Lagarto, pedra, lata, porcaria. Na ponta do lápis, o poeta Manoel de Barros (Cuiabá, MT, 1916 – Campo Grande, MS, 2014) exaltou a grandeza dos seres e objetos menos valorizados pela sociedade da máquina, do consumo e do descarte. Pente. Lesma. Caco. Traste. Brincando com as normas da língua, dando às palavras doses de delírio e infância – encolhendo o horizonte no olho de um inseto, por exemplo –, ele monumentou “as pobres coisas do chão mijadas de orvalho”. Os andarilhos. Os pobres-diabos. A poesia.
Embora um não deixasse o outro, Manoel definia a si mesmo como dois seres: um de osso, fazendeiro de gado por herança da família; e outro de linguagem, com vocação para fazer frases. Descobriu a paixão pelas palavras nos Sermões do padre Antônio Vieira, ainda na adolescência, época em que estudava em regime de internato no Rio de Janeiro (RJ), e dali em diante entrou em contato com grandes criações da humanidade: conheceu outros países, leu os clássicos e os modernos de diferentes línguas e culturas. No entanto, foi a infância, vivida no Pantanal Sul-mato-grossense de Corumbá, a fonte maior de todo o seu trabalho criativo. “Sou por isso Proust e sapo. Ou vice-versa”, disse uma vez.
A 43ª edição do programa Ocupação Itaú Cultural resgata a trajetória do artista por meio deste site, de uma publicação impressa – cuja versão on-line pode ser conferida nesta página – e de uma exposição, em cartaz na sede do instituto entre fevereiro e abril de 2019.
A Ocupação Manoel de Barros enfatiza o compromisso do Itaú Cultural em valorizar a literatura brasileira. Além de homenagear outros nomes desse meio de expressão em edições anteriores do programa, o instituto realiza, dentro e fora de sua sede, diversas atividades voltadas para a arte da linguagem.