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Mariinha torna-se Tônia Carrero

Tônia Carrero no espetáculo Constantina, de 1974. Acervo da família

Tônia Carrero no espetáculo Constantina (1974) | foto: acervo da família/autoria desconhecida

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Ocupação Tônia Carrero – teaser em Libras

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“Me batizaram Maria Antonieta. Chamaram-me Mariinha a infância inteira. (Até hoje sou Mariinha para os íntimos.). Tônia foi invencionice pura” – Tônia Carrero no livro de memórias “O monstro de olhos azuis” (1986).

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O glamour e o it de Tônia Carrero

por Gabriela Soares Cabral

Beleza, glamour, it, fotogenia e sex appeal são as características essenciais que uma diva deve possuir para alçar seu nome à constelação de estrelas do cinema, do teatro ou da televisão. Embora possuam significados distintos, esses termos são utilizados para designar o mesmo objetivo de fascinar e suscitar alguma espécie de desejo no espectador, indicando uma imagem de sedução, sofisticação, luxo, elegância e charme, relacionados não só à beleza física, mas também ao prestígio e ao sucesso. Atributos, então, reservados para algumas (poucas) pessoas: aquelas dotadas de uma capacidade de provocar fascinação, deslumbramento e encantamento no público.

Aliadas ao talento, são essas as qualidades que acompanharam o nome de Tônia Carrero durante sua trajetória. A atriz, que alcançou sucesso nas três vertentes em que atuou – cinema, teatro e televisão –, teve seu início e sua consagração nas salas escuras de exibição, estreando em 1947 no filme Querida Suzana, produzido pela Cinelândia Filmes e dirigido por Alberto Pieralisi. Tônia não teria falas na película, seria apenas uma figurante, porém, ao insistir com o diretor, acabou conseguindo uma participação mais expressiva, tendo seu nome listado nos créditos e ganhando destaque na mídia.

Nesse contexto, o Brasil passava por mudanças políticas e econômicas advindas do primeiro governo Vargas (1930-1945), que impactariam o cenário cultural do país, acarretando as primeiras tentativas de uma industrialização da cinematografia nacional. Assim, surgem experiências cariocas como a Cinédia (1930), a Brasil Vita Filme (1934) e a Sonofilmes (1937), estúdios que propunham um cinema brasileiro com padrão internacional de qualidade, o que na prática significava a cópia do modelo de produção serializada de Hollywood. Entre essas empresas, a Cinédia foi a que mais se aproximou dos moldes norte-americanos, ao desenvolver fórmulas prontas de comédias musicais também chamadas chanchadas, que mais tarde, nos anos 1940, foram adotadas pela Atlântida Cinematográfica (1941-1962) de forma massificada e alimentaram o cinema nacional durante 20 anos.

A imprensa teve um papel importante na tentativa de emplacar os estúdios criados nesse período. Assim como ocorria no modelo hollywoodiano, os impressos especializados em cinema da época, chamados de revistas de fãs, também utilizavam a figura das estrelas para a promoção de suas produções, um mecanismo conhecido como estrelismo. Desse modo, embora a cinematografia nacional industrial tenha tido dificuldades para se consolidar, a imprensa divulgava seus filmes por meio do sistema de estrelas, apresentando o galã ou a pinup da quinzena. Esse fato também pode ser observado na trajetória de Tônia, pois, concomitante ao lançamento de Querida Suzana, a 16ª edição da revista Scena Muda já anunciava, em reportagem assinada por Roberto Ruiz: “Uma nova estrêla do cinema nacional”. Em página dupla, discorria-se sobre a vocação da nova atriz e os seus possíveis próximos passos. É nesse momento que ela deixa de lado o nome Maria Antonieta Portocarrero para se tornar de vez Tônia Carrero.

Tônia se destacava por sua beleza, que lhe abriria portas: Fernando de Barros (1915-2002), encantado por suas feições, a convidaria para participar dos filmes Caminhos do Sul (1949) e Quando a noite acaba (1950), posteriormente intitulado Perdida pela paixão. Nesse meio-tempo, a atriz também se enveredava para os caminhos do teatro, estrelando Um Deus dormiu lá em casa (1949), de Guilherme Figueiredo, com direção de Silveira Sampaio, obra que seria o ponto de partida para diversos espetáculos da dupla.

Em 1950, período em que a comédia carioca se cristalizava, surgiu em São Paulo a Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Criada após a Segunda Guerra Mundial e a ditadura do Estado Novo, contexto em que São Paulo vivia um momento de efervescência cultural e, consequentemente, de crescente interesse pelo cinema, a empresa trazia a proposta de fazer filmes voltados para um público mais elitizado, de modo a concorrer com a Atlântida e suas populares chanchadas. Assim como a rival, a Vera Cruz tentou implementar um estrelismo brasileiro também inspirado nos moldes de Hollywood. A companhia foi a primeira a adotar um Departamento de Publicidade, setor responsável por expedir matérias para veículos de comunicação de todo o país acerca de suas produções e suas estrelas.

Tônia Carrero também estrelou ao lado do elenco da Vera Cruz, atuando nos longas Appassionata (1952), de Fernando de Barros, Tico-tico no fubá (1952), de Adolfo Celi (1922-1986), e É proibido beijar (1954), de Ugo Lombardi (1911-2002). Embora fizesse parte do elenco de uma das principais companhias cinematográficas do país, a atriz continuou se dedicando ao teatro e, em 1953, integrou o grupo do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). A partir dos anos 1960, ela também ingressou na carreira televisiva.

Entre as estrelas lançadas pela companhia em questão, Tônia era um dos destaques. É uma das poucas atrizes de cinema que surgiram nos anos 1940 e 1950 e ainda permanecem no imaginário do público brasileiro. Apesar de ter estendido sua carreira de atriz para os palcos de teatro do eixo Rio de Janeiro-São Paulo, e posteriormente para a televisão, é preciso lembrar que Tônia chegou à telinha das casas de todo o Brasil já consagrada como estrela.

No cinema, ela dava vida a personagens glamourosas e sensuais que se dilatavam para fora da ficção, para as páginas de revistas e jornais. Os impressos traziam desde a sua presença constante em pré-estreias, coquetéis e eventos sociais até a sua vida pessoal, com separação, filhos e romance sendo temas para os cronistas de plantão. Sua aparência também incorporava a elegância. Seus figurinos, dentro e fora das telas, exibiam frequentemente peças de roupas e joias que, desde a década de 1930, já eram usadas para simbolizar o glamour e a sensualidade nos filmes hollywoodianos.

Tal imagem de diva acompanharia a atriz ao longo de sua vida. Nas telenovelas em que atuou, como Pigmalião 70 (1970), Água viva (1980) e Sassaricando (1987), ela também interpretava mulheres ricas, elegantes e luxuosas. Além disso, em fevereiro de 1981, Tônia foi tema de um número especial da edição brasileira da Vogue, revista que desde o surgimento é voltada para a moda e os estilos de vida associados ao luxo. Ela foi a primeira atriz (e uma das poucas) a ser contemplada pelas edições temáticas do impresso, aparecendo em suas páginas aos 58 anos de idade, fotografada por J. R. Duran, num editorial de moda em que os mesmos códigos de glamour e sex appeal do início de sua carreira ainda são vistos.

 

Gabriela Soares Cabral é graduada em comunicação social, pós-graduada em moda, cultura de moda e arte e mestra em arte, moda: história e cultura, pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), além de doutoranda em arte, moda: história e cultura, também pela UFJF. Sua dissertação de mestrado A construção midiática de Tônia Carrero em a Scena Muda e o Cruzeiro: representações de glamour e sex-appeal (1947-1955) analisa as representações da atriz como estrela cinematográfica brasileira nas revistas O Cruzeiro e Scena Muda, abrangendo o período entre 1947 e 1955, momento em que Tônia despontava como estrela de cinema, impulsionada também pela imprensa.

Para ler a dissertação, acesse o link.

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Tônia Carrero como estudante da Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD) da então Universidade do Brasil, atualmente Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Acervo da família

Tônia Carrero como estudante da Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD) da então Universidade do Brasil, atualmente Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) | foto: acervo da família/autoria desconhecida

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“Tinha uns sete anos, dançava como uma borboletinha e pedi à minha mãe para estudar ballet.

Deus me livre! – ela disse. Se eu descuido, essa menina acaba no palco.

Assim, minha mãe, D. Zilda, me revelava a vida, como se fora uma vidente, e prevendo não só o meu futuro, mas o de toda uma família pós-Tônia, dedicada e apaixonada pelo teatro.”

Tônia Carrero no programa do espetáculo Um equilíbrio delicado (1999).

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Ser diva e culta – Ocupação Tônia Carrero (2022)

Lucélia Santos fala sobre o início de sua carreira como atriz e as influências de Tônia e de outros atores de sua geração em seu trabalho. Ela também conta da convivência pessoal e profissional com Tônia, destacando a sua inteligência e o imaginário de diva a ela associado.

Depoimento gravado em maio de 2022.

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“Para os seus triunfos na tela de cinema e, depois, no palco, o grande segredo de Tônia Carrero foi continuar Mariinha. Seu segredo e sua força. Mudou de nome, sem, porém, prescindir do que lhe é peculiar, aquilo que nos meios familiares os seus amigos e admiradores mais apreciavam nela: a simplicidade e a graça natural, a sensibilidade e o dom de simpatia humana, qualidades que, nas mulheres bonitas, têm o poder de tornar-lhes a beleza menos esmagadora e mais cativante” – Aníbal Machado, no livro “Amigos para sempre” (2019).

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Tônia Carrero

foto: acervo da família/autoria desconhecida