Projeto apoiado pelo Rumos explora questões como o que significa pertencer ao Brasil e o que é criar arte hoje
Publicado em 02/09/2019
Atualizado às 17:41 de 03/09/2019
por Tatiana Diniz
Poetisa e cineasta, a baiana Letícia Simões viu seu caminho atravessar cidades, países, pessoas e áreas artísticas sem nunca se afastar muito do cinema e da literatura. “Desde muito nova, sempre escrevi e quis escrever poesia. Meu interesse pelo cinema foi sedimentado com os anos e, particularmente, possui uma relação muito profunda com a escrita”, explica.
Na bagagem, já vão três longas-metragens documentais (Bruta Aventura em Versos, Tudo Vai Ficar da Cor que Você Quiser e O Chalé é uma Ilha Batida de Vento e Chuva) acerca de escritores marginalizados à visão da historiografia da literatura brasileira: Ana Cristina Cesar, Rodrigo de Souza Leão e Dalcídio Jurandir.
A trilogia da literatura ocupou dez anos da vida de Letícia. Ao longo desse período, também trabalhou para diretores e diretoras em funções diversas. Escreveu Construindo Pontes para Helo Passos, foi dialoguista em Paterno, de Marcelo Lordello, e roteirista na série Meninas do Benfica, dirigida por Roberta Marques, entre outros trabalhos.
Desde 2015, atua como diretora-assistente e colaboradora do renomado roteirista Hilton Lacerda. “Trabalhar com Hilton é questionar diariamente a construção cinematográfica e a minha posição, enquanto realizadora, diante do mundo que estou retratando. É desafiador e instigante”, observa.
Na edição 2017-2018 do Rumos Itaú Cultural, ela desenvolve o projeto Como Construir uma Casa. “Entre 2014 e 2015, morei por algum tempo fora do Brasil. Estava desgostosa com meu trabalho, pensando em mudar radicalmente de rumo profissional, com certa ojeriza ao país”, relata.
Na Espanha, ficou dois meses dando aulas de videoarte para jovens, depois fixou-se na Alemanha por outros cinco meses. “Lá, coloquei um anúncio nos classificados de Berlim que dizia assim: ‘Se você não se sente confortável com o lugar onde vive e trata disso em sua criação artística, escreva-me – quero filmá-lo’. Para minha surpresa, muitas pessoas me escreveram e fui ao encontro delas. Inicialmente, filmávamos uma entrevista, e depois eu solicitava que criassem algo a partir da conversa”, explica.
Os encontros inesperados terminaram por indicar caminhos e desenhar respostas. Quando retornou ao Brasil, Letícia já trouxe a ideia do próximo filme, que se chamaria Casa. Escreveu “uma longa carta de amor” a uma das pessoas que mais admira para pedir ajuda na concepção do projeto, João Vieira Jr., hoje produtor de todos os seus filmes. A partir daí, começou a investigar esta indagação: o que é pertencer?
Como Construir uma Casa é um passo após Casa. Se no filme anterior a diretora investiga suas relações ancestrais para compreender afetos, identidades, diferenças e semelhanças, agora ela busca pessoas com quem nunca teve contato para delinear melhor questões como o que significa pertencer ao Brasil; o que é criar arte hoje; e por que insistir.
O filme parte de uma nova jornada de encontros e, por meio das conversas e das criações artísticas que cada um dos entrevistados propõe, a narradora toma suas decisões ao longo de cerca de 80 minutos. O título ainda é provisório.
A distribuição será realizada pela Olhar de Cinema Distribuidora de Filmes, empresa brasileira que atua no mercado cinematográfico lançando obras nacionais e internacionais. Após as exibições em salas de cinema como primeira janela, a Carnaval Filmes, produtora do projeto, irá criar estratégias para licenciar o documentário a canais de TV por assinatura.