TRANSFORMAÇÃO
Essa palavra é uma síntese daquilo que mais me inspira em Paulo Freire. Na minha experiência como educadora, como pessoa, como mulher no e com o mundo, a transformação é um desejo central, uma busca permanente das práticas e das ideias, e das ideias sobre as práticas. Freire nos relembra que os encontros devem ser feitos de sujeitos que inventam, que criam e recriam o mundo, transformando-o. É na direção desse horizonte, desse sonho, que me movo dia a dia como educadora-educanda inacabada que sou.
– Mônica Abreu
LIBERDADE
“O gosto da liberdade e o respeito à liberdade dos outros; a vontade de ajudar seu povo a ajudar-se, a mobilizar-se, a organizar-se para reperfilar sua sociedade. Um claro sentido da oportunidade histórica, oportunidade que não existe fora de nós próprios, num certo compartimento do tempo, à espera de que vamos a seu encalço, mas nas relações entre nós e o tempo mesmo, na intimidade dos acontecimentos, no jogo das contradições. Oportunidade que vamos criando, fazendo na própria história. História que nos castiga quando não aproveitamos a oportunidade ou quando simplesmente a inventamos na nossa cabeça, sem nenhuma fundação nas tramas sociais.”
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. p. 87.
– Letícia Santos
JUSTIÇA
A minha escolha vem de uma fala dada em uma entrevista por Paulo Freire que mais me tocou: “Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso. Eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade.”
– Karina Fogaça
COERÊNCIA
Coerência é uma palavra importante na minha forma de experimentar a vida. Uma frase que resume bem isso vem do livro Pedagogia da autonomia, de Paulo Freire, que sempre levo comigo: “É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática”.
– Amanda Lopes
PALAVRA
Houve um momento em que descobri o peso e a expectativa que eu colocava na palavra. Nas ditas por mim e nas que eu recebia. Tive de lidar com frustrações de palavras ao vento, vazias de práticas e intenções. Também percebi ser possível e delicioso trazer à boca, para fazer dela desaguar, palavras que encantavam, catadas de poemas e romances que me apraziam e não mereciam somente a minha morada.
Sei que Paulo Freire teve em vida o tanto que se deu a todas elas. Em transcendência pelo amor que nutriu; em constante diálogo com as gentes por acreditar ser necessário “crescer e permutar” com o humano. E, acima de tudo, porque via nelas uma forma de erigir um mundo, veja bem, reescrito. Palavra. Um mundo transmutado pela leitura.
Quando penso em palavra, é como se ela não se coubesse em si nem para ser dita. Como se em significância carregasse tudo o que existe, míngua e falha e, além, aquilo que ainda não alcançamos elaborar. Eu me assombro. Sou seduzida. É por ela e com ela que caminho. Reescrevendo mundos. Com e sem aspas, Paulo.
– Milena Buarque
INÉDITO
Li Pedagogia do oprimido quando adolescente e um conceito que ficou comigo foi o “inédito viável” ou “inédito possível”. Era a ideia de que toda situação tinha seu respectivo horizonte, de que a toda ação presente – limitada pelo jogo de forças, pela capacidade atual de quem age ou outras circunstâncias – correspondem futuros factíveis, menos fechados, mais vivos. Sendo assim, a nossa tarefa seria sempre saber ver que caminhos, quem sabe escondidos, estão disponíveis para alargar a liberdade, a felicidade. E aí então saber percorrê-los. Creio que esse é um ensinamento político crucial; me lembra os filósofos Adorno e Horkheimer, que nos aconselhavam a ser “pessimistas teóricos e otimistas práticos”. Por outro lado, é uma concepção que se alinha com o que gostaria de ser capaz de seguir no que produzo. Uma vez disseram que a marca da obra de Caetano Veloso era a sua tendência, sua força de “nunca repetir um registro”. Isso é lindo. Gosto dos escritores, dos músicos que, quando você vai ver, “não estão lá” (para citar o filme sobre o sete-peles Bob Dylan) onde se espera que estejam. Esses artistas, esses pensadores – Paulo Freire incluído – se perguntam: qual o passo de agora? E dão esta resposta: um passo que nunca tenha sido dado. Quando era criança, vi em uma agenda do meu avô uma citação de Nietzsche: “Para que servem livros que não nos levam além de todos os livros?”. Nem sei se nosso amigo de bigode disse isso mesmo. Porém veja a potência disso. Talvez eu não tenha saído da sombra (da luz?) dessa frase – e por isso leio o “inédito viável” de Paulo Freire também como uma conclamação: de que serve uma ação política, intelectual, artística que não leve além de todos os passados?
– Duanne Ribeiro
REINVENÇÃO
O grande ensinamento de Paulo Freire para mim é a sua provocação para a reinvenção. Reinventar é revolucionar. É resistir de formas novas. É se enxergar no mundo e em todas as relações sociais – na família, no trabalho, na escola, na comunidade, no estado –, conhecer o contexto e transformar a sua realidade, junto com o coletivo, em busca de uma existência autônoma e libertadora.
“No fundo, o essencial nas relações entre educador e educando, entre autoridade e liberdades, entre pais, mães, filhos e filhas é a reinvenção do ser humano no aprendizado de sua autonomia” (em Pedagogia da autonomia).
“O conhecimento, pelo contrário, exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica em invenção e em reinvenção” (em Extensão ou comunicação?).
– Camila Fink
SAUDADE
A saudade, para mim, é mais que uma palavra. Ela anda de mãos dadas comigo, faz parte do que sou por, pelo menos, metade da vida. Desde que passei a morar longe da família, desde que saí da cidade natal, percebi que a saudade é um sentimento que nos transforma. Viramos o que somos de acordo com a relação que temos com a saudade. A saudade que sentimos de uma pessoa ou de um lugar não passa: ela faz de nós outros. Se as palavras geradoras, em Paulo Freire, serviam de base para as aulas e lições, não poderia ter outra escolha. Essa é a palavra que mais me ensinou até aqui.
– Fernanda Castello Branco
SONHO
“Eu diria a nós, como educadores e educadoras: ai daqueles e daquelas, entre nós, que pararem com a sua capacidade de sonhar, de inventar a sua coragem de denunciar e de anunciar. Ai daqueles e daquelas que, em lugar de visitar de vez em quando o amanhã, o futuro, pelo profundo engajamento com o hoje, o aqui e com o agora, ai daqueles que em lugar desta viagem constante ao amanhã, se atrelem a um passado de exploração e de rotina.”
FREIRE, Paulo. Educação: o sonho possível. In: BRANDÃO, Carlos R. (Org.). O educador: vida e morte. Rio de Janeiro: Graal, 1982
– Tayná Menezes