Nelson como ele é

Nenhuma Simplicidade

Mas o comportamento humano não tem nenhuma simplicidade.

O Óbvio Ululante, cap. 5, p.40.

Compartilhe

Nelson Rodrigues

Fotografia de Nelson Rodrigues
imagem: Silvestre Silva

Compartilhe

A Exposição

Por Maria Lúcia Rodrigues*

Profeta é aquele que enxerga o óbvio, disse muitas vezes Nelson Rodrigues. Atento observador dos dramas humanos, intelectual outsider, artista inaugural. Gênio, capaz de revolucionar o teatro brasileiro e todas as áreas da escrita em que se envolveu. Quais processos produziram esse gênio? Foram as muitas tragédias que sofreu? A passagem pela reportagem policial quando muito jovem trabalhou no jornal de seu pai? Quem percorrer a exposição terá a oportunidade de encontrar outros ângulos desse personagem e ao final, quem sabe, responder a essa perguntas.

A Ocupação Nelson Rodrigues optou por trazer as palavras do próprio Nelson, em suas memórias, buscando que ele desenrole o fio da meada, conte suas experiências, transmita suas opiniões sobre a vida que viveu e as escolhas que fez. Queremos que o próprio Nelson diga como era pequena, mesquinha e hipócrita a sociedade de seu tempo e como ele decidiu ser livre; e para ser livre e poder opinar com a sua consciência tinha de optar pela solidão intelectual.

A curadoria estabeleceu alguns enquadramentos para as palavras do personagem. Escolhemos buscar suas origens, contar como era a cidade em que nasceu e de onde vinha sua família. E ainda trazer para a cena essa família Rodrigues na qual nasceu Nelson. Família de intelectuais e artistas, dos que ficaram no Recife e dos que mudaram para o Rio de Janeiro. Como disse no texto da parede da exposição, eram esses Rodrigues inundados de amor fraterno, sempre juntos, sempre unidos, a base para suportar todas as tragédias que viriam. Leito que permitiu a Nelson exercer seu gênio e sua disposição de menino a dizer quando o rei estava nu.

Nelson nasceu no Recife, em 1912. Seu pai, Mário Leite Rodrigues, foi um jornalista combativo formado pela Escola de Direito do Recife – desde sua criação centro de debates ferrenhos sobre os caminhos para o futuro do país. Ali, discutia-se o “humano e o divino”; no século XIX já se pensava o Brasil. Mário era jornalista experiente quando chegou ao Rio de Janeiro. De 1900 a 1916 havia trabalhado em 13 veículos no Recife, tendo começado a militância muito cedo, aos 15 anos. Revolucionou a forma e o conteúdo do jornal O Recife quando foi seu chefe de redação.

O Recife era no início do século XX a capital mais importante do Nordeste. O espírito arguto e irreverente da cidade produziu intelectuais como Gilberto Freyre, Manoel Bandeira e, entre muitos outros, a família Rodrigues. Vivia-se uma efervescência política e cultural que vinha desde a colônia. Essa efervescência – não obstante o poder e as lutas dos coronéis – certamente influenciava aqueles que viviam por sua conta, como os Rodrigues.

O registro de pessoas com o sobrenome Rodrigues em Pernambuco data do século XVII, talvez final do século XVI. São cristãos novos ou judeus não convertidos, empenhados em buscar uma nova vida no Novo Mundo, livre de perseguições. Encontra-se no Arquivo Judaico de Pernambuco, no que fora a Sinagoga Kahal Zur Israel, uma placa com os nomes daqueles que solicitaram, em 1632, à Companhia das Índias Ocidentais autorização para viajar para o Recife. Ali constam oito sobrenomes Rodrigues. Antes, há o registro de um Francisco Rodrigues, cristão novo, mercador, que se casou com Gracia Dias, ela também cristã nova.

Essa família Rodrigues, da qual descende Nelson, parece ter sido eminentemente urbana, com ocupações urbanas, aparentemente sem vínculos, ou sem vínculos estreitos, com o mundo rural pernambucano. Na mesa dos Rodrigues poderão ser encontrados depoimentos que dão conta dessa urbanidade e de certo clima que já anunciava nas gerações anteriores as tendências criativas que apareceriam mais marcadamente nas gerações seguintes, em Nelson e em seus irmãos ou nos primos, como Augusto Rodrigues, o pintor.

Vale lembrar que o espírito dos Rodrigues se expande, de certa maneira. Na pesquisa realizada no Recife foi possível conhecer os Rodrigues por afinidade, o entrelaçamento de famílias pernambucanas, com maior ou menor parentesco, mas que formam um grupo de criadores culturais, pessoas que também exercem atividades intelectuais e artísticas. Aqui gostaria de citar Geninha da Rosa Borges, grande dama do teatro pernambucano; Reinaldo de Oliveira, fundador e diretor do Grupo Teatro de Amadores de Pernambuco; e Antonio Cadengue, diretor de teatro premiado e professor da UFPE, eles, como os Rodrigues consanguíneos, estão na exposição, emprestando um pouco de seu talento e sensibilidade para falar de Nelson.

* É jornalista, doutora em educação, pesquisadora e professora universitária.

Compartilhe

Seção de vídeo

Não me entendam tão depressa

Antônio Cadengue é diretor e teórico. Desde os anos 1970, destaca-se com uma produção cênica nordestina além da temática rural e da cultura popular. A partir de 1990, novo destaque, dessa vez por sua atenção à discriminação de minorias. Montou cinco peças de Nelson e à época da entrevista preparava a sexta: Doroteia.

Compartilhe

Seção de vídeo

A Revelação do Inconfessável

Eduardo Tolentino é diretor e fundador do Grupo Tapa. Encenou três peças de Nelson: Viúva, Porém Honesta (1983), Vestido de Noiva (1990, 2000) e A Serpente (1999). Conheça o site do Tapa: http://www.grupotapa.com.br

Compartilhe

A Visão do Menino

A aldeia como metáfora do mundo. A humanidade e suas complexas paixões resumidas aos personagens vizinhos de quarteirões, bairros e cidades. Uma forma de emprestar grandeza ao quadro da vida, mesmo que trágica. Uma forma de rir das nossas falhas ao tentar fugir de nossos destinos. Com sorte o sujeito atravessa o mundo, sem sorte não atravessa a rua. Em seu teatro, suas crônicas, seus contos e seus romances passeamos por uma “Divina Comédia” humana suburbana. De um subúrbio de qualquer lugar; de um subúrbio psicanalítico. Algo entre o pesadelo e o sonho.

Marco Antônio Braz, em “A Visão do Menino”, texto do catálogo desta Ocupação

Compartilhe

Seção de vídeo

Compreensão da Grandeza

Marco Antônio Braz é diretor. Fundou e lidera o Círculo de Comediantes. Ganhou projeção por suas montagens de Nelson, iniciadas em 1990: até o período da entrevista, foram 11 montagens de 9 obras rodrigueanas.

Compartilhe

Seção de vídeo

Precisão Silabar

Zé Celso é diretor, autor e ator. Líder do Teatro Oficina, foi ícone da Tropicália e realizou montagens antológicas, como O Rei da Vela, de Oswald de Andrade — cujo impacto é comparável ao da primeira encenação de Vestido de Noiva. De Nelson, montou Boca de Ouro. Zé Celso também foi homenageado do Ocupação.

Compartilhe

Seção de vídeo

Trágico-Cômico-Orgiástico

Zé Celso é diretor, autor e ator. Líder do Teatro Oficina, foi ícone da Tropicália e realizou montagens antológicas, como O Rei da Vela, de Oswald de Andrade — cujo impacto é comparável ao da primeira encenação de Vestido de Noiva. De Nelson, montou Boca de Ouro. Zé Celso também foi homenageado do Ocupação.

Compartilhe

Seção de vídeo

Nelson Mítico

Marco Antônio Braz é diretor. Fundou e lidera o Círculo de Comediantes. Ganhou projeção por suas montagens de Nelson, iniciadas em 1990: até o período da entrevista, foram 11 montagens de 9 obras rodrigueanas.

Compartilhe

Seção de vídeo

Homem da Vida

Zé Celso é diretor, autor e ator. Líder do Teatro Oficina, foi ícone da Tropicália e realizou montagens antológicas, como O Rei da Vela, de Oswald de Andrade — cujo impacto é comparável ao da primeira encenação de Vestido de Noiva. De Nelson, montou Boca de Ouro. Zé Celso também foi homenageado do Ocupação.

Compartilhe

Seção de vídeo

Nelson Rodrigues Hoje

Eduardo Tolentino é diretor e fundador do Grupo Tapa. Encenou três peças de Nelson: Viúva, Porém Honesta (1983), Vestido de Noiva (1990, 2000) e A Serpente (1999). Conheça o site do Tapa: http://www.grupotapa.com.br

Compartilhe

Seção de vídeo

A Obra de Arte Tem que Ser Imperfeita

Arnaldo Jabor é cineasta e cronista. Conheceu Nelson pessoalmente e adaptou uma peça (Toda Nudez Será Castigada) e um romance (O Casamento) seus para o cinema. Segundo o jornalista Ely Azevedo, esses são dois dos três “títulos-chave” da filmografia baseada no autor. Nas crônicas de Jabor, Nelson também aparece — como tema, personagem e influência.