano, oferecendo perspectivas únicas e valiosas que transcendem fronteiras culturais.
O texto escolhido para análise, “O caso da vara”, apresenta-se como um portal para compreender a essência humana, algo que transcende as páginas e se entrelaça com filosofias que explorei anteriormente. De modo surpreendente, percebi paralelos entre os pensamentos de Machado de Assis e as reflexões do filósofo Schopenhauer, que estudei um pouco.
O conto abordado é instigante. Ao lê-lo sozinha, tive a impressão de que a narrativa explora o tema da covardia. No entanto, à medida que a análise se aprofundava, tornou-se perceptível um dilema moral envolvendo a decisão de honrar ou não uma promessa direcionada à própria consciência. Nesse sentido, a trama desafia o imperativo categórico proposto por Kant, dando espaço a uma consideração que se alinha mais com a perspectiva de Schopenhauer. Este argumenta que, devido à natureza caótica do mundo, a realização de atos morais é impossível, questionando a viabilidade de seguir estritamente princípios éticos. Durante a aula, descobri que Machado de Assis acompanhava as ideias de Schopenhauer, fato que me deixou perplexa e curiosa para saber mais a respeito do nosso autor.
O escrito machadiano é uma lente através da qual pude vislumbrar as complexidades da natureza do ser humano e as nuances ocultas da psique. A aula ministrada pelo professor Villaça correspondeu a uma porta de entrada para inspirar os alunos. O método ativo de análise de texto não apenas me cativou, mas também proporcionou uma abordagem envolvente, despertando o interesse pela leitura. Em razão dessa abordagem dinâmica, a sala de aula tornou-se um espaço onde a apreciação da literatura é uma jornada cativante, incentivando os estudantes a explorar mais o vasto mundo das obras literárias nacionais.
O projeto Ocupação Machado de Assis ampliou o meu repertório literário e me proporcionou uma transformação pessoal significativa. A interseção entre literatura e filosofia me dá outras percepções sobre mim mesma e o mundo ao meu redor.
Diana Migliorini é, em 2023, estudante da E.E. Maria Trujilo Torloni.