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Rumos 2013-2014: Artista circense supera medo de altura e muitos desafios

selecionados: Júnior De Oliveira e Nicole Rodrigues Um artista de circo que se apresenta a 4,5 metros do chão, mas tem medo de altura?...

Publicado em 06/10/2014

Atualizado às 21:01 de 02/08/2018

obra: Residência Artística Brasil-Bélgica
selecionados: Júnior De Oliveira e Nicole Rodrigues

Um artista de circo que se apresenta a 4,5 metros do chão, mas tem medo de altura? Parece contraditório, mas ele existe e atende pelo nome de Júnior De Oliveira. Ao lado da namorada Nicole Rodrigues, que forma com ele uma dupla também no picadeiro, o artista embarca agora em setembro para uma residência artística de dois meses em Bruxelas, na Bélgica. Eles vão aperfeiçoar uma técnica pouco utilizada no Brasil, que é realizada em um aparelho de acrobacias aéreas chamado quadrante.

Antes de voar nessa viagem, porém, é preciso voltar no tempo para entender como um jovem que pretendia ser professor largou tudo para encontrar o seu caminho profissional debaixo de uma lona.

Nascido e criado em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, Júnior sempre gostou de atividades artísticas. No Ensino Médio, participou de um grupo de teatro e depois integrou a Cia. Circo do Mato, onde aprendeu técnicas de malabarismo e palhaço. Até aquele momento, ele queria ser professor e chegou, inclusive, a cursar a faculdade de Letras.

A sua trajetória mudou durante uma viagem para Londrina (PR) aos 19 anos de idade, quando foi participar de um festival circense. Júnior já tinha saído da companhia de circo para formar com mais dois amigos um trio de palhaços. “Conheci a Escola de Circo de Londrina e aí decidi que era o que eu queria fazer da vida”, relembra.

Dois meses depois, ele participou de um processo de seleção para ingressar na escola. Ficou em 26º lugar, mas apenas 20 vagas estavam disponíveis. O jeito foi esperar durante três meses por desistências. Nesse período, morou em uma república e sobrevivia fazendo malabarismo nos semáforos e outras apresentações na rua. “À noite tinha um curso livre de circo, que era pago, mas o diretor da escola (Sérgio Oliveira) me deu uma bolsa para que eu fosse treinando”, contou.

Ao iniciar as aulas, uma de suas companheiras de turma era Nicole, que com 15 anos queria aprender acrobacias. O namoro não começou logo de cara. “No começo não nos falávamos muito, porque as técnicas que fazíamos eram um pouco diferentes. Eu treinava malabarismo, pirofagia, palhaço. Nicole fazia contorcionismo, parada de mão, acrobacias aéreas.”

Apenas dois anos depois, eles começaram a trabalhar mais juntos, porque ambos foram chamados para integrar a Trupe Aereo Circus, grupo formado por professores e alunos que se destacavam na escola. Apesar da aproximação, o namoro só engatou tempos depois. Da turma de 20 alunos, apenas quatro chegaram até o final do curso. “Aí tivemos que nos juntar para criar um número final, de formatura”, conta Nicole.

A dupla teve a ideia de usar o quadrante no espetáculo. Embora não muito comum no país e mesmo sem poder contar com o auxílio dos professores, uma vez que eles também desconheciam as técnicas do aparelho, o casal foi construindo o espetáculo a partir do que observavam em vídeos encontrados no YouTube.

Logo depois da formatura, eles ficaram sabendo que a holandesa Lila Hartmon, especialista em quadrante, daria uma oficina do aparelho em São Paulo. Para pagar o curso, foram para os semáforos de Londrina fazer malabarismos. “Juntamos uns R$ 300 em moedas e nem deu tempo de trocar. Chegamos no curso com as moedas mesmo”, recorda Júnior.

O esforço valeu a pena. Por motivos diversos, no entanto, eles ficaram praticamente um ano sem ensaiar juntos. Até que surgiu a oportunidade de uma bolsa para fazer aulas na Escola Nacional de Circo, no Rio de Janeiro. “Eram 30 vagas e a avaliação era individual. Por sorte, nós dois conseguimos entrar”, conta Nicole.

Foram mais três meses sem treinar no quadrante, apenas cumprindo um currículo básico. Depois desse período, eles poderiam escolher o que praticar. E, após enfrentarem certa resistência dentro da própria escola, conseguiram praticar o que queriam, o quadrante.

Encerrado o curso da bolsa, foram convidados a continuar os estudos de forma regular na Escola Nacional de Circo. Também já apresentam espetáculos no aparelho. No Brasil, apenas outras cinco duplas fazem o mesmo.

A ideia da residência na Bélgica é justamente aperfeiçoar a técnica e disseminar esse conhecimento no país por meio de oficinas e espetáculos. A dupla vai estudar no Atelier Du Trapèze com o professor da Escola Nacional das Artes do Circo (ESAC), o russo Yuri Sakalov, referência para o casal.

Embora possa parecer paradoxal, Júnior diz que se sente seguro no aparelho. Na dupla, ele cumpre a função de portô, que é quem fica no quadrante garantindo o suporte ao acrobata, no caso Nicole, que executa os movimentos de voos e acrobacias.

Mas por que, afinal, escolher o quadrante? Ambos apontam para o desafio de se apresentar em um aparelho difícil e pouco conhecido no Brasil. Para Júnior, é mais do que isso. “Eu já comecei no circo um pouco velho. Fazia malabarismo, era palhaço, coisas que são comuns. Não tenho uma boa flexibilidade, não tenho um porte bom para acrobacia aérea, tenho medo de altura. Mas eu queria fazer um número que tivesse mais impacto.”

Clique aqui e veja a apresentação da dupla no Festival Internacional de Circo, realizado no Rio de Janeiro neste ano. Leia mais no blog da dupla de artistas.

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