Clientes

Nise da Silveira rejeitava a palavra paciente em relação aos internos dos hospitais psiquiátricos. Ela determinava o uso de clientes para reforçar a relação de troca, mas preferia sempre se referir a eles pelos nomes. Cada pessoa é um universo. São muitas as histórias de reações severas da doutora quando ouvia alguém se referir a seus clientes como pacientes.

Em uma entrevista, retrucou: “Paciente! Que coisa ruim. Paciente é uma coisa passiva. Que se trabalha em cima. Não chamo ninguém de paciente. Considero o maior insulto do mundo”.

Atividades no Engenho de Dentro/foto: autores desconhecidos/Arquivo Nise da Silveira

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Afeto Catalisador

Martha Pires, artista visual e ex-monitora do ateliê do Museu de Imagens do Inconsciente, fala sobre o cliente Raphael Domingues (1973-1979). Nascido em 1913 em São Paulo, Raphael estudou desenho acadêmico no Liceu Literário Português. Foi internado aos 19 anos, mas apenas com 51 começou a frequentar o ateliê de pintura da Seção de Terapêutica Ocupacional. Participou de diversas exposições coletivas e individuais no Brasil e no exterior. Frequentou o ateliê até sua morte, em 1979.

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José Elias

Entrevista com José Elias, cliente do ateliê do Museu de Imagens do Inconsciente

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José Roberto

Entrevista com Zé Roberto, cliente do ateliê do Museu de Imagens do Inconsciente

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Catia

Entrevista com Kátia, cliente do ateliê do Museu de Imagens do Inconsciente

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Verônica

Entrevista com Verônica, cliente do ateliê do Museu de Imagens do Inconsciente

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Estudos

Os estudos realizados por Nise da Silveira com base na produção do ateliê eram realizados de maneira completamente individualizada, sem a criação de códigos rígidos que pudessem ser aplicados indiscriminadamente aos clientes. O afeto e o exercício de escuta que Nise fez nascer entre seus auxiliares e clientes estimulavam cada um a produzir livremente. A análise da série de imagens de um autor possibilitava a ela deduzir significados da produção.

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Como aconteceram transformações tão profundas do ser?

Nota de Nise sobre a cliente Adelina Gomes | Arquivo Nise da Silveira

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Adelina Gomes (1916-1984)

Quando jovem, Adelina se apaixonou por um homem, mas sua mãe não aceitou o relacionamento, reprimindo a filha. Isso fez com que ela se retraísse cada dia mais, até que um dia, em um surto psicótico, estrangulou a gata de estimação da família. Diagnosticada com esquizofrenia, Adelina foi internada no Hospital Psiquiátrico de Engenho de Dentro, aos 21 anos. Em 1946, passou a frequentar o ateliê de pintura e modelagem, momento em que Nise realiza os estudos clínicos dos símbolos que surgem em suas obras. São principalmente imagens arquetípicas femininas – como a ninfa grega Dafne e as deusas gregas Deméter e Perséfone. Aparecem ainda com força as figuras do gato, da mãe, da filha, do homem e da mulher. Antes considerada uma pessoa agressiva e perigosa, Adelina, após o início de seu trabalho no ateliê, tornou-se mais tranquila e centrada. Até sua morte, produziu 17.500 obras, entre o abstracionismo e a figuração.

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Notas sobre o Acompanhamento de Isaac

Isaac Liberato (1906-1966)nasceu no Rio de Janeiro, em 1906. Filho único de uma família de posses, viveu isolado de outras crianças até os 8 anos. Aos 19, ingressou na Marinha Mercante como radiotelegrafista. No intervalo das viagens namorou uma vizinha, a contragosto da mãe. Casou-se com a jovem, mas três meses após a união rompeu com a esposa. Foi internado em 1930, aos 24 anos, iniciando seus trabalhos no ateliê de pintura logo após sua implantação, em setembro 1946. A linguagem verbal de Isaac é truncada e repleta de neologismos, no entanto, a linguagem plástica é fluída e conexa. Isaac utiliza-se do símbolo da árvore para representar seu relacionamento com a mãe. A árvore é protetora e nutridora, mas também pode sufocar o desenvolvimento de outras plantas. Ela, isolada, no contexto da vida de Isaac, parece representar seus impulsos para afirmar-se como indivíduo. A imagem da mulher é também constante em suas pinturas.  É como se ele tentasse, pelo estudo das diferentes expressões, se aprofundar no conhecimento do feminino. Produziu amplamente até sua morte, em 1966, aos 60 anos. Veja o verbete de Isaac na Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras.