Contemplado pelo programa Rumos 2015-2016, o projeto Reator Eterno surgiu da vontade de seu idealizador, Nando Lima, de investigar a...
Publicado em 26/09/2016
Atualizado às 10:32 de 03/08/2018
Contemplado pelo programa Rumos 2015-2016, o projeto Reator Eterno surgiu da vontade de seu idealizador, Nando Lima, de investigar a história da família Lima de Queiroz e seus mais de cem anos vivendo na Travessa 14 de Abril, no bairro São Brás, em Belém.
Nando Lima é da família Lima de Queiroz. O performer começou frequentando grupos de teatro em Belém nos anos 1980, morou por um período em São Paulo – onde trabalhou no Teatro Municipal e também em lugares mais undergrounds. O artista atua ainda na construção de cenografias, vídeos, dramaturgias e performances.
A partir da proposta inicial do projeto e da investigação dos bairros São Brás e Fátima, Nando ultrapassou as fronteiras da família, propondo-se a contar parte das histórias do local em performances que misturam vídeo, música, teatro e fotografia, criadas a partir de lembranças contadas por moradores antigos e novos da região.
Essas performances, chamadas de Passeio das Lembranças, tomam conta das ruas daqueles bairros nas próximas semanas, de 28 de setembro a 22 de outubro. Serão dois trajetos, que contam diferentes histórias com variadas intervenções: “O Rio Submerso” e “O Trilho Inverso”. Veja os horários das apresentações no final da matéria.
Além disso, uma instalação fica em cartaz no Estúdio Reator no mesmo período. A Instalação das Lembranças foi construída também a partir da memória dos moradores e busca mostrar um pouco das mudanças ocorridas na região com imagens, vídeos e sons.
Na entrevista abaixo, Nando nos conta um pouco do Reator Eterno.
Como você pensou no projeto?
O Estúdio Reator é a minha casa, é onde moro há 10 anos. Na verdade, quando voltei aqui para este endereço na Travessa 14 de Abril, em Belém – a casa da minha família desde 1913 –, me dei conta de que, por muitos anos, essa casa havia tido uma dinâmica intensa, sendo moradia, ateliê de costura, oficina, loja, entre outras coisas, sempre com atividades de pessoas da minha família que aqui moraram e trabalharam. Isso gerou a ideia de contar –partindo da visão do Estúdio Reator, o espaço que eu estava montando aqui – essa história e seu reflexo na dinâmica da cidade.
Você poderia falar um pouco da história da família Lima de Queiroz?
É uma família comum, pai operário, mãe que trabalhava em casa costurando para ajudar a manter sete filhos, vivendo nesta parte do país, no Norte, em Belém, com todas as delícias e as mazelas de uma família grande, vivendo num lugar explorado por um sistema que já nasceu defeituoso.
E como o projeto vem se desenvolvendo? Está sendo de acordo com a sua expectativa? Você está conseguindo fazer o que imaginava?
Logo que comecei a executar de fato o projeto Reator Eterno, percebi que a ideia é muito potente. Quando começamos a tirar a história do umbigo da família e relacionar com épocas e acontecimentos públicos e com o cotidiano da cidade, descobri um emaranhado de detalhes, situações e configurações espaciais extremamente provocadoras, e decidi que era preciso focar alguns detalhes da história da família e dos bairros São Brás e Fátima, para que pudéssemos – eu e os outros artistas que estão trabalhando no projeto – construir uma obra com alguma consistência, capaz de entrar em diálogo com o público.
Como a performance, o teatro e o vídeo intervêm para contar essa história?
As ferramentas dessas linguagens estão sendo o veículo de comunicação dos assuntos em que queremos tocar, como temas que surgiram a partir das fotos da família, da casa e da paisagem humana e arquitetônica dos bairros. E sabemos agora que será preciso pensar no fluxo do tráfego dos carros, dos vendedores ambulantes e de tudo o mais que vai estar na rua no momento em que acontecem as performances. Teremos que, dentro do nosso programa de imagens, sons e cenas, ter atenção extrema para as interferências da rua, pois isso vai acontecer com certeza.
Você poderia falar um pouco da sua relação com a casa e com os bairros São Brás e Fátima?
Minha avó veio morar neste endereço em 1913 e meu pai nasceu nesta casa, casou e criou nossa família aqui. Todos nós – somos sete irmãos –, em algum momento da vida, fomos embora da casa. E todos nós, de alguma maneira, retornamos aqui para este lar. Eu saí aos 18 anos de idade e voltei aos 43, conheço o bairro em cada detalhe e vi, como antes viram minha avó e meus pais, mudanças enormes acontecendo, a vida seguindo e fluindo com a cidade, para o bem e para o mal também. Vi e sofri por várias histórias desta casa, desta rua, do bairro, da cidade, é simplesmente minha vida... E de muitos outros!
FICHA TÉCNICA
Direção e coordenação geral Nando Lima | Performers Pedro Olaia, Dudu Lobato, Wan Aleixo, Bernard Freire, Nando Lima e Vandiléia Foro | Entrevistas Pedro Olaia | Câmera e fotos Dudu Lobato | Trilha sonora Armando de Mendonça | Roteiro de performance Nando Lima e Pedro Olaia | Design gráfico Wan Aleixo | Textos (site/blog/imprensa) Bernard Freire | Expografia Nando Lima | Instalação e montagem Pedro Olaia, Dudu Lobato, Wan Aleixo, Bernard Freire e Nando Lima | Figurino Telma Lima | Edição de vídeo Nando Lima | Montagem de iluminação Nelson Dantas | Contrarregra Oiran Rocha | Recepção Wan Aleixo e Bernard Freire | Produção e realização Estúdio Reator | Agradecimentos Moradores dos bairros São Brás e Fátima; Abílio Franco e Cincinato Marques Jr.
PASSEIO DAS LEMBRANÇAS
O Rio Submerso
quarta 28 e sexta 30 de setembro de 2016 | 19h
quartas 5, 12 e 19 e sextas 14 e 21 de outubro de 2016 | 19h
O Trilho Inverso
quinta 29 de setembro de 2016 | 19h
sábados 1, 15 e 22, terça 4 e quintas 6, 13 e 20 de outubro de 2016 | 19h
INSTALAÇÃO DAS LEMBRANÇAS
Visitação
quarta 28 de setembro a sábado 22 de outubro de 2016
das 14h às 19h